D. HENRIQUE decimo setimo Monarcha da Coroa Portugueza teve por Pays a os augustissimos Reys D. Manoel, e D. Maria sua segunda espoza, e por berço a famosa Cidade de Lisboa a 31 de Janeiro de 1512. estando toda cuberta de neve como feliz presagio da candura do seu animo, e pureza de seu corpo. Nos primeiros crepusculos da idade descubrio claras luzes com que havia igualmente illustrar as Virtudes, e as sciencias. Depois de ter profunda intelligencia das linguas Latina, Grega, e Hebraica, aprendeo as disciplinas Mathematicas com o Oraculo dellas o insigne Pedro Nunes, sahindo com semelhante progresso perito nas dificuldades da Filosofia, e mysterios da Theologia. Como a prudencia se anticipasse velosmente aos annos ainda naõ contava quatorze quando recebidas as primeiras Ordens ocupou o honorifico lugar do Prior Commendatario do Real Convento de Santa Cruz de Coimbra donde foy promovido à Cadeira Primacial de Braga em o anno de 1532. Para reforma dos abuzos, e observancia dos Canones Pontificios celebrou Synodo a 14 de Setembro de 1537. em que se estabeleceraõ as Constituiçoens para o governo de taõ dilatada Diocese, a qual renunciando em D. Diogo da Sylva Bispo de Ceuta a 3 de Julho de 1539. foy creado Inquizidor Geral destes Reynos, e suas Conquistas em cujo lugar fez patente o ardente zelo, que alimentava no peito contra os obstinados sequazes da Synagoga, fundando o Sagrado Tribunal do Santo Officio em Evora, e erigindoo novamente em Coimbra, e Goa. Morto intempestivamente seu irmaõ o Serenissimo Infante D. Affonso Bispo de Evora a 21 de Abril de 1540. o substituhio a 14 de Setembro nesta dignidade elevada ao privilegio de Metropolitana, sendo o primeiro Arcebispo desta illustre Cathedral. Para dignamente premiar os seus merecimentos competiaõ entre si as mais sublimes Dignidades sobre qual havia ser a primeira, que se ornasse com a sua pessoa, pois como se fosse pequena remuneraçaõ os lugares, que possuia o creou a Santidade de Paulo III. a 16 de Dezembro de 1545. Cardial com o titulo de Santa Cruz de Jerusalem, que depois foy mudado em o dos Santos quatro coroados, e Julio III. no anno de 1553. Legado à Latere neste Reyno. Tal era o conceito, que o agrado Collegio formou das virtudes deste Serenissimo Collega, que no Conclave, que se seguio à morte de Paulo III. concorreo com grande numero de votos para se coroar com a Tiara Vaticana. Naõ permitio a Cathedral de Lisboa, que as de Braga, e Evora se illustrassem com taõ insigne Pastor sem que ella participasse de semelhante gloria subindo a Metropolitano de taõ veneravel Diocese em o anno de 1564. por morte do Arcebispo D. Fernando de Vasconcellos, e Menezes. Em todos estes Arcebispados exercitou com indefessa vigilancia as obrigaçoens de Prelado zeloso administrando pessoalmente os Sacramentos, e dispendendo continuas esmolas sendo mais copiosas àquellas pessoas a que o pejo lhe fechava a boca para as pedir. Sem atender à propria saude vizitava todas as Parochias, e posto, que era naturalmente benigno se armava de rigor contra os vicios dos Ecclesiasticos por serem os claros espelhos a que compusessem as vidas os seculares. Para remedio de huma fatal esterilidade em as Provincias de Entre Douro, e Minho, e Tras os montes mandou vir do Reyno de França grande copia de paõ o qual foy providamente repartido pelas partes em que se experimentava mais urgente necessidade. Ornou as suas illustrissimas Espozas com preciosos ornamentos, e primorosas peças de ouro, e prata para mayor obsequio do culto divino, e pompoza celebraçaõ dos Officios Ecclesiasticos. O natural afecto, que tinha às sciencias como taõ versado nellas lhe inspirava a estimaçaõ, que fazia dos