D. João Nunes Barreto

D. IOAÕ NUNES BARRETO. Teve por patria a Cidade do Porto, e por Pays a Fernaõ Nunes Barreto Senhor dos Morgados de Freiriz, e Penagate, e a D. Izabel Ferràs de igual nobreza à de seu Consorte. Instruido na patria com os primeiros rudimentos passou á Universidade de Salamanca onde recebeo o gráo de formatura em os Sagrados Canones, e restituido a Portugal foy nomeado por seu irmaõ Gaspar Nunes Barreto em a Abbadia de Freiris da qual era Padroeiro, dezempenhando taõ exactamente a obrigaçaõ pastoral, que era conhecido pela antonomazia de Abbade Santo. Dezejando seu irmaõ o Padre Belchior Barreto de quem já fizemos memoria em seu lugar, atrahillo ao instituto da Companhia de Iesus, que professava lhe persuadio com efficacia preferir a vida religiosa à Ecclesiastica seguindo antes o socego da Magdalena, que a deligencia de Martha. Illustrado com as sombras de hum misterioso sonho deixou o seculo, e vestio a roupeta de Jesuita em o Collegio de Coimbra a 11 de Novembro de 1544. Ainda naõ contava quatro annos de religioso alcançou com instantes rogos faculdade dos Superiores para com a voz, e com a prezença consolar aos Christaõs prezos nas horrorosas masmorras de Tituaõ, e Berberia. Neste barbaro theatro brilhou a sua ardente charidade em obsequio dos infermos ministrando os Sacramentos para consolaçaõ dos Catholicos, e pregando as verdades Evangelicas para confusaõ dos Mouros. Naõ somente triumfava a sua eloquente efficacia dos dilirios de Mafoma, mas das chimeras do Talmud convencendo a obstinada perfidia dos Judeos com a evidencia da divindade do Messias. Tendo exercitado este laborioso ministerio pelo espaço de seis annos em que por sua industria resgatou duzentos cativos, chegou a Lisboa onde foy eleito pela Magestade de D. Ioaõ o III. Patriarcha da Etiopia de cuja dignidade o achou benemerito o espirito de Santo Ignacio, e a prudencia deste Monarcha. Obrigado do preceito de Paulo IV. someteo os hombros a taõ formidavel pezo sendo Sagrado na Igreja da Santissima Trindade a 24 de Mayo de 1555. pelo Bispo de Portalegre D. Juliaõ de Alva Esmoler mòr da Raynha D. Catherina. Partio de Lisboa a 28 de Março de 1556. embarcado em a Náo Garça de que era Capitaõ D. Ioaõ de Menezes de Siqueira, e logo, que chegou a Goa aplicou todo o disvelo para entrar no seu Patriarchado, e salvar aquellas ovelhas, que vagavaõ naufragantes em hum pelago de erros scismaticos, porem como se lhe dificultasse a execuçaõ de seus fervorosos dezejos resignado na vontade divina se dedicou em Goa a doutrinar a mais infima plebe. Na Ilha de Choraõ pouco distante de Goa edificou humas cazas humildes junto da Igreja de Nossa Senhora da Graça onde retirado ao comercio humano fallava mentalmente com Deos unico objecto da sua meditaçaõ. Assaltado de huma aguda febre voltou para o Collegio de S. Paulo, e recebendo com jubilo a certeza de ser chegada a ultima hora da sua vida passou para a eterna a 22 de Dezembro de 1562. quando contava 45 annos de idade, e 18 de Companhia suposto, que escrevemos nas Mem. Polit. e Milit. delRey D. Seb. Part. 2. liv. 1. cap. 16. §. 123. fora o seu transito a 20 de Dezembro firmados na authoridade do Padre Nicolao Godinho de Abyssin. reb. lib. 2. cap. 22. onde desde pag. 228. até 343. escreve a vida deste zelozo Varaõ do qual fazem digna memoria Franco Ann. Glorios. S. J. in Lusit. pag. 747. e na Imag. da Virt. em o Nov. de Coimb. Tom. 1. liv. 2. cap. 1. até 8. Guerreiro Addic. à Relac. da Etiop. cap. 4. Orland. Hist. Societ. Part. 2. lib. 6. n. 164. Telles Chron. da Companh. de Jes. da Prov. de Portug. Part. 2. liv. 6. cap. 1. 2. 35. 36. e 37. e na Hist. da Etiop. Alt. liv. 2. cap. 25. e 34. Jarricus Thezaur. rer. Indic. lib. 1. cap. 15. Couto Decad. 7 da India liv. 3. cap. 6. Guerreiro Coroa dos Soldad. Esforçad. liv. 3. cap. 6. Girardi Diario Part. 4. a 22 de Dezembro Ioan. Soar. Brito Theatr. Lusit. Litter. lit. 1. n. 58. Nadasi Ann. dier. memor. S. J. Part. 2. pag. 333. Marangoni Thezaur. Paroch. Tom. 2. pag. 84. Escreveo.

