Ago 23, 2018
P. LEAÕ HENRIQUES natural da Villa das Alcaçovas da Provincia Transtagana do Arcebispado de Evora. Foy filho de Henrique Henriques, e D. Maria de Aragaõ Senhores da dita Villa, e sobrinho do Padre Leaõ Henriques Confessor do Cardeal D. Henrique em cujo obsequio mudou o nome de Pedro, que tinha no seculo em o de Leaõ quando entrou na Companhia de JESUS em o Noviciado de Evora a 17 de Dezembro de 1590 em idade de 15. annos. Estudadas as Sciencias amenas, e severas dictou Filosofia, e Theologia em cuja Faculdade recebeo as insignias Doutoraes. Amante do abatimento, e inimigo da vaõgloria se esqueceo totalmente da sua nobre origem, ocupando-se nos exercicios mais humildes assim em casa, como fora della, vizitando os prezos que socorria com as esmolas e instruindo pelas Praças os mininos com grande fruto, e utilidade das almas. Duas vezes se diciplinava cada dia, e em todas as semanas jejuava duas vezes. Nos ultimos annos recitava pelas contas trezentos Actos de Contriçaõ, e nos extremos fazia Actos de Fé, Esperança, e Charidade. Cumulado de virtudes passou a receber o premio dellas no Collegio de Evora a 12. de Novembro de 1621. Quando contava 46. annos de idade e 31. de Religiao. Delle fez larga, e honorifica memoria o P. Franco Imag. da Virt. Nov. do Colleg. de Evora liv. 3. cap. 7. e Annal. S. I. in Lusit. p. 232. §. 12. Escreveo.
Apologia sobre os que pediraõ nas Cortes celebradas no anno de 1619. que naõ estudassem os filhos dos Mecanicos fol. M. S.
[Bibliotheca Lusitana, vol. III]
Ago 23, 2018
LEAÕ CAMELLO. Foy hum dos valerosos Soldados que perderaõ a liberdade na infausta batalha de Alcacer sucedida a 4. de Agosto de 1578. e tambem perdera a vida em obsequio da Fé se hum Elche de grande authoridade o naõ arrebatara das maõs de hum Mouro que tinha tyranamente martyrizado a muitos meninos Christaõs. Passou largo espaço de tempo cativo em Marrocos até que cheyo igualmente de annos, que molestias toleradas com heroica paciencia, foy resgatado por Antonio de Saldanha. Conduzido a Lisboa acabou piamente a carreira da sua vida. Foy muito versado na lingua Arabica, e ainda muito mais nas Artes de Arithmetica, e Algebra em que mereceo primazia entre os professores do seu tempo. Escreveo por ordem do Xarife Mahomet.
Commentarios sobre a Conquista do Reyno de Goga, que he no Certaõ dos Azenegues.
Delle fazem memoria Joan. Soar. de Brito Theatr. Litter. Lusit. Lit. L. n. 8. Joaõ Franco Barret. Bib. Portug. M. S., e D. Franc. Manoel Cart. dos AA. Portug. escrita ao Doutor Manoel Themudo da Fonseca.
[Bibliotheca Lusitana, vol. III]
Ago 23, 2018
Fr. LAMBERTO natural da Villa de Porto de mós do Bispado de Leyria, Monge Cisterciense cujo instituto professou no Real Convento de Alcobaça, compoz em o anno de 1600.
Index da Renda do Real Convento de Alcobaça. fol. M. S. Neste livro que se conserva na Livraria do mesmo Convento se dá huma individual noticia de todas as Rendas, que possue aquelle magnifico Mosteiro allegando os titulos porque as logra, e resolvendo algumas duvidas que se podem excitar contra a sua posse.
[Bibliotheca Lusitana, vol. III]
Ago 23, 2018
LAYMUNDO ORTEGA natural da Cidade de Beja da Provincia Transtagana Capellaõ, e Confessor del Rey D. Rodrigo em cuja pessoa com eterno escandalo da sua memoria se extinguio a Monarchia Gothica, escreveo no anno de Christo de 878. a obra seguinte:
De Antiquitatibus Lusitaniae.
