PONCE DE LEÃO, Isabel (2020). Pro Litteris. Porto: Fundação Eng. António de Almeida.

 

Reflexões polifónicas sobre literatura, arte, jornalismo cultural, leitura e leitores, turismo cultural, dinamismo cultural do Porto, Agustina, Régio, Sophia, Pessoa, artistas contemporâneos… entre tantos e tantos outros autores e temas diversos que convidam à leitura… De tudo isto (e muito mais) trata o livro Pro Litteris, de Isabel Ponce de Leão (editado agora pela Fundação Eng. António de Almeida).

Retenho uma reflexão ampla sobre a Arte no início do século XXI, onde o artista é, cada vez mais, um «profissional liberal», obrigado que se encontra a «pactuar com o chamado mundo da arte» e a «estabelecer relações de convivência pacífica com críticos, jornalistas, curadores, programadores culturais, editores, compradores, comerciantes, intermediários, revistas, fundações, galerias e museus» (p.270) — conceção esta tanto mais evidente quanto a circunstância de acontecer num contexto cultural paulatinamente marcado pelas «performances», pelas «ações coletivas», pelos «projetos», pelos «encontros internacionais», pelas «bienais» (271).

Neste início de milénio, em que «os artistas deixaram de ser artesãos de uma só arte para se dedicarem à Arte», e onde, com cautela, se fala em Pós-Colonialismo — discursividade essa figurada tematicamente na exploração cada vez mais consistente das “identidades”, das “etnias”, dos “géneros” —, neste início do século XXI, a Arte vai-se caracterizando pela «multiplicidade e pela transversabilidade», pela consolidação da «arte de rua», pela polifonia estilística, pela interação cada vez mais acentuada entre o artista e o seu público, pelo elemento “antagónico” (e, por vezes, inverosímil) (271-275), pela «verdadeira revolução […] na eleição dos materiais», mas também na «convivência pacífica e cooperante com movimentos artísticos anteriores» (275-279): a “Op Art”, o «Minimalismo», a «Pop Art», o «Geometrismo», a «poética do feio», o «neossurrealismo», o «expressionismo abstrato» (determinado ainda pelo sinal de Kandinsky ). E, no que a toda esta problemática diz respeito, conclui Isabel Ponce de Leão:

«[…] do geometrismo ao figurativismo, do abstracionismo ao neossurrealismo, do gestualismo ao expressionismo e ao neofigurativismo… tudo se junta numa encruzilhada que convoca a epígrafe de Deleuze: “A única questão realmente relevante para a arte é a sua relação com a vida”» (p.280)

Um livro para adquirir… e ler… e apreciar.

 

Dionísio Vila Maior