Carta escrita de Tetuaõ aos Padres do Collegio de Coimbra. Della sahio  alguma parte impressa na Imag. da Virt. Nov. de Coimb. Tom. 1. pag. 247. E traduzida em Latim pelo Padre Guerreiro de Abyssinor. reb. lib. 2. cap. 11. pag. 275.

Cartas escritas de Tetuaõ a hum Padre Jesuita, que em Lisboa solicitava a liberdade dos cativos. Parte dellas estaõ impressas na Imag. da Virtud. Tom. 1. pag. 248. 249. e 250.

Carta escrita a Santo Ignacio em que instantemente lhe pede naõ consinta, que elle seja provido na dignidade Patriarchal. Desta Carta a mayor parte está vertida em Latim no Padre Guerreiro de Abyssin. reb. pag. 287.

Carta ao P. Luiz Gonzalves da Camara em que lhe pede alcance licença delRey para renunciar o Patriarchado. Sahio impressa pelo Padre Franco Imag. Da Virt. assima allegada pag. 259. e em latim pelo Padre Guerreiro de Abyssin. reb. pag. 339.

Tres Cartas escritas ao Geral da Companhia em Goa no anno de 1559. Sahiraõ traduzidas em Italiano com outras. Venetia por Tramezzino. 1562 8.

Carta escrita de Goa em o primeiro de Dezembro de 1556. a ElRey D. Ioaõ o III. He muito extensa, e o Original se conserva no Archivo da Caza professa de S. Roque de Lisboa como tambem a seguinte.

Carta escrita de Goa ao Padre Luiz Gonzalves da Camara a 6 de Novembro de 1556. M. S.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]

Frei João de Nossa Senhora

Fr. IOAÕ DE NOSSA SENHORA natural de Aldegavinha termo de Aldegalega de Merciana do Patriarchado de Lisboa sendo filho de Antonio Luiz Arelho, e Maria Carvalha. Entre todas as Sagradas Religioens elegeo para domicilio o Convento de Villaverde da Serafica Provincia dos Algarves professando este austero instituto a 2 de Mayo de 1718. A intelligencia da lingua Latina, e noticia das letras humanas em que era muito versado, naõ somente o distinguio de todos os seus condiscipulos mas ainda na especulaçaõ das sciencias severas, e no sagrado ministerio do pulpito que com indefesso trabalho tem frequentado por muitos annos. Depois de ser Qualificador do Santo Officio como fosse profundamente instruido em as noticias da sua Provincia o nomeou Chronista Fr. Antonio dos Archanjos Provincial desta religiosa Familia, cuja incumbencia dezempenhará com geral aplauzo. O natural genio com que desde os primeiros annos cultivou a Poezia metrificando na lingua vulgar, e Latina com summa facilidade lhe adquirio a antonomastica denominaçaõ de Poeta. Do seu fecundo engenho tem publicados os seguintes partos.

Sermaõ do retiro que faz todos os annos, a sempre prodigiosa, e admiravel Imagem da Virgem Maria Senhora Madre de Deos que com este soberano titulo se venera na Cidade de Lisboa Oriental. Lisboa por Pedro Ferreira. 1731 4.

Oraçaõ Funeral Panegyrica, e Historica nas Exequias do Excellentissimo, e Reverendissimo Senhor D. Fr. Iozé de Santa Maria de Iesus Bispo de Cabo Verde do Conselho de Sua Magestade dignissimo filho da Provincia dos Algarves, e Missionario Apostolico no Mosteiro do Varatojo da Religiaõ de S. Francisco celebradas no Convento de S. Maria de Iesus de Xabregas a 20 de Iunho de 1736. Lisboa por Antonio Isidoro da Fonceca 1739 4.

Oraçaõ Capitular Gratulatoria, Deprecatoria, e Mariana pregada no Real, e Veneravel Mosteiro da Madre de Deos de Lisboa em dia do Santissimo Nome de Maria por acçaõ de graças do Capitulo, que fez a Santa Provincia dos Algarves no Real Convento de Santa Maria de Iesus de Xabregas em 9 de Setembro de 1741. Lisboa por Pedro Ferreira 1741 4.

