Soeiro Gosvino

SUEIRO GOSVINO, natural de Lisboa, o qual floreceo pelos annos de 1217. Cultivou a Poezia Latina com aquella elegancia praticada na sua idade, compondo em verso elegiaco a Conquista de Alcacer do Sal alcançada a 21 de Outubro de 1219 do poder dos Mouros por industria do Bispo de Lisboa D. Sueiro Viegas, ao qual com manifesta equivocaçaõ chamou Matheus o insigne Camoens nas Lusiad. Cant. 8. Estant 24. Esta obra poetica da Conquista de Alcacer imprimio o Doutor Fr. Antonio Brandaõ na 4. Part. da Mon. Lusit. fol. 264. vers. até 267. Della, como de seu Author se lembraõ o Illustris. Cunha Hist. Eccles. de Lisb. Part. 2. cap. 25. e Manoel de Faria e Sousa no Coment. das Rim. de Cam. Cent. 2. do Soneto 59 pag. 262. col. 2. no fim.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]

D. Soeiro Gomes

D. SUEIRO GOMES, filho de illustres Progenitores, quaes eraõ D. Gomes Mendes, e D. Mór Paes. Dezejando illustrar o entendimento com a cultura das sciencias passou a Palencia, e na sua Universidade estudou Jurisprudencia Pontificia, em que sahio egregiamente instruido. Ao tempo que se restituhio a Portugal se achava D. Sancho I. conquistando o Algarve, e querendo mostrar que tinha igual impulso para as armas, como engenho para as letras assistio nesta Conquista em que deu manifestos indicios de intrepido valor. Lembrado do voto que fizera de ser Conego Regrante o cumprio, recebendo o habito no Real Convento de S. Vicente de Fora pelos annos de 1198. Por ser ornado de prudente capacidade o elegeraõ por seu Procurador na Curia Romana as Infantas D. Sancha, D. Tareja, e D. Branca para representar á Santidade de Innocencio III. a violencia com que Affonso II. seu irmaõ lhes queria uzurpar as terras de que seu Pay D. Sancho I. as fizera Senhoras. Logo que chegou a Roma, como nella assistisse o grande S. Domingos immortal gloria da preclarissima Casa dos Gusmaens lhe communicou a sagrada idéa que meditava de fundar a Ordem dos Prégadores, para cujo intento ja tinha juntos alguns companheiros, e lhe rogava quizesse entrar naquelle numero. Promptamente obedeceo D. Sueiro á persuasaõ do Santo Patriarca, o qual conhecendo o heroico espirito que lhe animava o peito o mandou a Hespanha para nella plantar o novo instituto da Ordem dos Prégadores. Corria o anno de 1217, quando entrou em Portugal D. Sueiro, e sendo benevolamente recebido pela Infanta D. Sancha, da qual fora Procurador na Curia lhe doou para solar da nova Ordem a Serra de MonteJunto, donde sahia a semear a palavra divina com tanto fruto dos ouvintes, que parecia se animavaõ as suas vozes com o espirito dos primeiros promulgadores do Evangelho. Divulgada por todo o Reino a fama deste apostolico Varaõ o mandou chamar D. Pedro Soares Bispo de Coimbra, para que na sua Diocese como vigilante agricultor plantasse virtudes, e extirpasse vicios, cuja sagrada incumbencia dezempenhou com tal efficacia, que atrahida a Infanta D. Branca da sua vida apostolica, lhe concedeo faculdade para edificar Convento na Cidade de Coimbra, envejando a sua irmãa D. Sancha que a tivesse preferido em obra taõ religiosa. Convocado Capitulo Geral a Bolonha partio a pé sem viatico, e achando naquelle congresso a seu Patriarcha lhe relatou os progressos que fizera em Hespanha, pelos quaes mereceo que o Santo testemunhasse com devotas lagrimas o jubilo do seu coraçaõ. Sendo eleito primeiro Provincial de Hespanha voltou com cartas de recomendaçaõ do Pontifice Honorio III. para que os Reys lhe fossem favoraveis em tudo quanto emprendesse. Logo que chegou a Portugal, como fosse manifesta a madureza do seu talento o elegeraõ por arbitro das suas controversias D. Affonso II. e o Arcebispo de Braga D. Estevaõ Soares da Sylva, as quaes compoz com igual prudencia, que suavidade. Terceira vez foy obrigado a assistir no Capitulo Geral celebrado em Pariz, em que foy eleito Mestre Geral Fr. Joaõ de Saxonia, donde retirado a Monte-Junto emprendeo, e conseguio a mudança do Convento que novamente edificou na celebre Villa de Santarem. Neste santo domicilio continuou com mayor disvello a praticar as virtudes que exercitara em toda a vida, até que partio a receber o premio dellas a 27 de Abril de 1233, deixando por herdeiros do seu apostolico espirito S. Raimundo de Penaforte em Catalunha: o Ven. Fr. Poncio de Placidis em Aragaõ: a S. Fr. Gil, e S. Pedro Gonçalves Telmo em Palencia: S. Fr. Lourenço Mendes, e S. Gonçalo em Guimaraens, e S. Fr. Payo em Coimbra devendo estas grandes Almas as virtudes em que floreceraõ ás instruçoens de hum taõ grande Prelado, celebrado igualmente em Hespanha, como em Portugal, de quem fazem honorifica memoria Fr. Luiz de Sousa Hist. de S. Dom. da Prov. de Portug. Part. 1. liv. 1. cap. 9. até 12. D. Nic. de S. Maria Chron. dos Coneg. Reg. liv. 4. cap. 8. n. 14. até 21. Cardoso Agiol. Lusit. Tom. 2. p. 732 e 738. no Coment. de 27 de Abril letr. B. Lopes Chron. Gen. de S. Doming. Part. 5. liv. 2. cap. 32. Diago Chron. da Prov. de Arag. liv. 1. cap. 1. Maluenda Annal. Ord. Praed. Tom. 1. ad ann. 1217. usque ad 1233. Bzovio Annal. Eccles. Tom. 13. ad ann. 1220. Macedo Flor. de Hesp. cap. 9. excel. 8. Franc. de S. Maria Diar. Portug. Tom. 1. p. 519. Cunha Hist. Eccles. de Lisb. Part. 2. cap. 30. Monteiro Claust. Domin. Tom. 3. pag. 310. Compoz por ordem de Affonso II. Constituiçoens para o bom governo do Reino. Sahiraõ impressas na 4. Part. da Mon. Lusit. liv. 13. cap. 21. por deligencia do Doutor Fr. Antonio randaõ Chronista mór do Reino, o qual no cap. 13. do dito liv. 13. assevera ser seu Author Fr. Sueiro Gomes.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]

