Padre Marcos Jorge

P. MARCOS JORGE, natural do lugar de Nogueira do Bispado de Coimbra, e naõ Conimbricense, como se escreve na Bib. Societ. p. 586. col. 1. Foraõ seus Pays Jorge Peres, e Barbara Pires. Estudou na Universidade de Coimbra Jurisprudencia Canonica em que alcançou aplauso o seu talento, porém desenganado da caduca gloria do mundo se alistou na Companhia de Jesus em o Noviciado de Coimbra a 16 de Mayo de 1548, onde aprendidas as Sciencias escolasticas recebeo em a Universidade de Evora o grao de Doutor em Theologia, cuja Faculdade dictou aos seus domesticos. Foy o primeiro Lente de Theologia Moral, que teve o Collegio de Lisboa concorrendo grande numero de Sacerdotes dezejosos de se habilitarem para Confessores, a ouvir a sua doutrina. Em 17 de Janeiro de 1571, foy eleito Procurador a Roma sendo Geral S. Francisco de Borja, donde voltando falleceo piamente no Collegio de Evora a 10 de Dezembro de 1571, e naõ a 29 de Fevereiro de 1608, como escreve o P. Franco Imag. da Virt. do Nov. de Coimb. Tom. 2. p. 572. e no Ann. Glor. S. J. in Lusit. p. 125. de que se retratou nos Annal. S. J. in Lusit. p. 92. n. 1. Jaz sepultado na Igreja Velha, que hoje serve de Sala dos Autos da Universidade. Teve particular genio para instruir aos meninos no Cathecismo concorrendo innumeravel povo a ouvillo pelas ruas, e para se fazerem perceptiveis á gente rustica os Mysterios que deviaõ crer escreveo, e publicou sendo o primeiro livro que sahio da Companhia impresso em Portugal.

Doutrina Christã. Lisboa por Francisco Correa. 1561. 16. Braga por Antonio de Mariz 1566. 16. Lisboa 1609. 16. Sahio com estampas. Augusta por Christovaõ Mãgio 1616. 8. Desta ediçaõ conservo hum exemplar que he muito raro. Foy traduzida na lingoa Malabarica pelo Padre Henrique Henriques, e impressa Cochim 1559. e na lingoa de Congo pelo Padre Matheus Cardoso. Lisboa por Giraldo da Vinha 1624. 8.

Carta escrita a S. Ignacio no anno de 1554, em que lhe relata os progressos do Collegio de Evora. Parte della transcreveo o Padre Telles Chron. da Comp. Da Prov. de Portug. Part. 2. liv. 4. cap. 17. n. 2.

De Horis Canonicis.

De Victigalibus.

De Pignore.

Todas estas obras se conservaõ no Collegio de Evora, onde foraõ dictadas. Varios elogios dedicaraõ á sua memoria Ribadaneira Cathal. Script. S. J. Telles Chron. da Prov. de Portug. Part. 2. liv. 4. cap. 16. n. 8. Franco Annal. S. J. in Lusit. p. 92. n. 1. e na Imag. da Virtud. do Nov. de Coimb. Tom. 2. liv. 4. cap. 34. n. 14. Bib. Societ. p. 580. col. 1. Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. lit. M. n. 2. Draudius Bib. Classica. e Fonseca Evor. Glor. p. 436.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]

Padre Mateus de Moura

P. MATHEOS DE MOURA, natural da Villa de Abrantes do Bispado da Guarda, sendo filho de Joaõ Pires, e Ignez de Moura. Foy admitido á Companhia de Jesus a 23 de Fevereiro de 1653, em o Noviciado de Evora, quando contava quatorze annos. Depois de ter dictado letras humanas, e Rethorica pelo espaço de tres annos passou ao Brasil, onde feita a profissaõ do quarto Voto ensinou Filosofia, e Theologia outo annos. De Secretario da Provincia subio a Provincial, e depois Reitor dos Collegios do Rio de Janeiro, e Bahia, onde falleceo a 29 de Agosto de 1728 com 89 annos de idade, e 76 de Religiaõ.

Compoz

Exhortaçoens Panegyricas, e Moraes. Lisboa por Antonio Pedroso Galraõ 1719. 4.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]

Padre Nuno de Melo

P. NUNO DE MELLO, natural do lugar da Faya do Bispado da Guarda, onde teve illustres Pays, chamados Henrique de Mello, e Dona Joanna de Soveral, cuja companhia deixou, para se alistar em a de JESUS, recebendo a roupeta a 27 de Abril de 1565, quando contava desasete annos de idade. Foy ornado de virtudes heroicas, que conciliaraõ o respeito de estranhos, e domesticos. Falleceo piamente no Collegio de Evora entre os annos de 1615, e 1618. Compoz

Calendario perpetro, para se celebrar o Santo Sacrificio da Missa. Conserva-se M. S. na Sancristia do Collegio de Evora, o qual serve de Directorio para todos que dizem Missa.

