P. FRANCISCO SOARES chamado no Seculo Francisco Soares de Alarcaõ teve por Patria a Villa de Torres Vedras do Patriarchado de Lisboa, e por Progenitores a Joaõ Soares de Alarcaõ, e Mello settimo Alcayde mòr de Torres Vedras, Senhor desta Casa, e de Villa de Rey, Mestre Sala da Casa Real, Cõmendador de S. Pedro de Torres Vedras da Ordem de Christro, e a D. Izabel de Castro, e Vilhena, irmãa de D. Jorge Mascarenhas primeiro Marquez de Montalvaõ. Ainda naõ tinha completos quatorze annos quando com resoluçaõ mayor, que a idade recebeo a Roupeta da Companhia de JESUS na Casa Professa de S. Roque a 5. de Fevereiro de 1619. Pela intempestiva morte de seu irmaõ mais velho D. Martinho Soares de Alarcaõ succedida em Tangere no anno de 1623. succedeo no opulento Senhorio da sua Casa, e posto que foy importunado com repetidas instancias para que deixando a Religiaõ viesse administrar taõ nobre patrimonio o desprezou heroicamente nomeando para Successor delle a seu irmaõ menor Joaõ Soares de Alarcaõ, que foy Marquez do Trocifal, e Conde de Torres Vedras. Aprendeo as letras humanas no Collegio de Coimbra em que tanto se distinguio o seu vivo engenho, ou fosse no estilo Poetico, ou Oratorio, que sempre alcançou o primeiro premio entre os seus Competidores. Quando dictou Humanidades no Collegio de Lisboa defendeo duas celebres Conclusoens sendo o assumpto das primeiras Septem orbis miracula, e das segundas Novem Romae Heroes, que lhe conciliaraõ naõ pequeno applauso pelo artificio com que estavaõ cõpostas. Naõ foy menor o progresso, que a sua comprehensaõ fez nas sciencias severas lendo Filosofia, e Theologia atè jubilar na Cadeira de Prima em o Collegio de Coimbra, onde os Cathedraticos da Universidade Professores da Jurisprudencia Canonica, e Civil se admiravaõ da promptidaõ com que repetia qualquer texto, que lhe opunhaõ. Nos actos litterarios nunca transcendeo os Limites da modestia, antes quando era insultado por algum arguente indiscreto sempre conservou o animo inalteravel. Depois de illustrar a Coimbra com as suas letras passou à Universidade de Evora a ser Lente de Prima onde recebeo o grào de Doutor a 6. de Junho de 1655. e foy Qualificador do Santo Officio. Duas vezes esteve prezo por sospeita de inconfidencia procedida de seu irmaõ ter passado para Castella com outros Fidalgos no tempo, que Portugal aclamou por seu legitimo Soberano a ElRey D. Joaõ o IV. e de ambas estas duas occasioens sahio mais purificada a sua innocencia, e manifesta a sua fidelidade. Foy ornado de todas as virtudes religiosas sendo humilde, compassivo, modesto, penitente, e charitativo. Supplicou com repetidas instancias ao Geral Mucio Vitelleschi a faculdade para prègar as verdades Evangelicas em o Japaõ, de cuja supplica nunca alcançou o dezejado despacho. Ao tempo que era Reytor do Collegio de Evora ordenou a Serenissima Raynha Regente D. Luiza Francisca de Gusmaõ, que os Estudantes daquella Universidade fossem presidiar a Praça de Jurumenha por ser preciso soccorrer Elvas, que estava reduzida ao ultimo perigo pelas armas Castelhanas. Resolveo-se no Claustro da Universidade, que acompanhasse o Reytor aos Estudantes, o qual chegando a Jurumenha recebeo a feliz noticia de estar libertada Elvas com igual gloria dos Portuguezes, que fatal destroço dos Castelhanos. Depois de ter entrado nesta Cidade para applaudir taõ insigne vitoria, voltou para Jurumenha onde a tempo, que estava assistindo a hum enfermo com os Padres Diogo de Alfaya Lente da Universidade, e Diogo Cardoso foraõ arrebatados com cem Estudantes pela violencia do fogo, que casualmente se ateou em huns barriz de polvora, que estavaõ em huma casa inferior do Governador da Praça, cuja lastimosa fatalidade succedeo a 19. de Janeiro de 1659. Entre os estragos, que fez o incendio, foy achado hum fragmento do corpo do P. Francisco Soares conhecido pelo sinete do lugar de Reytor, que tinha em a algibeira, onde tambem se viraõ o cilicio, e disciplinas com que macerava o corpo. Este foy o tragico fim, que teve a vida deste Varaõ Religioso digna certamente de mayor duraçaõ, cuja memoria celebraraõ diversas pennas como saõ Fr. Franc. à D. Aug. Maced. Secund. sent. Collat. differ. 2. sect. 5. insigni Magistro, magno Soario, si vivere contigisset diutius, haud impari, ut opinor, futuro. Fr. Ant. Correa Vid. do V. Ant. da Conc. Part. 3. cap. 3. de quem a Sagrada Companhia de JESUS dignamente se pòde gloriar. D. Franc. Manoel Cart. dos AA. Portug. ao Doutor Themudo. Francisco Soares, que nas letras, como no nome he huma viva imitaçaõ do primeiro. Bib. Societ. pag. 254. Fuit vir omnibus plane numeris absolutus, clarus genere, litteris eruditus, ad gubernandum natus. Joan. Soar. de Brit. Theatr. Lusit. Litter. lit. F. n. 77. Sed longe major viro pietas, prudentia, & morum comitas, nec min in adversis constantia. Franco Imag. Da Virtud. em o Nov. de Lisboa liv. 3. cap. 48. n. 1. Gravissimo Padre, e Doutor Sapientissimo, & in Ann. Glor. S. J. in Lusit. pag. 33. In Magisterijs nihil ac praelarius opinio par . sapienti ingenium, acumen, & memoria praestantissima, & in Annalib. S. J. in Lusit. pag. 232. n. 4. domo, an virtute illustrior, aut certe utraque illustrissimus: nihil in eo humile. Soar. de Alarcaõ. Relaç. Geneal. de la Casa de los Marq. do Trocif. pag. 385. col. 2. Nicol. Ant. Bib Hisp. pag. 245. col. 1. chamando-lhe por equivocaçaõ Diogo. Fonseca Evor. Glorios. pag. 431. Compoz

Cursus Philosophicus in quattuor Tomos distributus, quorum primus comprehendit Logicam. Secundus Physicam, de Caelo, Meteora, & libros de parvis naturalibus. Tertius de Generatione, & de anima. Quartus Methaphysicam. Conimbricae Typis Pauli Craesbeeck. 1651. fol. 2. Tom. & Eborae Typis Academiae 1669. fol. 2. Tom.

Tractatus de Paenitentia. Eborae Typis Academiae 1678. fol.

De Censuris Ecclesiasticis, & Bulla Caenae. M. S. fol.

Commentaria in Primam Partem D. Thomae. M. S. fol.

Estas duas obras estavaõ promptas para Impressaõ como afirmaõ a Bib. Societ. pag. 254. e Franco Imag. da Virtud. em o Noviciad. de Lisboa. pag. 968. e 969.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]