Integrada nas comemorações do centenário do nascimento do escritor Fernando Namora, no dia 18 de maio, pelas 16h00, inaugura no Museu do Neo-Realismo a exposição“E não sei se o mundo nasceu” Fernando Namora 100 anos.
Com curadoria de António Pedro Pita, a exposição (cujo texto de apresentação do curador remetemos em anexo), ocupará o piso 1 do Museu e estará patente até 17 de novembro de 2019.
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Exposição “E não sei se o mundo nasceu” Fernando Namora 100 anos
No ano em que se completam cem anos sobre o nascimento de Fernando Namora, o Museu do Neo-Realismo revisita o percurso e a obra do escritor, uma e outro verdadeiramente configuradores da pluralidade interna do movimento cultural e estético.
A exposição, o catálogo e as chamadas atividades complementares previstas para este ciclo comemorativo estão ligadas por uma ideia central: Fernando Namora teve uma intervenção determinante na génese histórica do neorrealismo e toda a sua obra é um contributo fundamental para a afirmação da pluralidade estética do movimento.
Não se trata, pois, de mostrar a integração de Fernando Namora num corpus doutrinário já constituído. O objetivo central da exposição é documentar momentos essenciais em que a obra de Fernando Namora desdobrou a fidelidade a uma dupla intuição (ou convicção) fundamental: “para alguns, (…) escrever tem os limites da experiência vivida. Nesses me incluo” (prefácio a «Casa da Malta», p. 16); “a prova para um escritor integrado nas urgências do seu tempo era o encontro com o povo” (prefácio a «Casa da Malta», p. 20) – afirmações que, na sua inter-relação, constituem a matriz mais geral da atitude neorrealista.
Na assumida consciência de que a inventariação da existência humana só pode fazer-se ligando-a a um determinado território (outra formulação possível dessa matriz), Fernando Namora foi decisivo na configuração plural da atualidade do neorrealismo. Por isso, o seu universo literário, cuja complexa vastidão se trata de revisitar, tem as dimensões de uma interrogação radical, compreensiva e polémica, terna e impiedosa das “urgências” do mundo contemporâneo. Por isso, certamente, mereceu grande reconhecimento nacional e larga irradiação internacional.
O século XX é percorrido por um mesmo fio de urgências, todas geradas nas “incoerências inerentes a um sistema económico e à estrutura social que lhe corresponde” («Diálogo em Setembro», p. 551-552). Porém, as formas dessas incoerências e as modalidades da estrutura social são dinâmicas: “o mundo mudou e muda sob os próprios olhos das gerações que o fizeram mudar” («Diálogo em Setembro», p. 551). De tal forma que nos devemos pensar como “paleos da era neotécnica” («Diálogo em Setembro», p. 554).
Um verso do poema “A mulher de verde”, incluído em «Nome para Uma Casa», constitui o guia, o motivo ou o mote do percurso que vos propomos: ainda (ou
cada vez mais profundamente) imersos num mundo que é mudança, existimos ao mesmo tempo num limite-limiar.
Convidamos todos para a (re)descoberta dos modo(s) como Fernando Namora percorreu essa fronteira-ligação.”
António Pedro Pita
(curador da exposição)