homens sabios como eraõ Andre de Resende, AyresBarbosa, D. Fr. Gaspar do Cazal, D. Jeronimo Osorio, e de outros muitos de que era fecunda aquella idade. Ainda se extendeo a mais dilatada esfera o desejo de se comunicar com varoens eruditos mandando convocar de Flandes a Joaõ Vazeo, e Nicolao Clenardo ambos peritos nas linguas Orientaes, e de Italia ao Padre Pedro Maffeo celebre em a Latina para que neste Idioma fizesse patente ao mundo as açoens mais que humanas obradas pelos Portuguezes nas vastissimas Regioens do Oriente. Ordenou a Damiaõ de Goes, e ao Bispo do Algarve D. Jeronimo Osorio escrevessem a Chronica de seu grande Pay o Serenissimo D. Manoel o I. na lingua materna, e o II. em a Latina, na qual se naõ excedeo, certamente competio com Quinto Curcio. Ao Dezembargador Duarte Nunes de Leaõ insinuou ser utilissimo para decisaõ das cauzas compilar diversas Leys, que por andarem dispersas eraõ ignoradas, de que resultava gravissimo detrimento aos Litigantes. Teve particular amizade com os Cardiaes S. Carlos Borromeo, Estanislao Hosio, e Jacobo Sadoleto igualmente eminentes pela purpura, que pela Sabidoria. Ao tempo que jantava ouvia altercar questoens sobre materias scientificas sendo para o seu gosto mais deliciosas estas controversias de que todas as iguarias, que soube inventar a arte para lizonja da gula. Foy sagradamente prodigo em beneficio das Familias Religiosas levantando para eterno padraõ da sua magnificencia a Universidade de Evora cuja direçaõ cometeo aos Padres Iesuitas donde como inexhaurivel manancial tem sahido caudalosos rios de erudiçaõ sagrada, e profana. Na mesma Cidade fundou o Collegio dos Porcionistas a que sucedeo o Real da Purificaçaõ compostos de sincoenta alumnos, cujo numero se reduzio passados alguns tempos a vinte, e sinco: a nova Parochia de Santo Antão; os Conventos de Valverde, e de Santo Antonio da Provincia da Piedade, de cujas plantas foy architecto; o Mosteiro de Santa Maria Magdalena de Religiosos Arrabidos junto da Villa de Alcobaça, a reedificaçaõ do Convento de Còs de Religiosas Cistercienses; a fundaçaõ do Collegio de S. Bernardo de Coimbra; e ultimamente o sumptuoso Collegio de Santo Antaõ em Lisboa para os Padres Jesuitas Sucedendo a morte de seu Irmaõ ElRey D. Ioaõ o III. a 11 de Iulho de 1557. naõ pode resistir às multiplicadas instancias da Raynha D. Catherina para ser seu adjunto na regencia desta Monarchia em quanto durasse a menoridade de seu Neto ElRey D. Sebastiaõ, mas passados dous annos resoluta esta Heroina largar a regencia como insoportavel aos seus hombros convocou Cortes onde sendo eficasmente instada pelos Tres Estados do Reyno a que executasse o seu intento, persistio nelle taõ constante, que foy resoluto naquelle politico congresso substituisse o seu lugar o Cardial D. Henrique cuja grave incumbencia aceitou constrangido a 23 de Dezembro de 1562. naõ querendo, que a sua repugnancia contribuisse para as infelicidades, que prudentementese receavaõ. He incrivel a vigilancia, que aplicou pelo espaço de seis annos na administraçaõ desta Monarchia edificando Fortalezas, expedindo armadas, alistando exercitos para que os seus dominios fundados nas quatro partes do Mundo estivessem impenetraveis a invasoens inimigas, naõ sendo menos activo o seu espirito em promover o augmento do comercio, o culto da Religiaõ, e a observancia da justiça. Elevado ao trono seu Sobrinho D. Sebastiaõ, a 20 de Ianeiro de 1568. dimitio o governo com igual jubilo à repugnancia com que o aceitara, e querendo aproveitar em santo ocio aquella parte de Vida, que lhe restava, se retirou a Evora a apacentar segunda vez aquellas ovelhas por morte de seu Pastor D. Ioaõ de Mello