Principia Lusitaniae initium; e acaba. Lusitaniae gentes sub Mauris annis plurimis quievere. Passada a larga diuturnidade de outo seculos em que se diz fora escrita esta obra, a descubrio o eruditissimo Fr. Bernardo de Brito, Chronista mor do Reyno em o Archivo do Real Convento de Alcobaça do qual era benemerito filho, como ingenuamente confessa no Prologo da 1. Part. da Monarch. Lusit. por estas palavras. Descubri huma notavel antigualha entre outras, que minha deligencia, e trabalho tiraraõ das maõs do esquecimento, que foy hum livro antiquissimo escrito de letra Gothica em pergaminho grosso, e mal pullido composto por hum Portuguez chamado Laymundo Ortega; o instituto do qual he descobrir antiguidades da Lusitania, e trazer com muita chaneza a verdade das cousas, que pode alcançar no tempo em que vivia. Para estabelecer a verdade da existencia desta obra, e constar, que a invençaõ della naõ fora seu invento a corroborou com duas publicas atestaçoens impressas ao principio do 1. Tom. da Mon. Lusit. sendo a primeira do Licenciado Jeronymo do Souto Ouvidor da Comarca, e Correiçaõ dos Coutos de Alcobaça feita a 10. de Setembro de 1595. e a segunda do Reverendissimo P. Fr. Francisco de S. Clara Abbade Geral do Real Convento de Alcobaça em 13. de Julho de 1596. e de ambas consta, que a obra de Laymundo existia no Archivo do Convento de Alcobaça escrita em pergaminho com caracteres Gothicos, encadernada em taboas cubertas de pelle branca de vaca, e chapeadas de lataõ. Com estas duas atestaçoens concordaõ o Illustrissimo Bispo de Portalegre D. Fr. Amador Arraes Dialog. 4. fol. 115. e o insigne Fr. Francisco de Santo Agostinho Macedo Respons. ad Not. in Apolog. P. Mazae pro Joan. Annio Viterb. pag. 41. testemunhando que examinara com seus olhos a Obra de Laymundo em o Real Convento de Alcobaça donde se convencia a indiscreta temeridade, e cega petulancia de alguns emulos de Fr. Bernardo de Brito querendo que elle fosse o inventor desta obra. In Lusitania nostra nobilis quidam fuit Regum Chronologus monachus Cisterciensis dictus Bernardus Brito. Hic multa in suis libris retulit cuiusdam Scriptoris antiquissimi (Laymundum apellabant) quae quia inaudita antea fuerunt, & auctor ignotus, putabantur vulgo commenta, idaque multi Brito cum sanna exprobabant, quasi ille auctorem illum confinxisset. Quin etiam contra scripserunt nonnulli eruditi (destes foy hum Diogo de Payua de Andrade Exame de Antiguidades. Part. 1. Trat. 2.) Pupugit hoc dictum quemdam ejusdem instituti monachum (Fr. Bernardino da Silva Defensa da Monarchia Lusitana. Part. I. cap. 2.) qui honorem, & fidem Briti scripta quadam apologia vindicavit, probavitque Laymundum inveniri manuscriptum in Regia Bibliotheca insignis Conventus Alcobaciae, ubi ego eum ipsemet vidi quem etiam reddiderant ambiguum illae cavillationes Criticorum, ac exinde didici minus temere de Scriptoribus judicare. Nicolao Antonio Bib. Vet. Hispan. lib. 6. c. 4. posto que naõ duvide da existencia da obra de Laymundo em o Archivo do Real Convento de Alcobaça fundado na atestaçaõ de Fr. Antonio Brandaõ Monge Cisterciense, e Chronista mor do Reyno se empenha a arguilla no severo Tribunal da sua critica com diversos fundamentos expendidos em os §. 78. 80. 81. 83. e 84. dos quaes se mostra naõ ser escrita no reynado dos Godos mas por Author muito posterior a este tempo afectando ser coevo do Imperio Gothico para conciliar mayor authoridade á sua narraçaõ. Reconheço a eficacia dos argumentos cõ que Niculao Antonio critica a Laymundo, mas como confessa que existia no Archivo de Alcobaça, sempre permanece illesa a fé com que se valeo desta obra Fr. Bernardo de Brito ainda que conheça varias implicancias que a fazem menos verdadeira. Além dos Authores que fallaraõ de Laymundo se lembraõ delle Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. Lit. L. n. 7. Rodrig. Mend. Silv. Poblac. Gen. de Esp. fol. 25. e Cathalog. Real de Esp. p. 36. Diogo de Gouvea Barradas Antig. de Beja liv. 2. cap. 23. e Fr. Ant. da Purif. De Vir. illustr. Ord. D. Aug. lib. 3. cap. 8. e Chron. da Prov. de Santo Agost. de Port. Part. 1. liv. 3. Tit. 4. §. 8. o qual lhe vestio o seu habito Erimitico em o Convento Cauleniano celebre archivo de fabulas monasticas de que era fecundissima a sua idea.
[Bibliotheca Lusitana, vol. III]