Out 22, 2020
Adelaide Freitas é um nome que não carece de apresentação nos Açores, mas outro tanto não poderá dizer-se no continente. Tendo nascido em 1949, na Achadinha do Nordeste, a mesma localidade da ilha de São Miguel em que nascera, dois meses antes, João de Melo, que haveria de ser seu companheiro na escola primária e, mais tarde, objecto dos seus trabalhos ensaísticos, terminado o liceu em Ponta Delgada, vai graduar-se na Southeastern Massachusetts University, em Darmouth, bem como na City University of New York, regressando, mais tarde, aos Açores onde completará o doutoramento sobre a obra de Hermann Melville em 1987. Pode dizer-se que desde essa altura a Baleia Branca não mais a abandonou.
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Out 1, 2020
O Lugar das Coisas Perdidas, o segundo romance de Susana Piedade, publicado pela Oficina do Livro, segue-se a As Histórias Que não Se Contam, finalista do Prémio Leya 2015.
Numa vila do Norte, onde há não muitos anos caiu uma ponte, dá-se uma catástrofe que faz o lugar estremecer «como um sismo» (p. 82) quando Alice, com 8 anos, desaparece a caminho da escola. E essa vila sem nome (ainda que a possamos associar a Entre-os-Rios), que «parecia inabalável na sua quietude provinciana» (p. 39), é abalada pelo desaparecimento da menina, tragédia cujo impacto toca todos os vizinhos e revolve até segredos de décadas.
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Set 16, 2020
Menina com os Olhos Ocupados, publicado pela Bertrand Editora, com texto, ilustrações e grafismo de André Carrilho, vencedor do Grande Prémio do World Press Cartoon 2015 e cartunista, ilustrador, animador e caricaturista de reputação internacional, é a sua estreia na literatura infantil com um livro que é, também, uma chamada de atenção aos adultos.
André Carrilho, criador quer de ilustrações tão belíssimas como a menina que pinta um arco-íris com um cravo de Abril quer de caricaturas da actualidade, presenteia agora o universo da literatura infantil com um belíssimo álbum escrito em verso, cheio de cores vibrantes em aguarela a traçar imagens que surgem num turbilhão imaginativo, onde convoca todo um mundo de magia e pequenas maravilhas com vista a impressionar a menina que atravessa as várias páginas do livro sem nunca levantar os olhos do seu precioso ecrã de telefone.
A menina «dorme de olhos abertos, ainda em jejum», tão hipnotizada pelo telefone que não vê a carrinha dos gelados, não dá pelos cães que a perseguem, não vê girafas e elefantes, passa sobre golfinhos que a chamam para a brincadeira, não vê piratas «sujos e maus», nem ursos que a querem abraçar, nem discos voadores que a raptam para poder ver cometas, estrelas ou planetas, nem o astronauta que lhe dá boleia de volta à Terra e a larga num circo.
Enquanto os próprios pais se deixam vergar à vontade dos filhos, tentando adormecê-los pela imagem animada, o autor faz uma elegia à infância que todos nós, miúdos e graúdos, temos vindo a perder à medida que nos deixamos imergir na tecnologia facilitadora e facilitista.
André Carrilho foi galardoado com mais de 30 prémios nacionais e internacionais e participou em exposições coletivas e individuais em Portugal, Espanha, Brasil, França, República Checa, China e EUA. O seu trabalho é publicado no New York Times, The New Yorker, Vanity Fair, Harper’s Magazine e Diário de Notícias, entre outros. Em 2015, foi galardoado com o Grande Prémio do World Press Cartoon. Paulo Serra
[texto publicado originalmente no jornal Postal do Algarve, edição de 15 de Setembro de 2020]
Ago 27, 2020
A leitura de O Diabo foi Meu Padeiro, de Mário Lúcio Sousa, publicado pela Dom Quixote, pareceu-me a melhor forma de assinalar o 25 de Abril.
A Colónia Penal de Chão Bom, ou Campo de Concentração, no Tarrafal, criada durante o Estado Novo na ilha de Santiago, em Cabo Verde, foi estreada em 1936 com centena e meia de prisioneiros políticos vindos da metrópole, que era preciso afastar e punir como exemplo. As exímias condições de vida dos encarcerados (sem água, sem comida, sem higiene, sujeitos ainda a doenças tropicais e a torturas) são conhecidas, para quem leu aqueles que por lá passaram (como Luandino Vieira), aqui recontadas por este autor cabo-verdiano nascido justamente no Tarrafal, em 1964.
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Ago 27, 2020
Todos nós já assistimos, provavelmente, às consequências que a depressão pode ter em quem nos é próximo. Possivelmente até já a conheceram por dentro, na própria pele, ou de perto, com familiares ou amigos. Eu sei que passei dias a observar alguém que se sentava em silêncio na sala e ficava a fitar a televisão, umas vezes sem som, outras desligada. E ficava assim todo o dia, levantando-se quase de tarde e rondando a casa durante a noite. Para adormecer a dor era preciso adormecer a mente. E para muitas pessoas, a depressão é apenas uma “mania”, uma moda, um ócio de gente desocupada… Até que calha acontecer-lhes. Mas a verdade é que pode inclusive matar, como aconteceu há bem pouco tempo com o suicídio de mais uma figura pública.
Depois de Jogos de Raiva e O Pianista de Hotel, o novo romance de Rodrigo Guedes de Carvalho, Margarida Espantada, publicado pela Dom Quixote, é descrito pelo autor como uma história sobre família, mas também sobre «violência doméstica e doença mental. É um efeito dominó sobre a dor.»
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Ago 27, 2020
Fernão de Magalhães – O Homem que se Transformou em Planeta, uma edição da Imprensa Nacional Casa da Moeda, com texto de Luís Almeida Martins e ilustrações de António Jorge Gonçalves, assinala a comemoração dos 500 anos da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães.
Para contornar o problema de ter de escrever sobre uma personagem histórica de há 5 séculos, o autor-narrador contorna o problema, evocando o fantasma de Fernão de Magalhães ou o espectro da sua memória para contar, na primeira pessoa, como se tornou no português mais famoso de todos os tempos, neste planeta e noutras esferas vizinhas: «Tão famoso, tão famoso, que o seu nome foi dado a uma galáxia, a uma sonda espacial, a um sistema de GPS, a um modelo de computador, a uma grande cratera de Marte, a um estreito entre dois oceanos, a uma baía, a navios e a aviões da realidade e da ficção»… Deu nome também a uma nave espacial. E ganhou novas vidas como protagonista de jogos de computador.
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