sucedida a 6 de Agosto de 1574. deixando eternamente saudosas as de Lisboa. No tempo, que estava em Alcobaça de cuja Real Abbadia era Commendatario, devendo esta illustrissima Congregaçaõ ao seu zelo a exacta observancia, que hoje practica em os seus claustros, lhe chegou a fatal noticia de que a 4 de Agosto de 1578. se sepultara com o seu Principe em os Campos de Alcacer a gloria da Naçaõ Portugueza. Consternado com este tragico sucesso passou a Lisboa, e como naõ havia outro Principe da linha Real, que legitimamente sucedesse no trono desta Coroa, posto que pela idade estava inhabil para o governo, foy aclamado em a Igreja do Hospital Real de todos os Santos a 28 de Agosto de 1578. A primeira açaõ do seu governo foy expedir copiosas somas de dinheiro para assistir a outenta Fidalgos, que estavaõ cativos nas masmorras de Africa, que foraõ restituidos à sua liberdade por D. Francisco da Costa Commendador de S. Vicente da Beyra Embaxador ao Xarife para concluir esta negociaçaõ. Instado das eficazes representaçoens de varios Principes, que como seus consanguineos pertendiaõ suceder nesta Coroa se resolveo convocar Cortes em Lisboa ao primeiro de Iunho de 1579. onde se elegeraõ sinco Governadores para a decisaõ de taõ grande controversia. Retirado a Almeirim por cauza da Epidemia, que fatalmente devastava aos moradores de Lisboa convocou para aquella Villa os tres Estados do Reyno a 11 de Ianeiro de 1580. onde vacillante o juizo pelo terror das armas de Castella deixou com culpavel inercia indecisa a nomeaçaõ de sucessor da Coroa cometendo aos sinco Governadores a faculdade da eleyçaõ. Naõ podendo a natureza já decrepita resistir à violencia de cuidados taõ importunos se rendeo à ultima infermidade, de cujo mortal perigo avizado recebeo com summa piedade os Sacramentos, e expirou placidamente, em o Paço de Almeirim a 31 de Ianeiro de 1580. quando fechava o perfeito circulo de 68 annos de idade renacendo para a eternidade em o mesmo dia, que nacera para o mundo. Teve a estatura mediana, os olhos azuis a cor do rosto alva, e corada, cabello louro que encaneceo antes da Velhice. De Almeirim foy transferido o seu cadaver a 14 de Dezembro de 1582. Por ordem de Filippe Prudente para o Real Convento de Belem onde passados cem annos foy aberta a sepultura a 12 de Iulho de 1682. para se collocar em hum sumptuoso Mausoleo, que mandara fabricar a piedosa magnificencia delRey D. Pedro II. e se achou o cadaver naõ sómente incorrupto, mas intactas as vestes cardinalicias, e sendo levantado o corpo com prudete advertencia para se examinar receberia com o ar algua diferença, se conservou no mesmo estado que tinha com geral admiraçaõ dos circunstantes, servindo taõ admiravel incorrupçaõ de claro testemunho da integridade da justiça, e pureza do corpo em que fora insigne. Sobre o Mausoleo se lhe gravou o seguinte Epitafio composto pela elegante Musa do Conde da Ericeira D. Fernando de Menezes.
Hic jacet Henricus gemino diademate clarus
Quod patrio sceptro purpura juncta fuit.
Conditur, &Regnum pariter cum Rege sepultum
Ut fores Imperiy vitaque morsque sui.
O excessivo sentimento, que universalmente houve pela sua morte explicou o Padre Manoel Pimenta insigne Poeta nestas metricas expressoens.
Te liquidi flevère lacus, Te pallidus auro
Rex Tagus, & mastus Te pater Occeanus
Te juga, Te montes, Te faeta draconibus antra,
Quaeque colunt vitreas squammea monatra domus.
Quin etiam summos testata in nocte dolores
Lucida pallentes Cynthia traxit equos.
Omnia dant lacrymas mundi loca, credite gentes
Maxima tot lacrymas non nisi damna petunt
Quantùn perdiderit generoso in Principe Mundus
Dat mare, dat tellus, astraque maesta fidem.