Dies in quo est Officium S. Antonii. Ulyssipone apud Petrum Ferreira Typ. Reginae. 1741 24.

Hebdomas S. Antonii. ibi per eumdem Typ. 1741 24.

Mensis D. Antonii in quo ejusdem est inventum Psalterium S. Antonii Paduani. ibi per eumdem Typ. 1741 24.

Antonianus, hoc est, Oratorium totius Anni S. Antonio Ulyssiponensi, Paduano que consecratum. ibi per eumdem Typog. 1741 16.

Oratorio de S. Antonio exposto em todas as Parochiaes Igrejas deste Patriarchado de Lisboa, e em todos os Arcebispados, e Bispados do Reyno de Portugal. Lisboa por Pedro Ferreira. 1742 8.

Inscripçaõ Latina ao Emminentissimo Cardial Patriarcha de Lisboa D. Thomas de Almeyda. Lisboa pelo dito Impressor 1742 fol. imperial ao alto.

Dia, e noite com todas as horas para as Almas do Purgatorio achadas nos sufragios da Santa Igreja Romana, e exposta nas maõs de todos os Fieis Christaõs para lembrança das mesmas Almas. Lisboa por Francisco da Sylva. 1742 16.

  1. Francisco para todos os dias Manhaã Meyodia, e Tarde. Devoçaõ das Chagas descuberta no Officio deste Serafco Patriarcha. Lisboa pelo dito Impressor. 1742 8.

Psalterium Sanctissimi Ioseph. Ulyssip. apud Petrum Ferreira. 1741 16.

Epigramma em aplauzo do P. D. Rafael Bluteau Clerigo Regular. Sahio a pag. 59 do Obsequio funebre dedicado à saudosa memoria do dito Padre Lisboa por Iozé Antonio da Sylva. 1736 4.

Doze Epigrammas Latinos em aplauzo da Centuria Epigrammatum composta por Francisco Iozé Freyre. Sahiraõ ao principio desta obra. Ulyssipone apud Antonium Isidoro da Fonceca. 1742 8.

Collar da Virgem Maria Mãy de Deos, e Mãy dos Homens. Lisboa por Domingos Gonzalves 1745 24.

Arte de bem morrer. Lisboa por Pedro Ferreira 1737 16. Sahio com o nome de Constantino da Costa.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]

D. João de Noronha

D. IOAÕ DE NORONHA natural de Lisboa quinto filho de D. Pedro de Noronha setimo Senhor de Villaverde, que acabou na infausta batalha de Alcacer, e de sua segunda mulher D. Catherina de Atayde filha segunda do segundo Conde da Vidigueira D. Francisco da Gama. Foy Commendador da Ordem de Christo, e militou em Africa com valor digno do seu claro nacimento. Cazou tres vezes, e de nenhuma deixou sucessaõ. Falleceo em idade muito provecta ornado de religiosas virtudes como publicaõ os seus escritos de que faz mençaõ Ioaõ Franco Barreto Bib. Portug. M. S. e saõ os seguintes.

Tratado sobre a discriçaõ dos espiritos. M. S.

Tratado sobre a Oraçaõ. M. S.

Do author faz breve memoria D. Ant. Caet. de Souz. Hist. Gen. da Caz. Real Portug. Tom. 10. liv. 10. pag. 645.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]

Frei João de Nazaré

Fr. IOAÕ DE NAZARETH filho de Miguel da Sylva, e Mariana do Desterro  naceo em a Villa de Obidos do Patriarchado de Lisboa, e na Igreja Matriz de Santa Maria recebeo a graça bautismal a 24 de Mayo de 1705. Quando contava dez annos foy admitido pela destreza, e suavidade da voz ao habito de religioso Terceiro da Ordem Serafica cujo instituto professou solemnemente a 9 de Iulho de 1722. Pela sua grande sciencia da musica, e integridade de custumes foy nomeado em o Capitulo que se celebrou a 27 de Iulho de 1737. Capellaõ das Religiosas do Convento da Madre de Deos junto da Villa de Aveiro com a incumbencia de reduzir à ultima perfeiçaõ o Canto de Orgaõ que muitas religiosas do dito Mosteiro practicavaõ para mayor culto de seu divino Espozo. Passados dous annos que assistio neste domicilio falleceo com geral sentimento de todas as pessoas que o tratavaõ a 31 de Iulho de 1739. Tinha particular genio para a Poezia vulgar deixando por testemunho a seguinte obra.

