Fr. GUILHERME DA PAYXÃO natural da augusta Cidade de Braga, e grande credito da Familia Cisterciense onde depois de professo se fez exemplar do estado monastico. Ainda, que padecia continuas molestias sempre uzou na cama, e vestidos interiores de estamenha, e o que he mais digno de admiraçaõ o trazer sempre cingido o corpo com hum aspero cilicio. Pelo largo espaço de trinta annos nunca deceo à Cerca para naõ ter ocaziaõ de violar o silencio. Era mayor a sua habitaçaõ no Coro, que na Cella onde passava duas horas contemplando os divinos atributos. Estas heroicas virtudes lhe conciliaraõ a veneraçaõ dos Reys, e Principes do seu tempo distinguindo-se entre elles o Cardial D. Henrique de quem foy Confessor seis annos o qual sendo Abbade Geral de Alcobaça, e naõ podendo assistir impedido de achaques ao Capitulo, que se havia celebrar em o 1 de Mayo de 1579. o nomeou seu substituto por huma Provizaõ escrita em Lisboa a 17 de Março do referido anno de cujas clausuras se manifesta o grave conceito, que formava da sua Pessoa. Confiando eu da virtude, prudencia, zelo da Religiaõ, e bom exemplo de vida, e costumes do Padre Fr. Guilherme da Payxaõ Prior do dito Mosteiro, e crendo, que fará bem, fielmente como ao serviço do Nosso Senhor, bem da dita Ordem, e descargo de minha conciencia tudo, que por mim lhe for cometido, e encomendado com a inteireza, que convem, sem se mover por respeito algum particular como até qui tem feito, lhe cometo minhas vezes &c. Naõ foy menos aceito ao Cardial Alberto de Austria quando governava este Reyno cometendo-lhe à sua prudente direçaõ a vizita, e reforma da Ordem Terceira da Penitencia do Serafico Patriarcha cuja incumbencia começando a 2 de Dezembro de 1587. a concluio a 15 de Abril de 1588. com grande credito do seu talento, e naõ menor gloria daquella Religiosa Familia. Sendo elevado à dignidade de Geral alcançou novos aplauzos de prudente, e vigilante na administraçaõ de taõ grande lugar. Pelo afectuozo obsequio com que venerava ao Principe da Milicia angelica S. Miguel lhe erigio em o Cruzeiro do Convento de Alcobaça hum sumptuoso Altar, e para naõ caducar na posteridade a memoria de quem o tinha erigido lhe gravou na parte superior Fr. Filippe de Siaõ filho do grande Chronista Damiaõ de Goes o seguinte dysticho.
Guillielmus Abbas cum Christi passio nomen
Hìc dedit Altare dum Generalis erat.
Cumulado de virtudes, que excediaõ o numero dos annos passou a lograr o premio eterno a 21 de Mayo de 1601. Os Monges o sepultaraõ no mesmo lugar onde jazia S. Domingos Martiñs Abbade, que fora daquella Real Caza, e já está collocado em o Cathalogo dos Santos. Delle escrevem com Elogios Fr. Bernardo de Brito Chron. de Cist. 1. Part. liv. 3. cap. 22. Jongel. Notit. Abbat. Ord. pag. 32. Visch Bib. Cisterc. pag. 136. Manriq. Annal. Cisterc. Apend. 1. Iorge Cardozo Agiol. Lusit. Tom. 3. p. 343. e pag. 352. no Comment. de 21 de Mayo letr. D. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1. pag. 240. col. 2. e Tom. 2. pag. 296. col. 1. Franckenau Bib. Hisp. Geneal. Herald. pag. 168. Compoz.
Labyrintho espiritual. Nesta obra trata particularmente do Archanjo S. Miguel de quem era summamente devoto, e dos Anjos onde mostra a grande sciencia nesta materia Theologica. Pela profunda humildade, que observava naõ descubrio o seu nome, e somente diz ser composta por Fr. Ninguem. Conserva-se em Alcobaça no Caixaõ das tres chaves.
Chronica do Real Convento de Alcobaça. Composta no anno de 1582. fol. M. S.
Noticia das Fundaçoens dos Conventos de Cister em o Reyno de Portugal. fol. M. S. Destas duas obras faz mençaõ Fr. Angelo Manrique Annal. Cisterc. Tom. 2. ad an. Christi. 1147. cap. 17. n. 10. & ad an. 1171. cap. 8. n. 11. & ad an. 1221. cap. 9. n. 2.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]