GREGORIO SYLVESTRE naceo em Lisboa a 31 de Dezembro de 1520. sendo filho do Doutor Joaõ Rodrigues Medico delRey D. Joaõ o III. e de D. Maria de Meza natural da Cidade de Cadiz. Quando contava a tenra idade de sete annos o levou seu Pay para Castella acompanhando com o lugar de Medico a Serenissima Infanta D. Izabel quando se hia despozar com o invictissimo Emperador Carlos V. Tanto, que cumprio quatorze annos foy admetido ao serviço do Conde de Feria em cuja caza se congregavaõ os mayores engenhos poeticos entre os quais se distinguia Garcia Sanches de Badajos de quem depois foy fiel imitador principalmente na composiçaõ das Redondilhas. Sendo já celebrado o seu nome pela destreza, e suavidade com que tocava Orgaõ por cujos dotes foy provido em primeiro Organista da Cathedral de Granada, ainda dilatou mais extensamente a sua fama por inventor dos Versos de doze pês muito mais pomposos, e elegantes, que os de onze practicados por Ioaõ de Mena, e Boscan, cujo armonico invento celebra seu afectuoso amigo Luiz de Barahona do Soto em huma carta dizendo-lhe.

Y que per los Versos desligados

De la Espanola lengua, e Italiana

Seran con la medida encadenados

Deveros ha de aqui la Castellana

Mas que la Griega deve al claro Homero,

Y al inclito Virgilio la Romana.

Pelo elevado espirito da sua Musa, e judiciosa promptidaõ dos seus apothegmas conciliou as estimaçoens de D. Affonso Portocarreiro filho do Marquez de Villa nova, D. Affonso Vanegas, e do Marquez de Vilhena aos quais celebrou com varias Poezias. Sempre conservou erudito comercio com Diogo de Mendoça, D. Fernando da Cunha intitulado Honra da Poezia de Espana, Joaõ Latino doutissimo nos idiomas Grego, e Latino, e Iozeph Taxardo insigne nas disciplinas Mathematicas, e linguas Orientaes. A natureza, que liberalmente o ornou dos dotes Pertencentes ao espirito, foy summamente avara nos que respeitaõ ao corpo parecendo pela desproporçaõ da Symetria, e deformidade do rosto mais monstro de que homem como sinceramente o pintou Luiz de Barahona com estas cores poeticas.

Salistes por el mucho fuego adusto

Y por labrar el animo excellente

Dexò de monstruo el cuerpo tan robusto Cabello casi crespo y ancha frente

Sin raya transversal con una ocura

Por entre ceja y ceja solamente &c.

Foy cazado com D. Ioanna Cazorla y Palencia de quem teve numerosa descendencia, que naõ degenerou do talento de seu Pay. Falleceo em a Cidade de Granada no anno de 1570. com 50 de idade. Iaz sepultado no Convento dos Carmelitas. Seu amigo Pedro de Caceres, e Espinosa lhe compoz o seguinte Epitafio para se lhe gravar na sepultura.

El que en dulce Poesia

Fue mas famoso en la tierra

Que quantos el Cielo cria

Su cuerpo aora se encierra

En aquesta piedra fria.

Altas Musas poderosas

Sobre su sepulchro amado

Derramad perlas preciosas

Pues en el está guardado

Quien os hiso tan famosas.

Celebres escritores eternizaõ com diversos Elogios a sua memoria. Lourenço Gracian Art. de Ingen. Disc. 28. lhe chama ingenioso Portuguez. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1. pag. 418. col. 2. inter aequales sui temporis non mediocris existimationis Poeta fazendoo erradamente natural de Badajos. Manoel de Faria, e Souza Prolog. da 1. Part. da Fuent. de Aganip. n. 10. Ioaõ Soar. de Brito Theatr. Lusit. Liter. lit. G. n. 57. Lope de Vega Carpio Laurel de Apollo. Sylva 2.

Que el antigo Sylvestre

Basta que solo muestre

El gran nombre, que tuvo

Quando en la cumbre del Parnasso estuvo.

Sahiraõ as obras deste grande Poeta com este titulo.

Las obras del famoso Poeta Gregorio Sylvestre recopiladas, y recogidas por deligencia de sus herederos y de Pedro de Caceres, y Espinosa. Lisboa por Manoel de Lyra 1592. 12. Granada por Sebastian de Mena. 1599. 8.

Terno, que constava de 100. Outavas cada Terno. O 1. Tratava da Payxaõ de Christo. 2. da Decida ao Limbo. 3. da Ascensaõ ao Ceo. Por naõ estar esta obra perfeitamente acabada a mandou o author reduzir a cinzas.

Varios Vilhancicos, e Entremezes para a Cathedral de Granada cujas obras compunha por obrigaçaõ de ser o primeiro Organista desta Igreja.

Arte de escrever por Cifra. M. S. Desta obra faz mençaõ o seu amigo Luiz de Barahona na carta, que lhe escreveo.

Ay outra sciencia antigua en que se escrive

Occultas cosas de secreto dignas

De dò provechos grandes se recive

La qual de cifras consta clandestinas.

De quien formaste arte, que es bastante declarar las hojas Sybillinas

Tan clara tan subtil, tan elegante

Que os prueba por primero, y sin segundo

En los de atràs, de aora, e de adelante.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]