D. IOANNA IOSEFA DE MENEZES terceira Condessa da Ericeira filha de D. Fernando de Menezes segundo Conde da Ericeira, Conselheiro de Estado, e guerra delRey D. Pedro II. seu Gentilhomem da Camara, Regedor das Iustiças, e Capitaõ General de Tangere, e de D. Leonor Filippa de Noronha Dama da Raynha D. Luiza filha de Fernaõ de Saldanha Commendador de S. Martinho de Santarem, e Governador Capitaõ Geral da Ilha da Madeira, e de D. Ioanna de Noronha filha herdeira de D. Manoel de Souza, Senhora do Morgado da Azinhaga, sahio à luz do mundo em Lisboa a 13 de Setembro de 1651. para novo esplendor da sua illustre Caza. Aprendeo os principios da lingua Latina com o Padre Antonio de Mello da Companhia de IESUS, e de seus Pays ouvio as instruçoens dos idiomas Italiano, Francez, e Espanhol, fallou com expediçaõ, e escreveo pureza, e elegancia. Igualmente foy exercitada nos preceitos da Rhetorica, e da Poetica em cuja Arte voou o seu espirito com tanta elevaçaõ ao cume do Parnaso, q a veneraraõ por sua Presidente as nove Musas, sendo os seus Versos elegantes, discretos, cadentes, e sentenciosos. Assim como a natureza a fez unica em a sciencia permitio, que tambem o fosse em a sucessaõ da sua Caza despozando-se como herdeira della com seu Tio D. Luiz de Menezes terceiro Conde da Ericeira, que igualmente eternizou o seu nome na palestra de Marte, que na Aula de Minerva. Deste illustre consorcio naceraõ D. Francisco Xavier de Menezes, e D. Maria Magdalena de Menezes perfeitas copias de taõ insignes Originaes onde a perspicacia do juizo se vio competida, e o estudo das Artes, e sciencias excedido. Entre as Damas do seu tempo mereceo lograr felismente unidas os raros indultos de fermosa, e discreta com que sem o dezar da vaidade inseparavel companheira daquelles dotes conciliava as atençoens dos dous mais nobres sentidos. Conhecendo a Magestade da Raynha da Gram Bretanha a Senhora D. Catherina as virtudes de que era ornada a nomeou sua Camarista em o anno de 1695. e pelo espaço de dez que teve este emprego foy summamente estimada por aquella Princeza confiando da sua prudente direçaõ graves negocios no tempo, que governou esta Monarchia por auzencia de seu irmaõ ElRey D. Pedro, os quais conferia com os Ministros Estrangeiros nas suas proprias linguas. Naõ recebeo menor estimaçaõ da Serenissima Raynha D. Maria Francisca Izabel de Saboya com quem teve comunicaçaõ por cartas escritas na lingua Franceza assim em prosa, como em Verso. Sem faltar ao governo domestico consumia grande parte do tempo na liçaõ da historia antigua, e moderna; dos Poetas Latinos, e vulgares, e outros authores de diversas Faculdades com que illustrava o entendimento, e enrequecia a memoria. Acometida de hum accidente de parlesia buscou para remedio os banhos das Caldas donde voltou com alguma lezaõ conservando sempre vigoroso o juizo até que oprimida de huma apoplexia em o Convento de Santa Clara, que lhe permitio fazer confissaõ geral de seus pecados, expirou com finaes de predestinada a 26.de Agosto de 1709. quando contava 58 annos de idade. Iaz sepultada na Capella mór do Convento da Annunciada de Religiosas Dominicas Padroado da sua Excellentissima Caza. Celebraõ o nome desta clarissima Heroina seu filho D. Francisco Xavier de Menezes 4. Conde da Ericeira na Henriquiada Cant. V. Out. 79.

Filho será de huma divina Musa

Que dos Heroes herdando alta grandeza

Unio Aonia na Hipocrene Lusa

Virtude, disrcriçaõ, sciencia, belleza.

Damiaõ Froes Pirim aliás Fr. Ioaõ de S. Pedro Theatr. Heroin. Tom. I. pag.  486. Celebrou, e conheceo este nosso seculo para enveja dos passados, e futuros, a sempre illustre Heroina D. Joanna Iosefa de Menezes. D. Antonio Caetano de Souza Hist. Gen. da Caz. Real Portug. Tom. 5. pag. 372. Foy dotada de grande fermosura, e admiraveis partes, muy discreta, e erudita como justificaõ varias composiçoens suas, e os seus versos. O Padre Antonio dos Reys Enthus. Poet. n. 274.

Thespiadum Ioanna choro dabat inclyta leges,

Et graviore sono quàm posset femina pigros

Surgere mortales extrema in praelia, somno

Admonet excusso: Musas habuisse Magistrum

Doctoremque pudet Phaebum, nec concipit iras

Ob praecepta sibi regalia sceptra Poesis

Ipse, sed ingenuè victum se fassus ab illá,

Plectra dedit fuerant quae quondam insignia summi

Praesidis atque graves tacitá testudine iaetus

Arrecta bibit aure sonos, gaudetque doceri

Compoz.

Despertador al Sueño de la vida en voz de un advertido desengaño. Lisboa por Manoel Lopes Ferreira. 1695. 4. Consta de trezentas Outavas elegantissimas. Publicou esta obra em nome de Apollinario de Almeyda seu criado. Traduzio da lingua Franceza em a materna.

Reflexoens sobre a Misericordia de Deos em forma de Soliloquios por huma peccadora arrependida compostas em Frances por Sor Luiza da Misericordia Carmelita Descalsa no seculo Luiza Francisca de la Beaume Leblanc Duqueza de Valiere, e de Vaugour, impressas em Pariz. 1680. e traduzidas em Portuguez. Lisboa por Miguel Deslandes 1694. 8. A excellente Traductora alem da Dedicatoria a Serenissima Rainha da Gram Bretanha, e do Prologo acrecentou diversas couzas às ditas Reflexoens.

Panegyrico ao governo da Serenissima Senhora Duqueza de Saboya Maria Ioanna Baptista de Saboya recitado pelo Abbade de sua Alteza Real na Academia de Turim aos 13 de Mayo de 1680. dia antecedente ao em que tomou posse do governo sua Alteza Real o Serenissimo Senhor Duque de Saboya Principe de Piamonte Rey de Chipre. Dedicado à Rainha D. Maria Izabel de Saboya. Lisboa por Ioaõ Galraõ 1680. 4.

Obras M. S.

Vida de Santo Agostinho com varias reflexoens. fol.

Poema funebre á morte da Rainha D. Maria Francisca Izabel de Saboya. Consta de 100. Outavas.

Cartas Francezas á Rainha D. Maria Francisca de Saboya, e outras Pessoas Illustres. 4.

Triunfo das Mulheres, traduzido de Frances, e illustrado.

Discursos Academicos, e Moraes com huma Novella Allegorica. 4.

Cartas Familiares a varias Senhoras 1. P. 4.

Cartas Familiares 2. P. 4.

Obras Poeticas Francesas, e Italianas. 4.

Obras Poeticas Hespanholas 1. P.

Obras Poeticas Espanholas que contem duas Comedias intitulada a 1 Divino Imperio de Amor. e a 2. El duelo de las finezas; dous Autos Sacramentaes, e outras obras de Theatro. 2. P. 4.

Obras Poeticas Espanholas que contem a Fabula de Andromeda, e Perseo

em sinco cantos. P. 3. 4.

Obras Poeticas Portuguezas. 4.

Todas estas obras M. S. se conservaõ na Livraria do Excellentissimo Marquez do Louriçal bisneto da Authora.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]