As Virtudes, e dotes com que se illustrou a sua alma saõ heroico assumpto dos Elogios de Varoens insignes, e Escritores sabios. O Summo Pontifice Pio IV. em huma Bulla expedida no anno de 1561. formou tal conceito da sua pessoa, que desejava descansar sobre elle parte dos seus cuidados pastoraes dizendo-lhe: in animo habuerimus pro universalis Ecclesiae felici regimine nostrae solicitudinis partem curae tuae comittere, ac demandare tibi, cujus fides, vitae integritas, singularis virtutis merita nobis jam ante nostram ad Summi Apostolatùs assumptionem, cognita, & probata existunt. Semelhante Elogio lhe fez seu sucessor S. Pio V. em huma Carta, que lhe escreveo no anno de 1566. Jucunda nobis fuit commemoratio pietatis, ac virtutis Regis Sebastiani, &ingentis spei, ac xpectationis quam de se omnibus illa jam aetate affert: id quod Nos cum vi naturae, Generisque tribuimus, tum vero paternae curae, ac institutioni uae, nec solùm monitis sapientissimis, sed etiam exemplis, quae in Te sibi proposita ad imitandum habuit. Santo Ignacio de Loyola em Carta escrita de Roma a 6 de Iulho de 1553. Tambem me consolei muito em o Senhor nosso com o que V. A. se dignou escreverme do serviço, que se faz nessas partes à divina Magestade pelos baixos instrumentos desta minima Companhia, porque taõ grave testemunho de quem Deos Nosso Senhor tem dotado de tanta luz, e espirito, naõ pode se naõ ter muy grande pezo. O Doutor Martim Aspilcueta Navarro Manual. Confessar. De 7. Praecep. Decal. n. 206. Omnium virtutum heroicarom panegyri, rerum divinarum, & humanarum eximia cognitione comitatus. Petrus Nunes De Crepuscul. in Epist. Dedicatr. ad Ioannem III. Qui cum nullum tempus intermittat, quin semper, aut animarum saluti prospiciat, aut optimos quosque authores evolvat, aut litteratorum hominum Colloquia audiat, Astronomiae theorematis mirum in modum delectatur, non illius quidem fluxae fidei, &pene jam explosae, qui judiciis ad visam, fortunamque petentibus agit, sed quae de syderum cursu, deque universa caeli ratione disputat. Eum tu Rex humanissime decem abhinc annis (escrevia esta epistola no de 1541.) Mathematicis scientiis instituendum à me curasti. Didicit ille diligentissme, brevique tempore Arithmetica & Geometrica Euclidis Elementa, Sphaerae Tractatum, Theoricas planetarum, partem magnae Astrorum compostionis, Ptolomaei Aristotelis Mechanica, Cosmographica omnia, Priscorum quorumdam instrumentorum usu, & non nullorum etiam, quae ego ad navigandi artem excogitaveram. Didac. de Payva, e Andrad. Epist. Dedic. Defens. ad Gregor. XIII. Princeps omnium virtutum genere ornatissimus. Joaõ de Barros Paneg. à Inf. D. Mar. n. 80. cujos custumes, santa vida, e purissima limpeza de vida nos representaõ em nossos dias o grande Gregorio, Basilio, ou Agostinho. Padre Antonio de Macedo. Lusit. Inful. pag. 258. indole excelsa, ingenio ad virtutem docili, ad litteras comparato. Goes Chron. delRey D. Man. Part. 3. cap. 27. No trato da sua pessoa severo, e pouco mimoso, muy continente, e temperado fóra de toda a cobiça, e ambiçaõ de proveitos, e honras temporaes. Marrac. Purpur. Marian. pag. 197. Qui non solùm rara quadam sanctitatis perfectione, sed etiam regali majestate (quod ad ejus aetatem visum non fuerat) sacrum Cardinalium Collegium illustravit; & Coronam galero, sceptro baculum, et utramque purpuram copulavit. & Bib. Marian. Part. 1. pag. 562. Vir optimarum omnium virtutum laude inclytus, & praeclarus tam corporis, quàm animi dotibus à Deo ornatus. Telles Chron. da Comp. de Jesus da Prov. de Portug. Part. 2. liv. 5. cap. 28. n. 5. Com a idade foy crecendo na sciencia da Sagrada Escritura, e Theologia; inclinou-se muito à liçaõ dos Santos Padres onde adquirio bom cabedal de sciencias, das quais deu mostras em muitas ocasoens. Osor. De Reb. Emman. lib. 8. Plane constat in illius probitate, virtute, religione, constantia, & in Sanctitatis exemplo Lusitani Imperii firmamentum consistere. Vasconcel. Anaceph. Reg. Lusit. pag. 339. Suopte ingenio gravis, loquendi dispersior, veritatis summe amator, secreti aprime tenax, laborum patiens, abhorrens à diliciis, accerrimus justitiae cultor. Brito