Inácio Gomes

IGNACIO GOMES natural da Villa de Estremoz em a Provincia Transtagana donde passou à India, e embarcando-se em Goa no anno de 1608. para Pegù padeceo hum horrivel naufragio na altura da cabeça de Cavallo do qual se salvou com desaseis pessoas de noventa, e duas, que hiaõ embarcadas. Sahindo a terra foy levado prezo pelos barbaros a Arrecaõ, e sendo desterrado para a terra de Maum cortando-lhe primeiro os calcanhares como he custume, aos que condenaõ a este desterro, e passados alguns annos como cazasse, e tivesse da sua consorte sinco filhos desejando bautizallos jà que os tinha instruido em os dogmas da Igreja Romana escreveo para este effeito.

Carta ao Padre Fr. Sebastiaõ Manrique Religioso dos Erimitas de Santo Agostinho Missionario Apostolico na India a qual traz o mesmo Padre no seu Itinerario Orient. cap. 29. pag. 178. Do Author desta Carta faz memoria o moderno addicionador da Bib. Orient. de Antonio de Leaõ Tom. 1. Tit. 13. col. 439.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]

Inácio Garcês Ferreira

IGNACIO GARCES FERREYRA. Naceo na Villa de Almeyda da Praça de Armas da Provincia da Beyra a 18 de Setembro de 1680. sendo filho de Antonio Cardoso Cavalleiro professo da Ordem de Christo, Vedor Geral da Provincia da Beyra, e de sua mulher D. Maria de Carvalho. Quando contava a florente idade de desanove annos recebeo a murça de Conego Secular do Evangelista a 19 de Março de 1700. em o Convento de S. Bento de Xabregas, e no Collegio de Coimbra estudou as sciencias severas, em que sahio taõ eminente como era em as amenas. Deixando com justificada cauza a sua Congregaçaõ partio para Roma a 25 de Dezembro de 1712. onde assistio até o anno de 1728. merecendo pela sua erudiçaõ  sagrada, e profana ser admitido a Academico dos Arcades com o nome de Gilmedo. De Roma passou a Napoles, e depois da demora de quasi tres annos se restituhio à Curia sendo provido em Conego Penitenciario da Cathedral de Lamego de que tomou posse a 22 de Dezembro de 1733. Cultivou desde os primeiros annos a Poesia observando com inclinaçaõ natural os misterios de taõ divina Arte, de cuja aplicaçaõ concebeo o nobre intento de commentar ao Principe do Parnasso Espanhol o nosso celebrado Camoens publicando

Luziada Poema Epico de Luiz, de Camoens Principe dos Poetas de Espanha illustrado com varias, e breves Notas, e com hum precedente Apparato do que lhe pertence. Tom. 1. Napoles na Officina Parriniana 1731. 4. grande. Tom. 2. Roma por Antonio Rosci 1732. 4. grande.

Elogio Parenetico a la magnanima piedad delRey Nuestro Señor D. Iuan él Quinto en ocasion de ofrecer a sua Santidad un grande socorro para la guerra contra el Turco. Roma por Domingos Antonio Hercules 1716. 4.

Tratado da lingua, e Orthografia Portuguesa. Promete esta obra na Prefaçaõ do Commento de Camoens à qual lhe falta a ultima lima.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]

Frei Inácio Galvão

Fr. IGNACIO GALVAM natural da Cidade de Evora onde virtuosamente educado por seus Pays Ioaõ Rodrigues, e Maria Diaz recebeo o habito da illustre Ordem dos Pregadores professando solemnemente a 22 de Fevereiro de 1592. Foy Prior do Convento da sua patria Regente dos Estudos em o de 1625. Reytor do Collegio de  S. Thomas de Coimbra em o de 1628. Pela sciencia Theologica, que com aplauzo dictou aos seus domesticos foy  promovido a Prezentado na mesma Faculdade, e recebeo as insignias doutoraes em Lisboa no anno de 1618. e depois foy Consultor do S. Officio. Teve grande liçaõ dos Santos Padres, e sagrados Expositores como o publicaõ as suas obras impressas, e M. S. ornadas de erudiçaõ divina, e humana. Em obzequio de seu Angelico Mestre de quem era cordialissimo devoto, publicou.

