FRANCISCO VALASCO DE GOUVEA natural de Lisboa, e filho segundo do Doutor Alvaro Valasco celebre Jurisconsulto de quem se fez larga memoria em seu lugar, e D. Brites de Gouvea. A penetrante comprehensaõ que teve para as letras amenas foy infallivel final dos progressos que havia fazer em as severas sendo a Academia Conimbricense otheatro onde brilhou o seu agudo engenho nas especulaçoens do Direito Pontificio em que se naõ excedeo, certamente competio com seu grande Pay nas Interpretaçoens que fez ao Cesareo. Admetido ao numero dos Doutores subio a regentar huma Cathedrilha de Canones a 30. de Março de 1607. donde passou à Cadeira de Sexto a 28. de Novembro de 1614 do Decreto a 13. de Março de 1623. de Vespora a 17. de Outubro de 1625. em que jubilou no anno de 1633. Da especulaçaõ da Jurisprudencia passou à Practica em os lugares de Dezembargador da Casa da Supplicaçaõ a 27. de Fevereiro de 1649. e dos Aggravos a 10. De Novembro de 1650. onde regulou as suas Decisoens mais pelos dictames da Justiça, que pelas delicadezas do discurso. Impelido do zelo da Patria armou a sua penna contra os seus mais robustos antegonistas defendendo com solidos fundamentos estabelecidos sobre as bazes de hum, e outro Direito a Justiça com que Portugal aclamou por seu Soberano ao Serenissimo D. Joaõ o IV. e detestando a horrorosa perfidia com que Alemanha alliada com Castella concorreraõ para a prizaõ do Infante D. Duarte. Foy Arcediago de Villa-Nova de Cerveira em a Cathedral de Braga com jurisdiçaõ de visitar sessenta e outo Igrejas Parochiaes dodito Arcebispado. Falleceo de hum accidente apopletico em a sua Patria quando excedia a idade de 79 annos. Nicolao Monteiro Vox Turtur. in Prooem Art. I. o intitula Praeceptor communis super aethera notus. Fr. Franc. à D. Aug. Propug. Lusit. Gallic. pag. 207. hujus aevi Litterarium Oraculum. Ant. Figueira Duraõ na Dedicatoria que lhe fez do seu Poema Ignatiados entre outros louvores lhe diz nostri saeculi Jurisconsultum emminentissimum, Lusitaniae decus, Ulyssiponis non leve ornamentum, cujus scientiam pene incredibilem Juris Caesarii, & Pontificii Professores admirantur. Joan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. Lit. F. n. 83. In  Conimbricensi Academia publicus, ac emeritus professor nominatissimus. D. Franc. Manoel de Mello Cart. dos AA. Portug. escrita ao Doutor Themudo. Na sua Justificaçaõ de Portugal obra ao Mundo taõ agradavel como penosa a nossos inimigos, que em vaõ trabalhaõ por escurecella. Compoz.

Justa Aclamaçaõ do Serenisimo Rey de Portugal D. Joaõ o IV. Tratado Analytico dividido em tres partes ordenado, e divulgado em nome do mesmo Reyno em Justificaçaõ a sua Acçaõ. Lisboa por Lourenço de Anveres. 1644. fol. Esta obra sahio por elle mesmo vertida em Latim com o titulo seguinte.

Joannes IV. Serenissimus Portugalliae Rex juste consalutatus ab eodem Regno suo. Tractatus Analyticus in tres divisus partes, compositus, & vulgatus Regni nomine pro justitia actionis suae summo Pontifici Ecclesiae Catholicae, Regibus, Populisque liberus Christiani orbis dicatus. Ulyssipone apud Laurentium de Anveres. 1645. fol.

Perfidia de Alemania, y de Castilla en la prision, entrega, acusacion, y processo de Serenissimo Infante D. Duarte: fidelidad de los Portuguezes en la aclamacion de su legitimo Rey el muy alto, e muy poderoso D. Juan IV. Deste nombre Nuestro Señor Padre de la Patria, Restaurador de la libertad contra los pertensos derechos de la Corona Castellana. Responde-se a lo que errada, fatua, y escandalosamente quizo escrevir D. Nicolas Fernandes de Castro Senador de Milan, y en Salamanca Cathedratico de la Cathedra pequena del Codigo. Lisboa na Officina Crasbeeckiana 1652. fol.

Rezoens em final offerecidas por parte de Francisco Vaz de Gouvea Lente da Cadeira de Sexto na Universidade de Coimbra contra o Doutor Francisco Leitaõ na causa do ferimento que lhe foy feita em Coimbra. Lisboa por Jorge Rodrigues. 1618. fol.

Allegaçaõ de Direito pelo Duque de Torres Novas D. Raimundo contra o  Marquez de Porto Seguro seu Tio sobre a sucessaõ do Estado, Casa de Aveiro por falecimento da Senhora Duqueza D. Juliana. Lisboa por Jorge Rodrigues. 1637. fol.

Allegaçaõ na qual se mostra por Direito, por Breves dos Summos Pontifices, Alvaras dos Senhores Reys, por sentenças em Juizo contencioso, por consultas da Meza da Consciencia, pela Regra, Estatutos, e difiniçoens da Ordem, e por juramento, como o dinheiro dos tres quartos da Ordem de Christo se naõ póde gastar mais que nas obras, e fabrica do Convento de Thomar, e suas cazas. Sahio impressa no livro Memorial do Geral da Ordem de Christo, e Religiosos della à Magestade delRey D. Joaõ o IV. Lisboa 1648. fol.

Parecer sobre a Thesouraria mór da Sé de Lisboa. Impresso no Tom. 3 das Decisoens do Doutor Manoel da Fonseca Themudo. Decis. 334.

Carta Laudatoria em aplauzo das Decisoens do dito Themudo escrita no anno de 1643. a qual sahio no primeiro Tomo das Decisoens deste Author.

As mais celebres Postillas, que dictou na Universidade foraõ as seguintes.

Ad Text. de Fidei jussoribus. Principiada no anno de 1611. e acabada em 1613.

Ad Tit. et Tex.. in Clement. unic. de Restitutione in integrum. Começada em 1613.

Ad Text. de Officio, & Potestate Judicis Delegati lib. 6. em o anno de 1615 .

Ad Text. de Alienatione Judicii mutandi causa facti. Começada a 4. de Março de 1620.

In Decretales de Solutionibus.

In Sext. Decretal. Regula Is qui in Jus 46.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]