FRANCISCO XAVIER LEYTAM Naceo em Lisboa a 5. de Julho de 1667. onde teve por Pays a Gaspar Leytaõ da Fonceca Sargento Mòr na Praça de Tangere, e a D. Maria Quaresma Gayoa sua 2. mulher de igual nobreza à de seu Consorte. Tanto se anticiparaõ na puericia as luzes do seu engenho, que estudando os primeiros rudimentos de Gramatica no Collegio de Santo Antaõ dos Padres Jesuitas o atrahiraõ para seu companheiro sendo admetido ao Noviciado de Lisboa a 24. De Fevereiro de 1682. No Collegio de Evora aprendeo as sciencias amenas em que sahio taõ insigne que sempre levou o primeiro premio ou fosse na oraçaõ solta, ou ligada confessando os seus mesmos competidores o conhecido excesso, que lhes fazia o seu talento. Naõ era menos nas especulaçoens da Filosofia sendo os seus argumentos taõ subtis, como nervozos por cuja cauza eraõ ao mesmo tempo timidos, que admirados. Deixando no anno de 1689. a Religiaõ em que taõ virtuosamente se educara voltou a Lisboa onde vacillante entre o estado que seguiria, elegeu o de cazado despozandose em 3. de Mayo de 1691. com D. Margarida Thomazia Coutinho de quem teve tres filhos, e cinco filhas, que acomodou em nobres lugares assim religiosos, como seculares. Deliberado a estudar Medicina frequentou a Universidade de Coimbra, e como era muito inteligente da lingua Latina, e Filosofia penetrou profundamente os mysterios desta Faculdade com tanta aclamaçaõ do seu nome que chegando a Lisboa lhe entregou o Tribunal da Meza da Conciencia a direçaõ do Hospital de N. Senhora da Luz situada no suburbio desta Corte, que foy piedosa, e magnifica Fundaçaõ de Serenissima Infanta D. Maria ultima filha delRey D. Manoel. Pasados sinco annos buscou no anno de 1702. em Lisboa mayor esfera em que girasse o influxo da Arte, que professava alcançando tanto aplauzo com o methodo, que aplicava às infermidades mais perigosas, que o elegeraõ por seu Medico as Cazas mais illustres, e as Comunidades mais graves. Esta bem merecida fama da sua sciencia moveo a Magestade delRey D. Ioaõ o V.  para o nomear Medico da sua Camera na ocasiaõ, que acompanhou ao Excellentissimo Marquez de Alegrete Fernando Telles da Sylva quando partio a 25. de Setembro de 1707. a concluir os augustos despozorios daquelle Monarcha com a Serenissima Archiduqueza de Austria, e no giro que fez por Londres, Holanda, e Alemanha se instruio com a comunicaçaõ dos mayores sabios da sua profissaõ, que admirados respeitavaõ a profundidade do talento, e subtileza do juizo com que fallava, e discorria em varias materias scientificas. Restituido à patria como estivesse livre dos vinculos do matrimonio querendo milhorar de estado se ordenou de Presbitero no anno de 1720. conferindo-lhe as Ordens o Emminentissimo Cardial Senhor Patriarcha o qual como conhecia a sua grande capacidade lhe deu licença sem limitaçaõ para exercitar os Ministerios de Confessor, e Prégador, e o nomeou por hum dos seus Medicos. Partindo desta Corte o Emminentissimo Cardial da Cunha para assistir na eleiçaõ de Summo Pontifice no anno de 1721. foy destinado entre os Varoens insignes de diversas profissoens para acompanhar a este Principe, e tanto que chegou a Roma mereceo universaes estimaçoens pela natural elegancia com que fallava a Lingua Latina, e Italiana contrahindo amizade com os Medicos Romanos e os da Corte de Turim, que lhe comunicaraõ as suas observaçoens, e lhe mostraraõ varios Gabinetes depozitos de raras antiguidades. A instancia do grande Medico de Saboya escreveo huma Dissertaçaõ sobre a origem das febres purpureas, e das que foraõ desconhecidas pelos Medicos antigos. Em Pariz vio como curioso, e observou como Sabio os Jardins das plantas Medicinaes cultivados pelos Botanicos; os instrumentos de que usaõ os Chimicos para a calcinaçaõ, e manipulaçaõ dos remedios. Por morte do Secretario de Estado Diogo de Mendonça Corte Real Academico da Academia Real foy eleito Collega desta Real Sociedade no anno de 1736. onde recitou huma elegantissima Oraçaõ digna de ser invejada pelos Mestres da Eloquencia Grega, e Romana, sendo ainda mayor a que fez em aplauzo do Mysterio da Immaculada Conceiçaõ da Senhora na Solemne Festa que annualmente lhe dedica a Academia Real em que competia a novidade da idea com a subtileza do discurso. Sendo nomeado Cirurgiaõ Mór no anno de 1738. naõ permitio a morte que possuisse este lugar o breve espaço de hum anno, pois acometido de huma dissimulada doença, que mostrou ser vencida pelos remedios o assaltou com taõ grande impulso que recebidos os Sacramentos com piedade Catholica, o privou da vida a 13. De Dezembro de 1739. quando contava 72. annos 5. mezes, e 8. dias de idade. Jaz sepultado na Parochia de Saõ Iozeph a cujo Funeral asistio illustre, e numeroso concurso. Entre os Poetas Latinos mereceo o principado admirando-se na metrificaçaõ dos versos heroicos a Magestade de Virgilio, e a discriçaõ de Claudiano, e nos Elegiacos a ternura de Ovidio, e a fraze de Propercio. Igual genio teve para a Poesia vulgar nunca deixando de ser judiciosa ainda quando era jovial. Na eloquencia latina, e Portugueza foy peritamente exercitado como publicaõ os discursos, e Oraçoens que recitou, e escreveo onde se admiravaõ felismente unidas pureza de fraze, com subtileza de juizo. Ainda que sempre venerou o engenhoso artificio da Dialectica de Aristoteles foy acerrimo sequaz da Filosofia de Renato Descartes em cujo Sistema descubrio solidos principios para a Medecina que professava. De muitas obras assim em Proza como em verso somente se fizeraõ publicas as seguintes.

