D. GONÇALO COUTINHO Commendador das Commendas de Vaqueiros, e Santa Luzia de Trancoso da Ordem militar de Christo foy filho de D. Gastaõ Coutinho, e de D. Filippa de Souza filha de Fernaõ de Souza de Brito, e de D. Izabel de Souza. Desde a adolescencia se empregou na cultura das Artes Liberaes sendo a sua natural inclinaçaõ conversar com homens estudiosos donde conseguio contrahir estreita amizade com o insigne Luiz de Camoens Principe da Poezia Epica, que muitas vezes o tinha por hospede na sua Quinta de Vaqueiros cujo afecto eternizou depois da morte mandando-lhe fazer huma Campa com Epitafio no anno de 1595. para a sua sepultura em a Igreja das Religiosas de Santa Anna de Lisboa. Para com mayor aplicaçaõ se dedicar ao estudo em que tinha a mayor deleitaçaõ se retirava à sua Quinta de cujo retiro o louva o grande Poeta Diogo Bernardes na Carta 27 de seu Lima. O amor da patria o obrigou a preferir o tumulto da guerra ao ocio do Campo sendo o primeiro theatro do seu valor a Praça de Arzilla, e depois a de Mazagaõ quando foy eleito seu Governador, e Capitaõ General onde sempre triunfou da astucia armada, e desarmada dos mouros coroando-se com duplicados louros assim nos conflictos terrestres como nos combates maritimos. Com a mesma fortuna governou o Reyno do Algarve até que cheyo de grande numero de annos sempre inferior ao dos seus merecimentos falleceo no anno de 1634. Foy do Conselho de Estado de Filippe III. de Portugal sendo digno de mayores lugares por seu nacimento, valor, e capacidade como delle escreve D. Gonçalo de Cespedes Chron. de Filip. IV. liv. 5. cap. 13. Ioaõ Soar. de Brit. Theatr. Lusit. Liter. lit. C. n. 16. suae aetatis nemini secundus litteratorum, doctorumque hominum singularis Patronus, ac Maecenas, e Manoel de Faria, e Souza Vid. de Camoens no principio do Coment. das Rimas §. 36. Bien entendido y muy cortezano. Cazou com D. Maria de Oliveira filha do Doutor Manoel de Oliveira Dezembargador do Paço, e Iuiz da Fazenda delRey D. Sebastiaõ de quem naõ teve filhos cuja falta sentio com tanto extremo, que tomou por empreza huma Oliveira com esta letra Mihi Taxus por ser esta arvore infecunda. Foy Genealogico, Historiador, e Poeta, e como a tal o colloca entre os alumnos do Parnasso Portuguez Iacinto Cordeiro Elog. dos Poet. Lusit. Estanc. 8.
- Gonçalo Coutinho a quel Lusero
Con que la Patria glorias alimenta,
Que en nombre de Camoens tanto venero
Pues muerto le tomò tanto a su cuenta.
Que ingenio libre a su mirar severo
Si e1 suyo admira presuncion intenta
Quando el mismo en sus versos se retrata
De laminas de bronze tersa plata.
Compoz
Discurso da Jornada de D. Gonçalo Coutinho à Villa de Masagaõ, e seu governo nella. Lisboa por Pedro Craesbeeck. 1629. 4. A esta obra louva muito Antonio de Souza de Macedo Flor. de Espanh. cap. 14. Excel. 8. n. 58.
Vida de Francisco de Sà, e Miranda. Lisboa por Vicente Alvres 1614. 4. No principio das obras Poeticas deste Author que sahio sem o seu nome.
Relaçaõ da descendencia de D. Gonçalo Coutinho segundo Conde de Marialva a que neste Reyno chamaraõ Ramiro na qual se trata dos filhos Varoens, que teve, e das pessoas que destes descenderaõ até o presente de 1607. Desta obra faz mençaõ o P. D. Antonio Caetano de Souza Advert. e Addic. da Hist. Gen. da Caz. Real Portug. Tom. 8. pag. 15. n. 13. Conserva huma copia della Luiz Gonçalves da Camara seu descendente.
Cartas Varias. M. S. 4. Conservavaõ se na Livraria de D. Antonio Alvres da Cunha.
Poesias Varias. M. S. 4. Na livraria do Cardial de Souza hoje do Duque de Lafoens.
Historia de Palmeirim de Inglaterra, e de D. Duardos fol. 3. Tom. Era continuaçaõ desta Historia fabuloza. Estava na Livraria de Ioaõ de Saldanha como afirma o P. Francisco da Cruz nas Mem. M. S. para a Bibliotheca Lusitana. Ao seu nome foy dedicada a 1. Parte das Rimas de Luiz de Camoens em o anno de 1621. em cujo frontespicio està a sua impreza da Oliveira com a letra mihi Taxus, e em aplauzo da proteçaõ que sempre lhe deveo aquelle Principe da Poesia Epica lhe fez o seguinte Epigrama Manoel de Souza Coutinho que recolhido a Religiaõ de S. Domingos se chamou Fr. Luiz de Souza igualmente estimavel pela Poesia, como pela Historia.
Nominibus gentis donis Coutigne Minervae
Nobilitatis bonos, Pieridumque decus.
Victa situ in tenebris Camonii Musa jacebat
Quo nihil in toto grandius orbe sonat.
Perte squallentem cultum deponit, & audet
Obsita Lysiacae plectra ferire Lyrae.
Ac velut Orphaeo revocasti munere amicum
Orphaeus existet sominis ille tui.
Sic vos alterno vivetis munere, et Orphaeus
Alter erit Musae, nominis alter erit.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]