Narrado por uma osga, sujeita agora a essa “condição” mas que ainda relembra a sua vida anterior – pelo que parece haver um exercício de metempsicose qualquer ou simples reencarnação – o livro centra-se na personagem de Félix, um vendedor de passados albino, alguém que traça genealogias e toda uma história falsa, em suma, para justificar a ambição do sangue novo que grassa em Angola em que toda uma classe parece ter emergido após a guerra e quer ver as suas origens dignificadas ou mitificadas de alguma forma. Até que Félix aceita um trabalho diferente do normal, em que um indivíduo quer todo um passado inventado, o que só pode mostrar que ou não tem história ou tem história demais e quer fugir do que não consegue deixar para trás. No fim interligam-se várias histórias com um volte-face surpreendente e que revela a história de um país que ainda tem muitas cicatrizes por lamber. Dos livros que li de Agualusa fica-me sempre a sensação, no entanto, que há algo forçado na forma como tenta encaixar as peças do puzzle, ao querer interligar histórias distintas. A preparar-me para ver o filme a seguir. Paulo Serra

 

[texto publicado originalmente, em Outubro de 2016, no blogue Palavras Sublinhadas]