CRÍTICA

Adelaide Freitas: da Literatura Açoriana e Norte Americana

Adelaide Freitas é um nome que não carece de apresentação nos Açores, mas outro tanto não poderá dizer-se no continente. Tendo nascido em 1949, na Achadinha do Nordeste, a mesma localidade da ilha de São Miguel em que nascera, dois meses antes, João de Melo, que haveria de ser seu companheiro na escola primária e, mais tarde, objecto dos seus trabalhos ensaísticos, terminado o liceu em Ponta Delgada, vai graduar-se na Southeastern Massachusetts University, em Darmouth, bem como na City University of New York, regressando, mais tarde, aos Açores onde completará o doutoramento sobre a obra de Hermann Melville em 1987. Pode dizer-se que desde essa altura a Baleia Branca não mais a abandonou.

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“O Lugar das Coisas Perdidas”, de Susana Piedade

O Lugar das Coisas Perdidas, o segundo romance de Susana Piedade, publicado pela Oficina do Livro, segue-se a As Histórias Que não Se Contam, finalista do Prémio Leya 2015.

Numa vila do Norte, onde há não muitos anos caiu uma ponte, dá-se uma catástrofe que faz o lugar estremecer «como um sismo» (p. 82) quando Alice, com 8 anos, desaparece a caminho da escola. E essa vila sem nome (ainda que a possamos associar a Entre-os-Rios), que «parecia inabalável na sua quietude provinciana» (p. 39), é abalada pelo desaparecimento da menina, tragédia cujo impacto toca todos os vizinhos e revolve até segredos de décadas.

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/ / Crítica, Susana Piedade

A Menina com os Olhos Ocupados, de André Carrilho

Menina com os Olhos Ocupados, publicado pela Bertrand Editora, com texto, ilustrações e grafismo de André Carrilho, vencedor do Grande Prémio do World Press Cartoon 2015 e cartunista, ilustrador, animador e caricaturista de reputação internacional, é a sua estreia na literatura infantil com um livro que é, também, uma chamada de atenção aos adultos.

André Carrilho, criador quer de ilustrações tão belíssimas como a menina que pinta um arco-íris com um cravo de Abril quer de caricaturas da actualidade, presenteia agora o universo da literatura infantil com um belíssimo álbum escrito em verso, cheio de cores vibrantes em aguarela a traçar imagens que surgem num turbilhão imaginativo, onde convoca todo um mundo de magia e pequenas maravilhas com vista a impressionar a menina que atravessa as várias páginas do livro sem nunca levantar os olhos do seu precioso ecrã de telefone.

A menina «dorme de olhos abertos, ainda em jejum», tão hipnotizada pelo telefone que não vê a carrinha dos gelados, não dá pelos cães que a perseguem, não vê girafas e elefantes, passa sobre golfinhos que a chamam para a brincadeira, não vê piratas «sujos e maus», nem ursos que a querem abraçar, nem discos voadores que a raptam para poder ver cometas, estrelas ou planetas, nem o astronauta que lhe dá boleia de volta à Terra e a larga num circo.

Enquanto os próprios pais se deixam vergar à vontade dos filhos, tentando adormecê-los pela imagem animada, o autor faz uma elegia à infância que todos nós, miúdos e graúdos, temos vindo a perder à medida que nos deixamos imergir na tecnologia facilitadora e facilitista.

André Carrilho foi galardoado com mais de 30 prémios nacionais e internacionais e participou em exposições coletivas e individuais em Portugal, Espanha, Brasil, França, República Checa, China e EUA. O seu trabalho é publicado no New York Times, The New Yorker, Vanity Fair, Harper’s Magazine e Diário de Notícias, entre outros. Em 2015, foi galardoado com o Grande Prémio do World Press Cartoon. Paulo Serra

[texto publicado originalmente no jornal Postal do Algarve, edição de 15 de Setembro de 2020]

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O Diabo foi Meu Padeiro, de Mário Lúcio Sousa

A leitura de O Diabo foi Meu Padeiro, de Mário Lúcio Sousa, publicado pela Dom Quixote, pareceu-me a melhor forma de assinalar o 25 de Abril.

A Colónia Penal de Chão Bom, ou Campo de Concentração, no Tarrafal, criada durante o Estado Novo na ilha de Santiago, em Cabo Verde, foi estreada em 1936 com centena e meia de prisioneiros políticos vindos da metrópole, que era preciso afastar e punir como exemplo. As exímias condições de vida dos encarcerados (sem água, sem comida, sem higiene, sujeitos ainda a doenças tropicais e a torturas) são conhecidas, para quem leu aqueles que por lá passaram (como Luandino Vieira), aqui recontadas por este autor cabo-verdiano nascido justamente no Tarrafal, em 1964.