 

 [Bibliotheca Lusitana, vol. III]

Frei Pacífico da Cruz

Fr. PACIFICO DA CRUZ, natural da Villa de Monte-Mór o Velho do Bispado de Coimbra. Para fugir do mundo se recolheo na Congregaçaõ dos Conegos Seculares do Evangelista, donde como aspirasse a vida mais austera passou para a Provincia Serafica de Portugal, e nella recebido o habito até mudou o nome que antes conservava. Praticou severamente os preceitos do seu Instituto servindo de estimulo, e de confusaõ aos seus domesticos assim nas muitas horas que passava estando de joelhos contemplando os atributos divinos, como reduzindo com graves disciplinas o corpo ás leys do espirito. Vaticinada a hora da sua morte a teve feliz em o Convento de Matosinhos a 15 de Setembro de 1630. Delle faz larga memoria o P. Fr. Manoel da Esperança Hist. Seraf. da Prov. de Portug. Part. 2. liv. 10. cap. 51. Compoz

Explicaçaõ das Rubricas do Missal, e Breviario. M. S. As quaes naõ lograraõ até hoje o favor da Impressaõ, diz o referido P. Fr. Manoel da Esperança.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]

Pantaleão de Araújo Neto e Guerra

PANTALIAM DE ARAUJO NETO E GUERRA. Naceo em a Cidade do Porto, e na Cathedral foy bautisado a 5 de Fevereiro de 1710, sendo filho de Manoel Rodrigues Guerra, e Josefa de Araujo Neto. Estudou Gramatica, quando contava oito annos de idade, e sahio nella taõ perito que a ensinou com emolumento de seus ouvintes. Instruido na Filosofia frequentou a Universidade de Coimbra aplicado á Jurisprudencia Civil, em que recebeo o grao de Bacharel a 16 de Abril de 1733. Voltando para a patria exercitou o seu talento juridico no patrocinio de Causas Forenses, com grande fama do seu nome, que o fez mais conhecido com a obra seguinte.

Commentaria ad Ordinationes Portugalliae Regni libri Quarti in quibus omnia dilucidantur, resolvuntur & explanantur. Tomus primus in quo tractatur de emptione, & venditione, de procuratoribus de factis subarrhis, coutractibus, de consuetudine, & ejus requisitis, de arbitris, & arbitratoribus, & laudi reductione, de hypothecis expressis, & tacitis, de excussione debitorum, & fidei jussorum de dote, & ejus privilegiis, de praescriptionibus, allisque quaestionibus variis. Conimbricae apud Ludovicum Secco Ferreira. fol.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]

Frei Pantaleão de Aveiro

Fr. PANTALIAM DE AVEIRO, natural da Villa do seu apelido do Bispado de Coimbra. Professou o instituto Serafico na Provincia dos Algarves, onde exactamente praticou as virtudes de hum perfeito religioso. Anhelando o seu espirito testemunhar com os olhos aquelles lugares, que com a sua presença, e seu sangue santificara o Verbo Divino feito Homem, alcançou faculdade dos Superiores para taõ devota jornada, a qual executou caminhando a pé até chegar á Cidade de Jerusalem em o anno de 1563, onde pelo espaço de tres annos venerou com profundo affecto, e cordial ternura aquelle theatro em que se representou a dolorosa Tragedia do nosso Redemptor. Restituido a Portugal se resolveo para beneficio das almas devotas escrever tudo quanto observou nesta jornada, publicando

Itinerario da Terra Santa. Lisboa por Simaõ Lopes 1593. 4. Dedicado ao Illustrissimo Arcebispo de Lisboa D. Miguel de Castro, & ibi por Antonio Alvares 1596. 4. & ibi addicionado por Diogo Tavares, e Simaõ Lopes 1600. 4. & ibi por Joaõ Galraõ 1685. 4. & ibi por Antonio Pedroso Galraõ 1732. 4.

Louvores de S. Joaõ. 4. M. S.

Delle fazem memoria Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 2. p. 124. col. 2. Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. lit. P. n. 1. Fr. Joan. a D. Ant. Bib. Franc. Tom. 2. p. 414. col. 1. Cunha Hist. da Santa Veronica. fol. 204. e D. Paulo de Zamora Censur. do Itiner. de Fr Braz Buyza Religios. Menor.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. III]