FR. ANTONIO DE ESCOBAR, Carmelita calçado, cuja regra professou a 24 de Abril de 1637, foi Prior em varios conventos, e serviu outros Cargos na sua provincia, inclusive o de Chronista. – N. em Coimbra a 4 de Janeiro de 1618, e m. em Lisboa de 63 annos no de 1681. Tinha perdido totalmente a vista alguns annos antes. – E.

623) Vida de Santo Angelo Martyr Carmelita. Lisboa, por João da Costa 1671. 4.º de XX‑163 pag.

Tanto esta como as seguintes obras do auctor, não gosam hoje de muita estimação: e por isso, apesar de pouco vulgares, correm por preços mediocres; a que fica mencionada valerá até 300 réis, se tanto.

624) Cristaes d’alma phrases do coração, rhetorica do sentimento, amantes desalinhos etc. Lisboa, por João da Costa 1673, 8.º de VIII‑272 pag. – Coimbra, por José Ferreira 1677. 12.º (e não 8.º como tem Barbosa) – Ibi, por José Antunes da Silva 1721. 8.º.

Esta obra, que Diniz moteja no canto III do Hyssope, e que o erudito Verdier (que de certo a não conheceu) alcunha na nota correspondente (pag. 160 da edição de 1821) de livro mystico‑oral, está bem longe de merecer tal qualificação. É na realidade uma especie de romance amatorio, mesclado de prosa e verso, e similhante a outros que temos do mesmo genero. Escripto no gosto que então dominava, cheio de conceitos freiraticos e n’um estylo pretencioso e rebuscado teve no seu tempo grande voga, como provam as multiplicadas edições que d’elle se fizeram. Hoje está completamente esquecido. O seu preço não excede de 120 a 160 réis, e muitas vezes menos. Foi publicado com o nome supposto de Gerardo de Escobar, ou porque o auctor julgasse improprio do instituto e estado que professava dar como suas taes frivolidades, bem que as tivesse composto já depois de religioso, ou porque os superiores a isso se lhe oppozessem.

625) Doze novellas. Primeira parte. Lisboa, por João da Costa 1674. 4.º de VIII‑467 pag. – Estas novellas, que são em prosa, e no mesmo gosto das de Gaspar Pires Rebello, sahiram tambem sob o pseudonymo de Gerardo de Escobar. – Preço de 300 até 480 réis.

626) Sermão funebre prégado nas exequias que os Irmãos Escravos de N. S. da Encarnação fizeram ao seu instituidor o Irmão Fr. Simão de Sancta Maria no convento do Carmo. Lisboa, por João da Costa 1672. 4.º de 32 pag.

627) A Phenix de Portugal, a flor transformada em estrella, a estrella transferida a sol: a idéa moral, politica, historica de tres estados discursada na vida da Rainha Sancta Isabel, infanta d’Aragão, fragrante flor; casada com Elrei D. Diniz de Portugal, estrella resplandecente, viuva terceira de S. Francisco sol flammante. Offerecida á Serenissima Princeza Nossa Senhora D. Isabel Maria Josepha etc. – Coimbra, por Manuel Dias 1680. 4.º de XII‑371 pag.

O titulo só, offerece um specimen demonstrativo do que devera ser a obra. Note‑se que n’este mesmo anno se publicou egualmente a outra Vida da Rainha Sancta Isabel pelo Bispo do Porto D. Fernando Corrêa de Lacerda; sendo para admirar que nem este nem Escobar façam um do outro menção alguma, indicando ambos não terem a mais leve noticia ou conhecimento de que se imprimira outra composição além da sua. A critica decidirá se esta ignorancia pode julgar‑se natural. – O livro d’Escobar corre no mercado por 400 a 480 réis.

Quanto á obra que escreveu em hespanhol, intitulada El Heroe Portuguez, veja em o nome do traductor Bernardo José de Lemos Castello Branco.

De sobejo fica dito pare se conhecer e avaliar o estylo que Escobar seguiu nas suas composições: quanto á linguagem, diz o erudito auctor das Refexões sobre a Língua Portugueza «são taes as liberdades que tomou, que nem ainda na poesia seriam supportaveis, quanto mais na prosa em que escreveu.»

 

[Diccionario bibliographico portuguez, tomo 1]