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Margarida Espantada, de Rodrigo Guedes de Carvalho

Todos nós já assistimos, provavelmente, às consequências que a depressão pode ter em quem nos é próximo. Possivelmente até já a conheceram por dentro, na própria pele, ou de perto, com familiares ou amigos. Eu sei que passei dias a observar alguém que se sentava em silêncio na sala e ficava a fitar a televisão, umas vezes sem som, outras desligada. E ficava assim todo o dia, levantando-se quase de tarde e rondando a casa durante a noite. Para adormecer a dor era preciso adormecer a mente. E para muitas pessoas, a depressão é apenas uma “mania”, uma moda, um ócio de gente desocupada… Até que calha acontecer-lhes. Mas a verdade é que pode inclusive matar, como aconteceu há bem pouco tempo com o suicídio de mais uma figura pública.

Depois de Jogos de Raiva O Pianista de Hotel, o novo romance de Rodrigo Guedes de Carvalho, Margarida Espantada, publicado pela Dom Quixote, é descrito pelo autor como uma história sobre família, mas também sobre «violência doméstica e doença mental. É um efeito dominó sobre a dor.»

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Fernão de Magalhães – O Homem que se Transformou em Planeta, de Luís Almeida Martins

Fernão de Magalhães – O Homem que se Transformou em Planeta, uma edição da Imprensa Nacional Casa da Moeda, com texto de Luís Almeida Martins e ilustrações de António Jorge Gonçalves, assinala a comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães.

Para contornar o problema de ter de escrever sobre uma personagem histórica de há 5 séculos, o autor-narrador contorna o problema, evocando o fantasma de Fernão de Magalhães ou o espectro da sua memória para contar, na primeira pessoa, como se tornou no português mais famoso de todos os tempos, neste planeta e noutras esferas vizinhas: «Tão famoso, tão famoso, que o seu nome foi dado a uma galáxia, a uma sonda espacial, a um sistema de GPS, a um modelo de computador, a uma grande cratera de Marte, a um estreito entre dois oceanos, a uma baía, a navios e a aviões da realidade e da ficção»… Deu nome também a uma nave espacial. E ganhou novas vidas como protagonista de jogos de computador.

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Caronte à Espera, de Cláudia Andrade

Cláudia Andrade é a mais recente aposta da Elsinore, editora que discretamente tem vindo a apostar em novas vozes literárias, como João Reis ou Raquel Gaspar Silva, mas  sobretudo em autores que além de inéditos trazem uma nova voz ao panorama literário português, uma assinatura de estilo na sua prosa.

Depois do furor causado pelo seu livro de contos Quartos de Final e Outras Histórias, publicado em Setembro de 2019, considerado um dos melhores livros do ano pela crítica, finalista do Prémio Autores 2020 (Melhor Livro de Ficção Narrativa) da Sociedade Portuguesa de Autores, Cláudia Andrade presenteia-nos agora com o seu primeiro romance, Caronte à Espera, que reafirrma a força da sua voz na literatura portuguesa. (mais…)

Memória do mar, de Manuel Rui

Depois de ter lido o divertido Quem me dera ser onda, que foi aliás agora reeditado em Portugal, sobre os dois meninos que tentam proteger o porco que vive na varanda de um deles de uma matança, tratando-o como a um animal de estimação – é outro livrinho rápido deste autor angolano mas de leitura prazenteira, onde se parece retratar cerca de 500 anos de Angola, como um país ainda perdido e confuso na busca de uma identidade. O livro foi publicado em 1980 e descobri-o por acaso pelo que tive de o ler imediatamente, até porque não é fácil encontrar obras deste senhor. É um livro estranho, que tenta incorrer no fantástico mas mais parece resultar em crítica ou sátira do país. No entanto, não deixa de ter passagens divertidas como esta:

«Ainda a propósito da pastoral de quatro anos depois dos quinhentos, revelou o historiador: chegaram os bispos a lavrar uma acta aditamento. Nela se teciam elogios à senhora de Fátima. Debatia-se a palavra nossa que antecedia senhora e a urgente necessidade de o rosto agora ser pintado de preto, por razões políticas, tendo-se registado também a possível alteração de feições. E, levantada que foi em acta a maka racial, ficou em dúvida se, daí para o futuro, a santa não deveria figurar albina.» (pág. 110) Paulo Serra

 

[texto publicado originalmente, em Outubro de 2016, no blogue Palavras Sublinhadas]

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O vendedor de passados, de José Eduardo Agualusa