Elog. dos Reys de Portug. Elog. 18. Teve grande zelo das cousas de Deos, e conciencia. Palat. Fast. Cardinal. Tom. 3. col. 184. In Henrico mirabatur Lusitania, quod in sanctae memoriae Pio V. Roma suspiciebat. Maris Dial. de Var. Hist. Dial. 5. cap. 5. Do Grego, Hebraico, Mathematica, e Filosofia entendeo bem os principios. Ciacon. Vit. Pontif. Roman. Tom. 3. col. mihi 718. In quo multa, ac praeclara tam corporis, quam animi partes, & eximiae ingenii dotes erant, quibus accedebat litterarum cognitio, vitae integritas, morum Sanctimonia, magna, ac vere regia liberalitas, qua pios semper homines, & studia fovebat. Clede Hist. Gen. de Portug. Tom. 2. pag. mihi 89. Il etoit versè dans 1e Droit Canon; i1 connoissoit plusiurs langues. Barbud. Emp. Milit. de Lusit. liv. 17. Principe dotado de muchas virtudes, y en quien concorrieron las caridades necessarias a un buen Rey. Duard. Non. de Ver. Reg. Portug. Orig. fol. 45. v.° Religionis, fidei negotia, cujus summum gessit magistratum tanta industria, & integritate tractavit conquistis ad id viris optimis, et doctissimis, quorum operá usus est, ut secundum Deum ei videatur acceptum ferendum summum religionis studium, quo Lusitania inter omnes alias Orbis provincial eminet. Cunha Hist. Eccles. de Brag. Part. 2. cap. 74. e 75. Atichy Flor. Cardinal. Tom. 3. pag. 293. Pallavic. Hist. Concil. Trid. Part. 2. lib. 24. cap. 9. n. 15. Thuan. Hist. Tom. 2. ad ann. 1580. lib. 69. e 70. Franco Imag. da virt. em o Nov. de Evor. liv. 1. cap. 5. E seguinte, e Annal. S. J. in Lusit. pag. 122. n. 8.
Compoz.
Meditaçoens, e homilias sobre alguns Mysterios da Vida de nosso Redemtor, e sobre alguns lugares do Santo Evangelho, que fez o Serenissmo, e Reverendo Cardial Infante Dom Henrique por sua particular devoçaõ. Evora sem anno da impressaõ em letra gothica. Depois sahiraõ Lisboa por Antonio Riheiro 1574. 8. Esta obra foy publicada por deligencia do insigne Varaõ Fr. Luiz de Granada da qual faz no Prologo o seguinte juizo. Estan estas meditaciones tan llenas de sentencias, y doctrinas tan provechozas; van acompanadas con tantos, y tan dulces, y devotos afectos y sentimientos; son las sentencias tan proprias, y tan acomodadas a los Mysterios, que tratar; es el estilo por una parte tan dulce, e por otra tan grave y tan elegante, que quien quiere que los leyere, conocerà que el estilo es de Principe, y de pecho Real. Da lingua Portugueza transferio esta obra à Latina Fr. Antonio de Sena Dominico à instancia de Francisco Giraldes Embaxador de Castella em a Corte de Inglaterra, e lhe acrecentou o Tratado dos Tres votos essenciaes da Religiaõ composto por Fr. Humberto de Romanis Mestre Geral da Ordem dos Pregadores, e sahio dedicada ao dito Embaxador. Lovanii apud Servatium Sassenium. 1575. 12. Ultimamente os Padres Jesuitas do Collegio de Evora em agradecida memoria do Serenissimo Cardial Infante seu magnifico Protector traduziraõ esta obra em latim mais puro, e elegante, e sahio com o titulo seguinte.
Meditationes, & homiliae in aliqua mysteria Salvatoris, & in nonnulla Evangelii loca, quas sibi privatim conscripsit Serenissmus, & Reverendissmus Cardinalis D. Henricus potentissimi, ac invictissimi Emmanuelis quondam Portugallia Regis filius. Olyssipone apud Franciscum Correa 1576. 8. Esta ediçaõ sahio addicionada com as Meditaçoens sobre a Magnificat, e Oraçaõ Dominical. sendo estas ultimas já traduzidas em latim pelo Cicero Portuguez D. Jeronimo Osorio como confessaõ no Prologo ao Leytor os tradutores. Foraõ tambem estas ultimas Meditaçoens vertidas em Outava Rima por Andre Falcaõ de Resende sobrinho do Chronista Garcia de Resende, cuja obra começa.
Remirte ò homem quiz Deos Sempiterno
Com resgate de amor maravilhoso.
Constituiçoens do Arcebispo de Braga. Lisboa por Germaõ Galharde. 1538. fol.
Baptisterio segundo o custume Romaõ com outras cousas muito necessarias aos Curas, e Capellaens agora novamente correcto, e augmentado por mandado do Serenissimo Iffante de Portugal D. Anrique Cardial de Santa Igreia de Roma Lisboa na Caza de Joannes Blavio de Agripina Colonia Impressor delRey Nosso Senhor. Acabou-se aos 20 dias de Dezembro anno 1558. 4.