Oraçaõ com que congratulou a Acad. Real quando foy admetido por seu Collega. Lisboa por Iozeph Antonio da Sylva Impressor de Academia. 1736. 4.

In Nuptiis Excellentissimi Domini D. Francisci Xavierii Menesii, & Excellentissimae Dominae D. Mariae à Gratia Norognia Epithalamium. Ulyssipone apud Antonium Pedrozo Galraõ 1738. 4. Consta de 306. Versos heroicos.

Sermaõ da Purissima Conceiçaõ da Virgem Nossa Senhora na Festa, que como a sua Protectora lhe faz a Academia real da Historia na Capella do Paço do Duque a 14. de Dezembro de 1737. Lisboa na Officina Sylviana, e da Academia Real. 1739. 4.

Epigramma Latino ao insigne Capitaõ Antonio Galvaõ que sahio na parte inferior do seu Retrato aberto na sua obra dos Descubrimentos antigos, e modernos. Lisboa na Officina Ferreiriana. 1731. fol.

Epigramma Latino ao Retrato do Conde da Ericeira D. Fernando de Menezes impresso na Historia de Tangere composta por este Fidalgo. Lisboa na Officina Ferreiriana. 1732. fol.

Epigramma Latino em aplauso dos Epigrammas do Excellentissimo Conde do Vimioso D. Iozé Miguel Ioaõ de Portugal. Lisboa por Miguel Rodrigues. 1732. 8.

 

Obras M. S.

Descripçaõ do Collegio dos PP. Iesuitas de Evora. Em Verso heroico Latino. Poema à feliz entrada em Coimbra da Serenissima Senhora D. Catherina Rainha da Graà Bretanha. Verso heroico Latino.

Epicedion in obitu P. Dominici Louzado Collegii, et Academiae Eborensis Rectoris. Elegia Latina.

Sequentia Missae Defunctorum Dies irae, dies illa &c. reduzindo cada tres Versos que saõ Leoninos a tres heroicos, e estes a dous dystichos, e ultimamente todos os pensamentos dos tres ao argumento de hum só verso Exametro.

Vida de dous Arcebispos de Lisboa em Latim recitadas na Academia Real.

Discurso sobre os Iardins de Semiramis, e Muros de Babilonia.

Discurso sobre a existencia do Pelicano. Foraõ lidos estes discursos na Academia Portugueza instituida em caza do Excellentissimo Conde da Ericeira D. Frãcisco Xavier de Menezes.

Sermaõ da Festa dos Santos Reys.

Sermaõ das Dores de N. Senhora.

Observaçoens, e Consultas Medicas. fol.

Epitome da sua vida escrita em estilo jocoserio.

Varios Epigramas Latinos entre os quais he celebre o epitafio ao D. Manoel Alvares Pegas insigne Iurisconsulto que se lerà impresso quando delle se fizer mençaõ.

Diversos Romances, serios, e jocosos. Intentava escrever.

De Morbis, & medicina Principum.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]