ANTONIO DE CASTILHO, Cavalleiro e Commendador da Ordem de Avis, Doutor em Direito Civil pela Univ. de Coimbra, Desembargador da Casa da Supplicação, Embaixador á Corte de Londres, Guarda mór do Archivo Real da Torre do Tombo, e Chronista mór do Reino, a ser certo o que d’elle dizem Manuel Severim de Faria e Barbosa Machado. Mas o douto e critico cisterciense Fr. Manuel de Figueiredo põe em duvida que exercesse tal cargo, como pode vêr‑se na Dissertação Hist. e Crit. para apurar o Catalogo dos Chronistas mores a pag. 12 – Sabes‑se que foi natural de Thomar, e filho de João de Castilho, celebre architecto do seu tempo; mas não constam as datas do seu nascimento e obito. – E.

519) (C) Comentario do cerco de Goa e Chaul no anno de M.D.L.X.X. Viso‑Rey Dom Luis de Ataide, scripto… por mandado delRey nosso Senhor. Em Lisboa. M.D.LXXIII. Impresso em casa de Antonio Gonçalvez. Com licença da Mesa geral do Sancto Officio. Com Previlegio Real. 8.º Consta de 48 folhas numeradas só na frente. A impressão é feita em caracteres italicos ou grifos. É muito rara esta edição, da qual existem exemplares na Bibl. Real d’Ajuda, e na livraria do Archivo Nacional. – Reimprimiu‑se: Lisboa, na Off. Joaquiniana da Musica 1736. 4.º de 32 pag. Esta mesma reimpressão é hoje rara, e d’ella tenho um exemplar. Vi outro na Bibl. Nacional de Lisboa.

Consta‑me que da primeira e rarissima edição se vendera ha já bastantes annos um exemplar (provavelmente não bem tractado) por 800 réis, ao passo que os da segunda tem sido vendidos até por 480 réis.

520) (C) Elogio d’Elrei D. João de Portugal, terceiro do nome. Nunca se publicou em separado. Sahiu a primeira vez com as Noticias de Portugal, por Manuel Severim de Faria. Lisboa, na Off. Craesbeeckiana 1655. fol. (edição de que J. A. Salgado na sua Bibl. Lus. Escolhida pag. 6 quiz fazer duas diversas, com a conjuncção e que ahi introduziu indevidamente, interpretando mal o que lera em Barbosa.) – Anda tambem na segunda edição das mesmas Noticias, Lisboa, por Antonio Isidoro da Fonseca 1740 fol. – E com os Panegyricos de João de Barros, Lisboa, por Antonio Gomes 1791. 8.º.

Barbosa indicando mais duas obras ineditas do mesmo Antonio de Castilho (cuja noticia houve por tradição, pois confessa não as ter visto, e ambas em prosa) não fez menção alguma de composições em verso, com quanto se saiba pelo testemunho da carta VI do livro segundo das poesias de Antonio Ferreira, que elle era tambem poeta, ou ao menos havido em conta de mestre de todos os poetas da sua edade.

Mas na Revista Universal Lisbonense tomo VII a pag. 413 e seguintes aparaceu pela primeira vez um Auto chamado da Boa‑Estrea, que ahi se diz ser de Antonio Castilho, e que fora representado ao muito alto e poderoso senhor rei D. Sebastião nos paços da Ribeira aos 23 de Junho de 1578. Ali se declarava outrosim que esta peça incognita a Barbosa, e a todos os nossos bibliographos, fora recentemente descoberta na ilha de S. Miguel pelo sr. Luis Filippe Leite em um volume manuscripto que continha muitas outras poesias ineditas de varios auctores. Alguns escrupulosos quizeram achar n’este procedimento uma especie de burla ou zombaria feita ao publico, quando viram pouco tempo depois (em 1849) o Auto de que se tractava impresso textualmente no Camões do sr. Antonio Feliciano de Castilho a pag. 79 e seguintes, e dado ahi como composição propria e original d’este senhor, que sendo Antonio Castilho não era de certo aquelle em cujo nome a obra fora apresentada aos leitores! O que porêm não deixa de merecer n’este caso memoria especial, é que o precioso descobrimento illaqueasse a desprevenida boa fé do sincero José Maria da Costa e Silva, levando‑o a festejar um acontecimento tão venturoso para as letras patrias, e a introduzir no seu Ensaio Biographico‑Critico tomo II pag. 289 e seguintes o pretendido auto palavra por palavra. É para admirar o tom ingenuo e serio, com que elle tracta o assumpto; e o modo como procede, tanto na analyse do auto, como nas reflexões que lhe ajunta, sem desconfiar nem remotamente do logro em que cahia; e muito mais se deve estranhar que tudo isto viesse a luz já em 1851, isto e, dous annos depois de aclarado o enigma, e quando a chave do negocio estava a todos patente!

 

[Diccionario bibliographico portuguez, tomo 1]