Simão de Oliveira e Sousa

SIMEAÕ DE OLIVEIRA E SOUSA. Naceo em Lisboa a 10 de Agosto de 1678, onde teve por Pays a Manoel de Oliveira de Sousa Cavalleiro da Ordem Militar de S. Tiago, e a D. Maria do O. Pela grande liçaõ que tinha dos livros asceticos publicou

Finezas de JESU Christo, e affectos da alma amante. Lisboa por Antonio Isidoro da Fonseca 1738. 8. Esta obra está dividida em sete jornadas para os sete dias da semana.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]

Simão de Azevedo de Faria

SIMEAÕ DE AZEVEDO DE FARIA, natural de Lisboa, e insigne professor de Poetica, como testemunha a afluencia da sua Musa com que metrificava em todo o genero de assumptos distinguindo-se entre ellas Sylva ao Bautismo do Infante D. Affonso celebrado em 13 de Agosto de 1643. Começava. Já na terceira idade entrava o anno, &c. Acaba. Na fugitiva prata a prata viva. Esta obra dedicou seu Author ao Conde dos Arcos constando a Dedicatoria de outra Sylva.

 

 [Bibliotheca Lusitana, vol. III]

Samuel da Silva de Miranda

SAMUEL DA SYLVA DE MIRANDA, professor dos ritos Judaicos, e ascente na Cidade de Armsterdaõ, onde publicou

Oraçaõ no dia de Pascoa recitada em Portuguez. Amsterdaõ 1690. 4.

Da obra, e de seu Author faz mençaõ Wolfio Bib. Heb. Tom. 3. p. 1117.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]

Salvador Taborda Portugal

SALVADOR TABORDA PORTUGAL, natural da Villa de Penamacor da Provincia da Beira. Foraò seus Progenitores Domingos Antunes Portugal Desembargador dos Aggravos, e Deputado do Conselho Ultramarino, do qual se fez larga melhoria em seu lugar, e D. Isabel Taborda filha de Salvador Taborda de Negreiros. Aplicou-se na Universidade de Coimbra á Jurisprudencia Cesarea, na qual tendo recebido as insignias doutoraes, foy admitido por Collegial no Collegio de S. Pedro a 7 de Mayo de 1664 regentada a Cadeira de Instituta com igualaçoens á de Codigo, de que tomou posse a 23 de Julho de 1668. Depois de ser Desembargador na Relaçaõ do Porto, dos Aggravos da Casa da Suplicaçaõ, Procurador Fiscal da Junta dos Tres Estados, Procurador, e Conselheiro do Conselho da Princeza D. Isabel, foy eleito Enviado Extraordinario á Corte de Pariz, em cujo ministerio sucedeo a Duarte Ribeiro de Macedo. Partio de Lisboa a 6 de Agosto de 1677, e chegou a Arrochela a 29 de Setembro do dito anno. Nesta grande Corte assistio o largo espaço de treze annos, exercitando a incumbencia que lhe fora cometida com maduro talento, e sagaz politica, até que falleceo no anno de 1690, quando estava nomeado com o mesmo caracter para a Corte de Roma. Teve vasta noticia de ambas as Jurisprudencias, continuada liçaõ da Historia profana, e intelligencia profunda dos interesses dos Soberanos. Escreveo com pureza a lingoa Latina, e da Arte Poetica praticou felizmente os preceitos. Foy casado com D. Mariana de Figueiredo, de quem teve D. Antonia Caetana Taborda Portugal, que sendo herdeira se desposou com Joaõ de Lemos de Brito moço Fidalgo da Casa Real, Comendador da Ordem de Christo, e Deputado da Junta do Comercio, de quem teve sucessaõ. Compoz

Soneto, e Endechas Castelhanas á morte do Marquez de Tavora Luiz Alvares de Tavora. Sahiraõ no Compendio Paneg. da Vid. e Açoens deste Heroe. Lisboa por Antonio Rodrigues de Abreu 1674. 4.

Relectio ad Tit. C. de Castrensi peculio. Dictada quando regentava a Cadeira dos Tres livros do Codigo. He allegada por seu Pay o Doutor Domingos Antunes Portug. Tract. de Donationib. Reg. Tom. 2. lib. 3. cap. 24. n. 15.

Memorias dos sucessos que aconteceraõ em França, e na mayor parte da Europa no tempo que assistio naquella Corte com a ocupaçaõ de Enviado do Serenissimo Principe Regente depois Rey D. Pedro II. N. S. a ElRey Christianissimo Luiz XIV. Tom. 1. Consta de 6 livros deste o anno de 1677, até 1683. fol. M. S.

Tom. 2. Consta de 6 livros deste o anno de 1684 até 1689. fol. M. S. Ambos estes dous Tomos vimos, e saõ escritos em estylo elegante.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]