Discursus varii ex commentatione sapientiae D. Thomae Aquinatis Ecclesiae Doctoris collecti continens tam litteralem quàm etiam moralem expositionem diversorum sacrae Scripturae locorum, quibus Ecclesia eumdem Sandum Doctorem in solemni Missae sacrifricio pro illius festo die celebrando commendant Eborae apud Emmanuelem Carvalho. 1625. fol.

Discursus varii ex Commentatione sapientiae D. Thomae Aquinatis &c. volumen alterum. Ulyssipone apud Laurentium Craesbeeck. 1635. fol.

Sermaõ na Festa do glorioso Doutor Angelico S. Thomas a 7 de Março de 1612. Lisboa por Iorge Rodrigues. 1612. 4. Dedicado ao Chantre de Evora Manoel Severim de Faria.

Foy insigne Poeta Latino cujo sublime enthusiasmo deixou eternizado em hum Poema, que consta de 50 versos heroicos em aplauso da Etiopia Oriental composta por Fr. Ioaõ dos Santos alumno da Sagrada Ordem dos Pregadores, o qual sahio ao principio desta obra. Evora por Manoel de Lyra 1609. fol. Começa.

Ethiopum pharetrata parens, quam luce retexunt

Solis equi cum primùm alto se gurgite tollunt &c.

Commentaria in Psalmum 56. fol. M. S.

Fazem memoria deste author Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1. pag. 473. col. 1. afirmando que ainda vivia no anno de 1642. Echard Script. Ord. Praed. Tom. 2. p. 528. col. 1. Fr. Pedro Monteiro. Claustr. Dom. Tom. 3. p. 233. e Cathalogo dos Qualificadores do Santo Officio pag. 9. §. 10. e o P. Fonceca. Evor. Gloriosa. p. 404 e 412.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]

Inácio Ferreira Leitão

IGNACIO FERREYRA LEYTAM. Cavalleiro professo da Ordem de S. Tiago, Fidalgo da Caza Real naceo na Villa de Fonte Arcada em a Provincia da Beyra de Pays nobres quaes eraõ Pedro Simaõ Ferreira Amado, e Genebra Lopes Leytaõ. Resoluto a seguir as armas deixou a caza paterna, e chegando a Lisboa mudou o nome para naõ ser conhecido, e estando já embarcado em huma Galè, que com outras partia para Cadiz, foy descuberto por seu Tio, que com anciosa deligencia o buscava. Restituido involuntariamente à caza donde fogira foy mandado estudar na Universidade de Coimbra onde foraõ tantos os progressos que o seu grande engenho fez na Faculdade da Iurisprudencia Cesarea, que recebido o grao de Doutor mereceo ser admetido a Collegial do Real Collegio de S. Paulo a 6 de Agosto de 1679. Ocupou os mayores lugares de que eraõ dignas as suas letras como foraõ Dezembargador do Porto, e da Caza da Suplicaçaõ de que tomou posse a 29 de Abril de 1595. Dezembargador dos Aggravos a 19 de Novembro de 1598. Deputado da Meza da Conciencia a 19 de Fevereiro de 1603. Chanceller das Tres Ordens Militares, Vizitador dos Hospitaes das Caldas, de Santarem, e das Mercieiras de Obidos, Chanceller mór do Reyno, e Dezembargador do Paço. Observou rectamente a justiça inclinando-se mais por genio, que afectaçaõ a milhor parte. Era benefico para quem lhe fazia aggravos antepondo os preceitos do Evangelho aos dictames do Mundo. Nunca condenou reo ao ultimo suplicio antes com o seu voto salvou a dous Cossarios Inglezes que reduzio à verdadeira Religiaõ, e a hum delles sustentou à sua custa na Galé pelo espaço da sua vida. Esta charitativa comiseraçaõ se extendia com mayor excesso  aos pobres a quem o pejo lhes fechava a boca para solicitar o seu remedio. Castigava o corpo com severidade, frequentava os Sacramentos com ternura. Ambicioso de mayor perfeiçaõ pertendeo com repitidas instancias professar os austeros institutos dos Carmelitas Descalços, e Religiosos Arrabidos porèm naõ permitio Deos que conseguisse o fim dezejado de taõ santos intentos. Cumulado de obras meritorias depois de receber devotamente os Sacramentos expirou a 9 de Abril de 1629. Iaz sepultado na Capella de S. Iozè do Convento de Nossa Senhora dos Remedios de Lisboa de Carmelitas Descalços. Foy cazado com D. Paula de Sá filha de Gomes Correa de Lacerda, e D. Ignez de Sá, e Menezes de cujo consorcio naceo para eterno brazaõ da sua memoria a celebre heroina D. Bernarda Ferreira de Lacerda elegantissima Musa do Parnasso Portuguez da qual tivemos larga, e merecida mençaõ em seu lugar, e delle a fazem Fr. Belchior de Santa Anna Chron. de Carm. Descals. do Reyno de Portug. Tom. 1. liv. 2. cap. 55. n. 590. Cardoso Agiol. Lusit. Tom. 2. pag. 487. e no Commentario de 9 de Abril letr. H. e meu Irmaõ D. Iozè Barbosa Mem. do Colleg. Real de S. Paulo. p. 95 e no Archiath. Lusitan. pag. 20. descreve com metrica elegancia as principaes açoens deste insigne Varaõ, cantando.

