ANTONIO JOAQUIM DE CARVALHO. Presumo que fosse natural de Lisboa; porém não o affirmo por falta de noticias certas. Parece que exercera em principio a arte de cabelleireiro, a qual deixou depois pela profissão de mestre de dança. Morreu octogenario, quasi cego e pobrissimo a 16 de Novembro de 1817. Do assento do seu obito que existe a fol. 112 do livro XV da egreja parochial de N. S. da Conceição, apenas consta que falecera com os sacramentos da penitencia e extrema unção; que era viuvo de Anna Joaquina, e morador na rua do Crucifixo; e que fora sepultado na ermida da Victoria. Não declara porém a sua naturalidade, nem os annos que tinha quando morreu. – E.
783) Galatéa, Ecloga. Lisboa, na Off. de Domingos Gonçalves 1786. 4.º de 22 pag. – Se não foi esta a sua primeira estreia poetica, ao menos não me consta até agora de alguma outra producção impressa em seu nome com mais antiga data. O genero bucolico andava então mui valido em Portugal, e por isso a Galatéa teve tão bom acolhimento, que o auctor sahiu em breve com a segunda parte. Uma e outra se reimprimiram varias vezes; mencionarei a edição das duas partes, Lisboa, por Antonio Gomes 1789. 4.º de 53 pag., de que tenho um exemplar, e outra feita na Off. de João Nunes Esteves 1825, 8.º de 37 pag., que é talvez a ultima de todas. Tendo aquelle genero perdido inteiramente a sua voga, esta e outras obras de Carvalho jazem hoje em completo e talvez immerecido esquecimento.
784) Ecloga deploratoria na lamentavel morte do serenissimo sr. D. José, Principe do Brasil. Lisboa, na Reg. Off. Typ. 1788. 4.° de 14 pag.
785) Os Touros: Poema heroi‑comico. Ibi, na Typ. Nunesiana 1796. 8.º de X‑89 pag. – Ibi, na Imp. de João Nunes Esteves 1825. 8.º de 52 pag. – Este poema em quatro cantos, em outava rima, passa entre os criticos por uma das melhores, se não pela melhor de todas as producções do auctor. Alguns chegaram até a duvidar de que fosse obra só d’elle, e disse‑se que Belchior Manuel Curvo Semmedo o polira e retocara antes da impressão.
786) Idyllio ao nascimento da Serenissima Sr.a D. Maria, Princesa da Beira. Lisboa, na Typ. Nunesiana 1793. 4.° de 15 pag.
787) A Guerra e a Paz da Europa, Ecloga. Ibi, na Off. de Simão Thaddeo Ferreira 1802. 4.º
788) Obras poeticas jocosas e sérias. Tomo I. Ibi, na Imp. Regia 1805. 8.º – Tomo II. Ibi, na Off. de João Rodrigues Neves 1807. 8.º – Esta collecção não comprehende obra alguma das que o auctor havia antecedentemente publicado.
789) Na restauração de Portugal libertado do jugo dos franceses. Verdades criticas. Lisboa, na Typ. Lacerdina 1808. 4.º de 16 pag.
790) Bomba de Apollo apagando o fogo Sebastico. Satyra. Ibi, na Impr. Reg. 8.º de 16 pag.
791) Josephina abandonada: Dialogo jocoso. Ibi, na mesma Imp. 1811. 4.º de 18 pag.
792) Votos aos defensores de Portugal. Ibi, na mesma Imp., sem data (mas é de 1811.) 4.º de 8 pag.
793) O tributo da gratidão ao Libertador de Lysia Lord Wellington. Ibi, na mesma Imp. 1813 fol. de 3 pag.
794) Collecção de Obras Dramaticas. Ibi, na mesma Imp. 1813. 8.º de 227 pag. – Contém uma comedia A Ribeira do Peixe ou a Peixeira virtuosa: – e tres farças, A Velhice namorada, a Aula dos Toureiros tolos, o Galego bruto e moco: tudo escripto em prosa.
795) As vendedeiras de Amor, e os compradores pacovios: Satyra. Ibi, na mesma Imp. 1815. 8.º de 15 pag.
Este poeta, hoje quasi desconhecido, mereceu no seu tempo muitos applausos: e no estylo joco‑serio, em que escreveu boa parte das suas obras, quasi póde comparar‑se a Nicolau Tolentino. O sr. Castilho (Antonio) na Epistola ao morgado de Assentis, que vem nas Excavações Poeticas, tractando dos poetas d’aquelle tempo diz a respeito d’este:
«….. O Carvalho, em quem discordes
Natureza e fortuna andaram sempre.»
Já não é pequeno elogio, dado por mestre tão competente, e n’este caso tão insuspeito.
[Diccionario bibliographico portuguez, tomo 1]