D. Fr. IOAÕ MANOEL natural de Lisboa e filho illegitimo do Serenissimo Rey D. Duarte, e de D. Ioanna Manoel filha legitima de D. Henrique Manoel de Vilhena Conde de Cintra, e irmaõ da Raynha D. Constança Manoel primeira mulher delRey D. Pedro I. de Portugal. Nos seus primeiros annos foy educado pelo V. Nuno de Santa Maria, que sendo Condestavel do Reyno preferio o Claustro à Campanha para conquistar o Ceo depois de ter triumfado varias vezes dos inimigos da patria, e com os documentos de taõ insigne Varaõ se deliberou a receber o habito Carmelitano, que elle professara no Convento de Lisboa, onde igualmente creceo nas Virtudes, e nas sciencias pelas quaes mereceo ser nomeado no anno de 1441. Provincial da Provincia Portugueza pelo Geral Fr. Ioaõ Facci cujo lugar juntamente com o de Comissario Geral conservou pelo longo espaço de trinta, e sinco annos por Breve de Eugenio IV. Governando esta Monarquia seu Tio o Infante D. Pedro Duque de Coimbra pela menoridade de seu Irmaõ D. Affonso V. o mandou por Embaxador a Hungria donde panou com o mesmo caracter a Roma quando já era Bispo Titular de Tiberiades juntamente com Ruy de Cunha Dom Prior mòr de Guimaraens onde alcançou da benignidade Pontificia de Eugenio IV. a separaçaõ da Comarca de Valença do Minho do Bispado de Tuy a que era sogeita, e a izençaõ dos Mestrados das Ordens militares de S. Tiago, e Aviz das Ordens de Velez, e Calatrava. Atendendo seu irmaõ aos grandes merecimentos da sua pessoa o nomeou Bispo de Ceuta, que vagara por morte de Fr. Aymaro religioso Menor, e Capellaõ mòr de Affonso V. em cuja dignidade foy confirmado por Eugenio IV. a 20 de Iulho de 1443. com a preeminencia de Primaz de Africa. Este Monarcha o nomeou seu Capellaõ mòr bautizando na Sé de Lisboa a 11 de Mayo de 1455. a seu sobrinho o Principe D. Ioaõ que depois subio ao trono de Portugal sendo o segundo deste nome. Pela vacatura do Bispado da Guarda por morte de D. Luiz da Guerra foy a elle transferido, e confirmado por Pio II. a 15 de Ianeiro de 1459. em cuja Diocese observou inviolavelmente a justiça, e evitou muitos abuzos, que a inercia culpavel de seus antecessores deixara insensivelmente introduzir. Atenuado com os annos, e achaques renunciou o Bispado nomeando por seu coadjutor a D. Ioaõ Affonso Ferraz Bispo de Ceuta em que foy confirmado por Xisto IV. a 24 de Iulho de 1476. e no fim deste anno sendo acometido da ultima enfermidade falleceo em Lisboa com saudade das suas ovelhas, que pelo espaço de 18 annos o experimentaraõ benevolo Pastor. Foy sepultado na Igreja do Real Convento do Carmo donde se tresladaraõ os seus ossos para o Cimiterio da parte da Portaria, e na Campa se lhe abrio este breve Epitafio.
Aqui jáz D. Fr. Ioaõ Manoel Bispo que foy da Guarda, Religioso do Carmo.
Deste illustre Prelado fazem honorifica mençaõ Vasconc. Anaceph. Reg. Lusit. pag. 166. n. 9. Brito Elog. dos Reys de Portug. pag. 92. e na Chron. de Cister Part. 1 . liv. 6. cap. 36. Cardozo Agiol. Lusit. Tom. 3. p. 690. letr. C. Barbuda Emprez. Milit. de Lusit. liv. 3. fol. 67. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Vet. Part. 2. liv. 9. cap. 7. Mariz Dial. de Var. Hist. Dial. 4. cap. 5. Faria Europ. Portug. Tom. 2. Part. 3. cap. 3. n. 27. e 58. Lezana Anal. Carmel. Tom. 4. pag. 856. Fr. Daniel à Virg. Mar. Specul. Carmel. Part. 2. p. 935. Cunha Hist. Eccles. de Braga. Part. 2. cap. 57. n. 9. Souza Theatr. Geneal. da Caz. de Souza pag. 829. Carvalho Corog. Portug. Tom. 3. liv. 2. cap. 47. e Tom. 2. liv. 1. Trat. 8. cap. 2. Imhof. Stem. Reg. Lusit. Tom. 1. pag. 127. Ioan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. lit. 1. n. 37. D. Fr. Thome de Faria Decad. 7. lib. 1. cap. 10. Pereira Leal Cathal. dos Bisp. da Guard. §. 24. D. Man. Caet. de Souz. Cathal. dos Bisp. Titul. pag. 172. e Fr. Manoel de Sá Mem. Hist. dos Escrit. da Prov. do Carm. de Portug. cap. 50. pag. 213. até 228. Compoz.
Estatutos da Collegiada de Ourem. Foraõ escritos em o anno de 1456. por Bulla de Eugenio IV. e por elles se governáraõ os Conegos até o anno de 1543. Fez outros o Illustrissimo Arcebispo de Lisboa D. Fernando de Vasconcellos, e Menezes os quais agora se observaõ.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]