Glossa ao Soneto, Esta Senhor que vemos sepultada Dedicado a ElRey N. Senhor na intempestiva morte de sua Serenissima Irmãa a Senhora Infanta D. Francisca. Sahio impresso com outras obras a este funebre assumpto intitulado Acentos saudosos das Musas Portuguezas. Lisboa por Antonio Isidoro da Fonceca. 1736. 4.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]

Frei João de Nazaré

Fr. IOAÕ DE NAZARETH natural da Villa de Castello de Vide em a Provincia Transtagana sendo filho de Simaõ Vaz Leytaõ, e Maria Fernandes de Siqueira. Na idade juvenil abraçou o instituto de Erimita Augustiniano o qual professou solemnemente em o Real Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa a 20 de Julho de 1646. onde foy Prezentado em Theologia, Definidor da Provincia, e Presidente do Capitulo. Entre muitos Sermoens, que recitou com aplauzo se fizeraõ publicos os seguintes.

Sermaõ historico, e panegyrico da milagroza Virgem da Penha de França pregado no seu Convento no 3 dia das suas Festas. Lisboa por Miguel Deslandes. 1685 4.

Sermaõ em acçaõ de Graças, que o Illustrissimo Senado de Lisboa, e sua Corte vem dar à milagroza Virgem da Penha de França todos os annos por voto, que lhe fez quando livrou esta Cidade da cruel peste com que Deos a castigava. Lisboa pelo dito Impressor. 1698 4.

Sermaõ do insigne Doutor da Igreja, e Patriarcha dos Erimitas Santo Agostinho. Lisboa pelo dito Impressor. 4. Naõ tem anno da ediçaõ.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]

Padre João Nazaré

P. IOAÕ DE NAZARETH natural da Villa da Pederneira do Patriarchado de Lisboa, e filho de Ioaõ Fernandes, e Cecilia Rodrigues taõ dotados dos beneficios da graça, como dos bens da fortuna. Na primeira idade mostrou genio inquieto, e turbulento armando de motivos leves pendencias graves que serviaõ de universal escandalo. Penetrado de hum mysterioso sonho mudou de condiçaõ, e estado de vida recebendo o habito de Conego Secular do Evangelista amado em o Real Convento de Santo Eloy de Lisboa no faustissimo dia da Assumpçaõ da Senhora, e ebaixo de taõ feliz auspicio começou a sogeitar a rebeldia da carne às leys do espirito jejuando quartas, sextas, e sabbados, e comendo na Quaresma, e Advento manjares grosseiros, que nem satisfaziaõ o apetite com a quantidade, nem o deleitavaõ com o sabor. Todos os dias se açoutava duas vezes com disciplina de ferro fazendo mais penetrantes os golpes a actividade do impulso, e a dureza do instrumento. Eleyto Reytor do Convento de Villar reedificou a Igreja para cuja obra concorreo o Ceo com maõ invizivel. Armado de zelo apostolico se oppoz à execuçaõ de hum subsidio Ecclesiastico, que ou por falta de conselho, ou por excesso de ambiçaõ impuzera o Arcebispo de Braga D. Luiz Pirez da Cunha. Depois de ter governado quatorze annos o Convento de Villar sendolhe revelado o termo da sua peregrinaçaõ se despedio dos Padres de Santo Eloy por huma carta. Tolerada com grande resignaçaõ a ultima enfermidade pelo espaço de tres semanas em que triunfou de diversas sugestoens diabolicas, recebidos os Sacramentos com ternura expirou placidamente a 27 de Fevereiro de 1478. Fazem delle mençaõ o Illustrissimo Cunha Hist. Eccles. de Brag. Part. 2. cap. 55. Cardoso Agiol. Lusit. Tom. 1. pag. 534. e o Padre Francisco de Santa Maria Chron. dos Coneg. Secul. liv. 3. cap. 60. 61. 62. e 63. Compoz.

Tratados espirituaes.

Officios, e Hymnos a S. Gregorio Magno, S. Jeronimo, Santo Ambrosio, S. Clemente Martyr, S. Nicolao Bispo, e outros Santos.

Officio de Nossa Senhora chamado Vigilia que todos os sabbados se cantava nas Cazas da Congregaçaõ como escreve o Padre Francisco de Santa Maria na Chronica assima allegada pag. 821.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]