D. HELENA DA SYLVA descendente da nobre familia dos Falcoens, e Religiosa em o Cisterciense Convento de Cellas junto a Coimbra cujo habito vestio por insinuaçaõ do seu mellifluo Patriarcha a quem dedicou com tal excesso o seu coraçaõ, que todas as vezes, que via a sua Imagem, ou ouvia o seu nome se arrebatava em suaves extasis como querendo voar para o centro dos seus ternissimos afectos. Para triunfar das sugestoens do espirito infernal naõ houve genero algum de mortificaçaõ, que naõ uzasse chegando muitas vezes a excesso a tyrania com que macerava o corpo. Continuamente meditava em os dolorosos mysterios da Payxaõ de Christo correspondendo com lagrimas copiosas ao sangue, que no Pretorio, e Calvario derramou o divino Redemptor. Superiormente lhe foy patente o campo de Alcacer em que a 4. de Agosto de 1578. agonizou com o seu Principe a Monarchia Portugueza, cuja deploravel derrota revelou com sinaes de penetrante sentimento a algumas Religiosas. Cumulada de heroicas virtudes partio a receber do seu immaculado Espozo o merecido premio a 28 de Mayo do anno de 1590. Teve natural genio para a Poezia cujo enthusiasmo sanctificou com a obra seguinte.

Poema a la Passion de Christo o qual como escreve Fr. Bernardo de Brito Chron. de Cist. liv. 6. c. 34. he composto por alto estilo, e lindo modo de consideraçaõ. Souza de Macedo Flor. de Espan. cap. 8. excel. 11. Igualando en el assumpto, y ingenio la famosa Imperatriz Athanais, o Eudoxia, que de los Versos de Homero compuso la vida de Christo, y la celebre Romana Proba Falconia, que de los de Virgilio hizo lo mismo. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 2. pag. 344. col. 2. sacri carminis perita in paucis artifex. Entre as Musas Portuguezas he collocada pelo Padre Antonio dos Reys. Enthus. Poet. n. 275.

Sylva Redemptoris pendentis ab arbore mortem

Flet gemebunda sui tristi modulamine narrans

Qualiter occulto subitá caligine sole,

Noluerit micuisse dies, et terra fatiscens

Reddiderit vivos, quos abdidit ante sepultos

Saxaque confixi Domini ceu fata dolerent

Vulnere se crebro lacerarint.

Fazem tambem della illustre memória Fr. Chrisost. Henriq. Menol. Cisterc. Ad diem 18. Maii. & in Cathalog. Sanct. Ord. cap. 7. pag. 470. Cardozo Agiol. Lusit. Tom. 3. pag. 433. e pag. 441. no Coment. de 28. de Mayo letr. E. Fr. Franc. da Nativid. Lenit. da Dor. pag. 310. Fonceca Evora Glorios. pag. 415. onde a faz natural de Evora, e Religiosa em o Convento de S. Bento de Castris onde nunca assistio por ser de Religlosas Benedictinas, e ella ter professado o instituto Cisterciense em o Convento de Cellas.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]