Narrado por uma osga, sujeita agora a essa “condição” mas que ainda relembra a sua vida anterior – pelo que parece haver um exercício de metempsicose qualquer ou simples reencarnação – o livro centra-se na personagem de Félix, um vendedor de passados albino, alguém que traça genealogias e toda uma história falsa, em suma, para justificar a ambição do sangue novo que grassa em Angola em que toda uma classe parece ter emergido após a guerra e quer ver as suas origens dignificadas ou mitificadas de alguma forma. Até que Félix aceita um trabalho diferente do normal, em que um indivíduo quer todo um passado inventado, o que só pode mostrar que ou não tem história ou tem história demais e quer fugir do que não consegue deixar para trás. No fim interligam-se várias histórias com um volte-face surpreendente e que revela a história de um país que ainda tem muitas cicatrizes por lamber. Dos livros que li de Agualusa fica-me sempre a sensação, no entanto, que há algo forçado na forma como tenta encaixar as peças do puzzle, ao querer interligar histórias distintas. A preparar-me para ver o filme a seguir. Paulo Serra

 

[texto publicado originalmente, em Outubro de 2016, no blogue Palavras Sublinhadas]

“Epítome de Pecados e Tentações”, de Mário de Carvalho

Breve nota biográfica

Mário de Carvalho nasceu em Lisboa em 1944. Licenciou-se em Direito e cumpria serviço militar quando foi preso. Ligado aos meios da resistência contra o salazarismo, foi condenado a dois anos de cadeia, tendo de se exilar após cumprir a maior parte da pena. Depois do 25 de Abril, em que se envolveu intensamente, exerceu advocacia em Lisboa. O seu primeiro  livro, Contos da Sétima Esfera, causou surpresa pela sua atmosfera fantástica.

Nas diversas modalidades que pratica, foram-lhe atribuídos vários dos principais prémios literários portugueses: Grande Prémio de Romance e Novela (Um Deus Passeando pela
Brisa da Tarde), Conto e Teatro da Associação Portuguesa de Escritores (APE), prémios do Pen Clube Português, Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco, Prémio Fernando Namora, Prémio Vergílio Ferreira em 2008 (pelo conjunto da sua obra), e o prémio internacional Pégaso de Literatura. Em junho deste ano foi distinguido com o Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários da APE pela obra O que ouvi na barrica das maçãs. Mário de Carvalho é considerado um dos mais importantes escritores portugueses da actualidade.
Breve.

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A Ocupação, de Julián Fuks

A Ocupação é o mais recente romance de Julián Fuks, novo autor brasileiro a que convém estar  atento, publicado pela Companhia das Letras. É uma narrativa tão breve quanto fulgurante, onde até as páginas em branco, as pausas de respiração entre a leitura e a escrita, parecem representar o que fica por dizer. Cada palavra é pesada e cada frase um encadeamento perfeito de uma autoficção que vai desfiando em prosa poética a história de Sebastián, num momento crítico da sua vida, entre a morte do pai que se faz próxima e a sua própria paternidade.

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‘Autópsia de Um Mar de Ruínas’, de João de Melo

Esta 9.ª edição, agora revista e reescrita pelo autor (à semelhança do que aconteceu com O meu mundo não é deste reino em 2015), de Autópsia de um mar de ruínas, foi publicada em Fevereiro de 2017. A obra originalmente lançada em 1984 já era, por sua vez, uma nova versão literariamente mais cuidada de um anterior romance, A memória de ver matar e morrer, publicado em 1977. Houve ainda um trabalho de reescrita na 6.ª edição de Autópsia de um mar de ruínas, em 1997, onde são claramente visíveis diferenças na narração de algumas passagens, como acontece logo na abertura do romance. A acção é claramente comum às duas obras, as personagens e os temas são idênticos, mas o processo narrativo e a linguagem (agora mais «fluída») diferenciam, pois a nova obra requeria uma competência linguística e literária maior que apresentasse de forma justa o lado do outro. Porque a experiência colonial traz contacto com o outro, este romance incorpora originalmente e pela primeira vez a voz da alteridade, onde se procura em capítulos alternados (num total de vinte e quatro), apresentar a guerra em Calambata a partir da perspectiva portuguesa e da perspectiva do angolano, num trabalho de linguagem que procura aproximar-se do português falado pelos negros ouvido nas duas sanzalas que rodeavam o quartel, uma constituída por quem tinha relações com o inimigo e a outra com desertores dos movimentos de libertação que decidiam combater do lado dos portugueses. Os quinhentos anos de História e de tradição literária (aqui presentes numa forte intertextualidade, quando se cita Fernão Lopes ou Fernando Pessoa) são transpostos para esta obra que não é mais literatura de viagens mas uma anti-epopeia trágica.