Doctus erit Ferreira rapi quem cerno juventà

Cum prima incipiet lanugine tingere malas,

Numinis ardenti studio quod praesidet armis.

Ergo paterna vide fugitivum linquere tecta,

Quaerere que horrificum juvenili pectore Martem.

Non dabitur sera castra sequi Bellona Minervae

Cedet, & insigni concedet Laurea linguae

Otia nulla pati, dubias dissoluere lites

Rara erit egregio, praeclaraque Iudice virtus.

Ambitio quae corda solet torquere superbum

Nesciet Ignati generosum tundere pectus.

Sola repugnantem poterunt mandata Philippi.

Flectere, & antiquum penitus servare tenorem.

At jam justa senex capiet fastidia cautus;

Curis taedebit secli consumere vitam:

Virginis arcta petet sacratae claustra Teresae,

Sed frustra; Divum florent ubicumque Coronae.

Óquantos miserans pietate levabit egenos!

Condiet ipse dapes, obsonia lauta parabit,

Optima queis, poterunt adipisci praemia caeli

Illustris factis superas ascendet ad auras;

Non tamen occumbet, proles pia facta per aevum

Servabit dilecta Patris ter magna Lacerda,

Castalio quae fonte bibens numerosa fluenta

Incolet excelsi frondosa cacumina Pindi.

Compoz.

Practica a ElRey Filippe III. Nosso Senhor na entrada que fez em Lisboa dia de S. Pedro do anno de 1619. Lisboa por Pedro Crasbeeck. 1619. fol. e na Viag. De la Cathol. Real. Magestad delRey D. Filippe Nosso Senhor al Reyno de Portugal por Iuan Baptista Lavanha. Madrid por Thomas Iunti Impressor delRey Nosso Senhor 1622. fol. a fol. 32.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]

Inácio Espínola Castro e Meneses

IGNACIO ESPINOLA CASTRO, E MENEZES natural da Cidade do Funchal Capital da Ilha Terceira filho de Manoel Carvalho Valdeves igualmente nobre por nacimento como pelo engenho sendo muito perito em as letras humanas, e Artes liberaes. Compoz na lingua Castelhana nove Dialogos, que intitulou o 1. Hombre da lengua. o 2. Hombre gloton. &c.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]x\

Frei Inácio da Cunha

Fr. IGNACIO DA CUNHA natural da Villa de Provezende distante duas legoas da Cidade de Braga em a Provincia do Minho filho de Amaro Fernandes Godinho Capitaõ de Cavallos em a Provincia Transmontana, e D. Bernarda da Cunha ambos descendentes de familias distinctas. Deixando a caza paterna professou o instituto sagrado dos Erimitas de Santo Agostinho no Convento de Lisboa a 30 de Abril de 1696. Foy Lente jubilado na Sagrada Theologia, e Examinador Synodal na Curia Bracharense, Prior do Convento do Porto, e Definidor. Publicou.

Sermaõ da Canonizaçaõ dos gloriosos Santos Saõ Luiz Gonzaga, e Santo Estanislao Koscka em o segundo dia do solemnissimo triduo, que com assistencia do divinissimo Sacramento celebrou o Collegio de S. Paulo da Companhia de JESUS da Cidade de Braga em 28 de Julho de 1727. Lisboa na Officina Patriarchal da Musica. 1728. 4.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]