D. FRANCISCO XAVIER MASCARENHAS Sahio à luz do Mundo em a notavel Villa de Santarem a 11 de Agosto de 1689. sendo seus claros Progenitores D. Fernando Mascarenhas segundo Marquez de Fronteira, terceiro Conde da Torre, Governador, e Capitaõ General do Reyno do Algarve, Mestre de Campo General, e Governador das Armas das Provincias da Beyra, e Alentejo, Conselheiro de Estado, Vedor da Fazenda, Prezidente do Paço, e Mordomo mòr da Rainha Nossa Senhora e D. Ioanna Leonor de Toledo, e Menezes filha de D. Ieronimo de Atayde sexto Conde da Atouguia Governador das Armas de Tras os montes, Vicerey do Brazil, Conselheiro de Estado, e de D. Leonor de Menezes. Aquellas virtuosas açoens que canonizaõ a memoria dos Varoens insignes foraõ innocente exercicio dos seus primeiros annos em cuja cultura claramente mostrou que por beneficio da Graça fora nacido no gremio da devoçaõ, e bebera com o Leyte a candura dos custumes. Instruido nos preceitos Gramaticaes entrou por Porcionista do Collegio Real de S. Paulo da Universidade de Coimbra a 11. de Agosto de 1711. onde se aplicou ao estudo dos Sagrados Canones quando já possuia a dignidade de Thezoureiro mór da Guarda, e posto que o seu penetrante engenho unido com feliz memoria fizesse admiraveis progressos naquella Faculdade impellido do genio que tinha para as Armas se resolveo seguir os bellicosos vestigios dos seus Mayores preferindo a campanha de Marte à palestra de Minerva. Anelando o seu espirito copiar na sua pessoa a imagem de hum perfeito Capitaõ se dedicou com incansavel disvelo a aprender as regras da disciplina militar assim terrestre, como naval em que sahio taõ consumadamente perito que ninguem houve que lhe disputasse a primazia ou fosse em as novas evoluçoens, que practicou com o Regimento de que era Coronel, ou no exercicio da Manobra de que escreveo diversos Tratados. Para naõ estar ocioso o valor que lhe animava o peito se offereceo ocaziaõ de o exercitar em beneficio desta Coroa em o mayor theatro das façanhas Portuguezas onde tinhaõ seus gloriosos Ascendentes immortalizado a fama dos seus nomes. Oprimido o Estado da India com as repetidas invasoens do Maratà, e Bonsulo poderozos Regulos da Costa do Reyno de Decan de que se seguiraõ a devastaçaõ das Terras do Norte, e Provincia de Bardès, receandose que a cabeça do nosso Imperio Oriental padecesse a mesma fatalidade, foy mandado por Commandante de quatro Batalhoens com patente de Sargento môr de Batalha embarcado em a Nào N. Senhora do Carmo que acompanhava a Capitania em que hia o Marquez do Louriçal Vicerey do Estado, e sahindo de Lisboa a 7 de Mayo de 1740. ferrou a barra de Murmugaõ a 17 de Mayo do anno seguinte, em cuja penosa viagem se consumio hum anno, e dez dias, infortunio que se naõ experimentou semelhante desde o tempo que os Portuguezes surcaraõ aquelles mares. Lastimado das gravissimas molestias, que padeciaõ os Soldados em taõ prolongada jornada procedidas humas da falta dos mantimentos, e outras da intemperança dos climas se empenhou em o seu alivio com taõ charitativa comiseraçaõ que lhes ministrava com as proprias maõs o alimento, e se despojava dos vestidos para lhe cubrir a desnudez dos corpos. Restituida a gente militar ao vigor, que perdera na viagem, marchou com tres mil, e cem combatentes a castigar o orgulho do Regulo Bonsulo, e buscando para feliz auspicio da Vitoria o dia 13. de Iunho consagrado às sagradas memorias do Thaumaturgo Portuguez Santo Antonio rendeo a Fortaleza de Corjuem, e depois o Forte de Culuale com horroroso estrago dos inimigos, que naõ podendo resistir à violencia do nosso ferro buscaraõ na fugida a sua salvaçaõ, devendose igualmente à direçaõ das suas ordens, como aos golpes da sua espada a recuperaçaõ da Provincia de Bardez no breve espaço de dous dias, que entaõ dilatado tempo nos tinhaõ os barbaros usurpado. Voltando para Goa mereceo publicas aclamaçoens de Restaurador da gloria Portugueza diminuida pela infelicidade dos tempos, e agora renacida pelos impulsos do seu invencivel braço. Querendo o Ceo premiar as suas heroicas virtudes, e darlhe huma Coroa em mais alto triumfo se sentio acometido de huma infermidade que fazendose rebelde á eficacia dos medicamentos se deliberou a cuidar mais da saude eterna, que da temporal. Obrigado das instancias dos Padres Jesuitas do Collegio de S. Roque de Panelim o levaraõ para este sitio como mais saudavel, porem agravandose a infirrnidade que durou o largo espaço de trinta dias, recebidos os Sacramentos com ternura catholica expirou abraçado com hum Crucifixo a 11 de Setembro de 1741. quando contava 52 annos e trinta dias de idade. Foy sepultado ao pè do Altar de S. Francisco Xavier como ordenara em seu Testamento querendo ainda morto gratificarlhe o beneficio que lhe devera em o seu nacimento. Das suas açoens virtuosas, e militares publicou hum Elogio Historico Francisco Iozé Freyre ornado de taõ elegantes expressoens, e discretos pensamentos, que certamente he digno padraõ à immortalidade de Varaõ taõ insigne. Compoz.
As vozes mais proprias de que se deve uzar para o manejo das Armas. 1735. 4. Naõ tem lugar da Impressaõ, nem nome do Impressor.
Operaçoens que o Coronel D. Francisco Xavier Mascarenhas hade fazer no Terreiro do Paço com o seu Regimento. Lisboa na Offic. de Jozè Antonio da Sylva. 1736. 4.
Tratado do Exercicio da Manobra com hum Methodo muy facil para se aprender a mariaçaõ. Lisboa por Antonio Isidoro da Fonceca 1737. 4. & ibi por Jozeph Antonio da Sylva. 1737. 8.
Tratado do Armamento, regras, e vozes mais proprias com que se deve mandar fazer o exercicio aos Soldados, e das posturas com que elles as devem executar, e que milhor conduzem para a mais prompta execuçaõ dos mandamentos, e para a mayor conservaçaõ da milhor uniaõ, e regular forma. Dedicado a Magestade delRey D. Ioaõ o V. N. S. 4. Constava de 166. paginas, que vimos.
Tratado de como se deve haver no mar hum Capitaõ em todos os perigos, que padecer a sua Nâo. M. S. 4.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]