Constituiçoens do Bispado de Evora impressas por mandado do muito alto, e muito excellente Principe, e Senhor o Senhor Cardial Infante de Portugal. Evora por Andre de Burgos. 1558. fol.
Decretos, e determinaçoens do Sagrado Concilio Tridentino que devem ser notificadas ao povo por serem de sua obrigaçaõ, e se haõ de publicar nas Parochias. Lisboa por Francisco Correa Impressor do Cardial Iffante Nosso Senhor aos 15 de Outubro de 1564. 4.
Constituiçoens Extravagantes do Arcebispado de Lisboa. Lisboa em caza de Francisco Correa Impressor do Serenissimo Infante aos 26 de Iulho de 1565. fol. Ibi 1569. fol.
Practica a ElRey D. Sebastiaõ quando a 20 de Janeiro de 1568. lhe entregou o governo do Reyno. Impressa na Hist. Sebastic. de Fr. Manoel dos Santos Chronista deste Reyno liv. 2. cap. I.
Memorial, que aprezentou a ElRey D. Sebastiaõ em que relatava tudo quanto tinha obrado em serviço da Coroa no espaço de seis annos que a regeo Impresso na Chron.da Comp. de Jesus da Prov. de Portugal composta pelo Padre Telles Part. 2. liv. 5. cap. 30. n. 4.
Duas Cartas de recomendaçaõ a favor do Padre Luiz Gonçalves da Camara escritas a dous Cardiaes, a 20, e 26 de Ianeiro de 1553. Impressas na Chronic. Da Comp. de Jesus da Prov. de Portug. composta pelo Padre Telles liv. 4. cap. 13. n. 2. e 5.
Carta a S. Francisco de Borja escrita de Lisboa a 11 Novembro de 1559. Impressa na dita Chronic. Part. 2. liv. 5. cap. 20. n. 2.
Epistola Santissimo Domino Pio IV. data Ulyssipone 4. Kal. Januar 1568. Impressa na dita Chron. liv. 5 . cap. 32.
Mandou traduzir em Portuguez para instruçaõ dos Parochos da Diocese Bracharense quando era seu Arcebispo.
Sacramental de Clemente Sanches do Vercial Arcediago de Valdeiras em a Igreja de Leaõ. Braga por Ioaõ Beltraõ, e Pedro de la Rocha. Acabouse de imprimir aos 15 dias do mez de Fevereiro de 1539. Desta traduçaõ se lembraõ o Illustrissimo Cunha Hist. Eccles. de Brag. Part. 2. cap. 74. n. 6. e D. Nicol. Anton. Bib. Hisp. Vet. lib. 10. cap. 2. §. 93.
Cousas de devoçaõ, que fez ElRey D. Henrique Cardial, e Miguel de Moura ordenou se tresladassem de papeis rubricados por sua Alteza, que foraõ achados em hum escritorio na morte do dito Senhor. M. S.
Lembranças para qualquer pessoa examinar sua conciencia, M. S.
Lembranças, que deve ter o Rey deste Reyno para examinar, e repartir as horas de dia, e de noute. M. S.
Exposiçaõ sobre o Psalmo Misericordiam, & judicium cantabo tibi Domine. M. S.
Meditaçaõ sobre a conversaõ da Magdalena. M. S.
Tercetos sobre o Evangelho da Samaritana. M. S.
Practica aos Monges de Alcobaça em o Capitulo celebrado a 30 de Setembro de 1573. M. S.
Todas estas obras M. S. se conservaõ na Livraria do Illustrissimo, e Excellentissimo Duque de Lafoens, que foy do Eminentissimo Cardial de Souza.
Discurso em que se mostra que S. Paulo pregara a Fé em Hespanha. M. S.
Observaçoens Historicas; as quais comunicou a Ioaõ Vasco para a Chronica de Espanha, que compoz, como escreve no Prologo desta obra. Sed non contentus begnissmus Princeps hoc beneficio si quid etiam in legendis authoribus, ut omne tempus, quod ab oratione, & publicis negotiis vacat, Sacrorum Authorum lectione transgit, observaret quod instituto meo conduceret, humanissime mihi communicavit. Destas duas obras fazem memoria Ciacon. Vit. Pontif. Roman. Tom. 3. col. mihi 719. e Palat. Fasti Cardin. Tom. 3. col. mihi 192.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]