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/ / Crítica, João de Melo

A geração de utopia, de Pepetela

Ao preparar-me para reler Autópsia de um Mar de Ruínas, de João de Melo, sobre a guerra colonial em Angola, decidi ler em paralelo este livro agora integrado na Coleção Essencial Livros RTP, editada pela Leya, constituíndo o 11.º volume, foi originalmente publicado em 1992 pela Dom Quixote.

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‘O Meu Irmão’, de Afonso Reis Cabral

O Meu Irmão, de Afonso Reis Cabral, é o mais recente vencedor do Prémio Leya, o mais importante prémio literário nacional, no valor de cem mil euros, atribuído ao melhor romance original escrito em língua portuguesa.

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Rua de Paris em Dia de Chuva, de Isabel Rio Novo

Se a biografia de Agustina (aqui apresentada o ano passado com entrevista à autora) pode ser lida com o enlevo de um romance, e se no romance anterior (também aqui recenseado) se cruzava ficção e ensaio, Isabel Rio Novo dá agora um novo passo no seu percurso romanesco, confirmando-a uma vez mais como uma nova voz da literatura portuguesa contemporânea, e presenteia-nos com o que poderíamos tentar definir como um romance biográfico, mas que se esquiva, como os livros anteriores, a ser classificado numa só categoria.

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Teolinda Gersão, ATRÁS DA PORTA E OUTRAS HISTÓRIAS

Teolinda Gersão, ATRÁS DA PORTA E OUTRAS HISTÓRIAS, Lisboa, Porto Editora / 2019

Teolinda Gersão, consagradíssima autora de Atrás da Porta e Outras Histórias, o seu mais recente título, ofereceu à Literatura Portuguesa seis romances, seis colectâneas de contos, duas novelas, dois volumes de diário e um livro infanto-juvenil, ou seja, um total de dezoito títulos, em trinta e sete anos de vida literária, que lhe valeram treze prémios no arco temporal de 1981 e 2018, para além da sua produção ensaística, enquanto professora catedrática de Literatura Alemã e de Literatura Comparada.

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A Educação dos Gafanhotos, de David Machado

David Machado nasceu em Lisboa em 1978 e a sua obra é publicada pela Dom Quixote.

O seu livro Índice Médio da Felicidade foi adaptado ao cinema por Joaquim Leitão e vencedor do Prémio da União Europeia para a Literatura. Escreve ainda literatura infanto-juvenil, com obras de destaque como Não te afastes ou O Tubarão na Banheira.

Depois de Debaixo da Pele, aqui recenseado em 2017, David Machado aventura-se num romance sobre 2 jovens, David e Marco, que no Verão de 2001 estão numa road trip pelos Estados Unidos da América. Apesar do narrador na primeira pessoa, o leitor pode sempre levar o seu devido tempo a querer associar o nome da personagem ao do autor. Estes 2 jovens irreverentes e recém-licenciados, que se envolvem em situações por vezes controversas, decidem suspender com esta viagem o desfecho que é convencionalmente esperado ao terminar os seus cursos.

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Sobre borderCrossings: leituras transatlânticas V

Vamberto Freitas, bordercrossings: leituras transatlânticas V, Ponta Delgada, Letras Lavadas, 2019

A história da humanidade faz-se a atravessar fronteiras. Desde os grupos de caçadores e recolectores há milhares de anos às campanhas militares e aos incessantes movimentos migratórios, e dos avanços científicos à globalizada sociedade da informação, o homem procura ir além de si mesmo, o que só resulta no diálogo com outrem: dessa livre interculturação nasce um sentimento de semelhança na humanidade, em que assenta existência digna. Um crítico literário deve ser sensível a esse voto de igualdade.

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A ARTE NO INÍCIO DO SÉCULO XXI

PONCE DE LEÃO, Isabel (2020). Pro Litteris. Porto: Fundação Eng. António de Almeida.

 

Reflexões polifónicas sobre literatura, arte, jornalismo cultural, leitura e leitores, turismo cultural, dinamismo cultural do Porto, Agustina, Régio, Sophia, Pessoa, artistas contemporâneos… entre tantos e tantos outros autores e temas diversos que convidam à leitura… De tudo isto (e muito mais) trata o livro Pro Litteris, de Isabel Ponce de Leão (editado agora pela Fundação Eng. António de Almeida).

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Leitura da Semana: “A Europa ao Espelho de Portugal”, de José Eduardo Franco

Esta semana, Paulo Serra convida a ler uma obra do historiador José Eduardo Franco, especialista em mitos na cultura portuguesa, em que se percorre a história de Portugal, em particular após a expansão do território português além-mar, de modo a perceber como se sentiu Portugal face à Europa ao longo dos séculos

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