D. Fr. GONÇALO DE MORAES. Naceo em Villafranca de Lampazes lugar situado na Comarca da Provincia Transmontana de Pays nobres quais eraõ Antonio Borges de Moraes, e Francisca de Moraes sua parente. Na puericia descubrio tal propesaõ para todos os actos virtuozos que servia de exemplar a domesticos, e estranhos. Instruido na Gramatica Latina, e letras humanas quando contava quatorze annos de idade se dedicou a Deos na augusta Religiaõ do Principe dos Patriarchas S. Bento recebendo a cogulla monachal em o Mosteiro de S. Miguel de Refoyos em o anno de 1557. Nesta sagrada palestra excedeo ainda em o Noviciado a todos os seus companheiros na exacta observancia do seu instituto, onde feita a profissaõ solemne estudou as sciencias escholasticas em a Universidade de Coimbra em que fez taes progressos a grande penetraçaõ do seu engenho que mereceo as aclamaçoens de consumado Theologo. A especulaçaõ das sciencias unida à pratica das virtudes o constituhiraõ digno de exercitar os lugares mais honorificos da sua Religiaõ, como foraõ Abbade de Santarem pelo espaço de dez annos, e Geral de toda a Congregaçaõ Benedictina em o anno de 1590. em cujo prudente governo floreceo a disciplina regular como no tempo do seu Santissimo Patriarcha. Dezejozo de passar os ultimos annos em virtuoza tranquilidade alcançou em o Capitulo Geral faculdade para viver retirado no Mosteiro de Lisboa onde fazendo da Corte dezerto se exercitava nos ministerios da vida monachal sendo os mais continuos Oraçaõ fervorosa, e silencio inviolavel. Deste sagrado retiro foy chamado pela Magestade de Filipe Prudente para a Cadeira Episcopal do Porto que vagara por morte de D. Jeronimo de Menezes, e ainda que reprezentou a sua incapacidade para taõ sublime lugar, foy sagrado no anno de 1602. Aquellas virtudes pastoraes practicadas pelos Prelados da primitiva Igreja lhe serviraõ de exemplar por onde regulou as suas açoens vizitando pessoalmente toda a sua Diocese, e crismando a innumeraveis pessoas por haver muito tempo, que se naõ tinha administrado este Sacramento, dispendendo com liberal maõ infinitas esmolas em beneficio da pobreza, zelando a jurisdiçaõ Ecclesiastica, e o decoro devido à sua dignidade em cuja empreza deu evidentes provas de coraçaõ intrepido, e animo destimido, e reformando o Clero com prudente suavidade pela qual se fez temido, e respeitado. Edificou desde os fundamentos a Capella Mòr da sua Cathedral com tanta magnificencia, que competio, e excedeo as mayores obras que tinha o Reyno, e a ornou de grande numero de preciozos ornamentos, e varias pessas de prata. Depois de ter governado pelo espaço de dezasete annos foy acometido de ultima infermidade, e conhecendo ser chegada a hora que o havia de fazer imortal pedio que lhe recitassem a Payxaõ escrita por S. Matheos, e o Evangelho de S. Ioaõ In principio erat Verbum no meyo do qual placidamente espirou no anno de 1617. quando contava 74 annos de idade. Foy sepultado na Capella de N. Senhora da Saude situada no Claustro da Sé. A sua Vida escreveo o Illustrissimo D. Rodrigo da Cunha Catal. dos Bisp. do Porto. Part. 2. cap. 41. e Manoel de Faria, e Souza a compoz elegantemente, cujo M. S. se conserva na Livraria do Convento de Travanca de Monges Benedictinos. O mesmo Faria o louva na 5. Part. da Fuent. De Aganip. Centur. 3. Sonet. 86. e na 2. Part. Poema. 8. Estanc. 53. e na 4. Part. Elog. Funeb. Out. 41. alludindo à Capella mór, que edificou na sua Cathedral, que he dedicada a Assumpçaõ de Nossa Senhora, e nella está o corpo de S. Pantaleaõ Protector da Cidade do Porto.

Alli da melhor alma o melhor dia

O poema dos olhos reprezenta

Dos doze vendo absorta a companhia

Quando ella assumpta ao Ceo delles se ausenta:

triumfo immortal da morte fria Panteleaõ purpureo abaxo ostenta Purpureo

Panteleaõ, cuja ventura

Foy ter por Panteam tanta Estrutura.

D. Francisco Moreno Porcel Retrat. de Manoel de Faria §. 12. Fue este Prelado uno de los excellentes, que tuuo la Iglesa, magnifico en fabricas sagradas, en lismosnas largissimo, en zelo maravilloso. Fr. Greg. Argaes Perla de Catalunh. p. 451. §. 111. honró la cogolla nó solo con su nobleza si nò con sus letras, que adornò con las virtudes en todo el discurso de su vida. .

Compoz

Relectio menstrua, et hebdomadaria. He hum Tratado sobre as tres vias  purgativa, illuminativa, e unitiva repartido pelos dias da semana para exercicio da contemplaçaõ. Desta obra faz mençaõ Argaes no lugar assima citado.

Vinte, e sinco Sermoens pregados até o anno de 1610. quando era Bispo, e algumas practicas espirituaes aos seus Monges. M. S. Conservaõ-se em hum volume na Livraria da Caza Professa de S. Roque desta Corte dos Padres Iesuitas como afirma o Padre Francisco da Cruz nas Mem. para a Bib. Lusit.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]