ANTONIO BARBOSA BACELLAR, Doutor em Direito Civil pela Univ. de Coimbra, e Oppositor ás cadeiras da mesma faculdade. Seguiu depois a vida da magistratura, sendo successivarnente Corregedor da Comarca de Castello Branco, Provedor d’Evora, Desembargador da Relação do Porto, e finalmente da Casa da Supplicação de Lisboa nomeado a 22 de Novembro de 1661. – N. em Lisboa pelos annos de 1610, e m. no hospital das Chagas da mesma cidade a 15 de Fevereiro de 1663 segundo dizem os seus biographos. – Para mais ampla noticia da sua vida veja-se Barbosa no tomo I da Bibl. e o Ensaio Biopraphico-Critico de Costa e Silva, no tomo VIII de pag. 132 a 172. – E.
452) Relação diaria do sitio e tomada da forte praça do Recife, recuperação das capitanias de Itamaracá, Paraiba, Rio-Grande, Ciará e ilha de Fernão de Noronha, por Francisco Barreto Mestre de Campo general e Governador de Pernambuco. Lisboa, na Off. Craesbeeckiana 1654. 4.º de 32 Pag. não numeradas. Sahiu anonyma, e como tal vem mencionada na Bibliothéque Americaine de Mr. Ternaux‑Compans. Consta que fôra traduzida em italiano. É muito rara.
453) Relação da victoria que alcançaram as armas do muito alto e poderoso Rei D. Afonso VI em 14 de Janeiro de 1659, contra as de Castella, que tinham sitiado a praça d’Elvas etc. Lisboa, por Antonio Craesbeeck 1659. 4.º de 47 pag. Tambem sem o nome do auctor. Reimpressa em 1661 sem folha de rosto, e sem o nome do impressor (mas pelo caracter da letra me parace ser por Domingos Carneiro) 4.º de 26 pag. Esta reimpressão foi ignorada de Barbosa. Tenho d’ella um exemplar.
Foi a dita Relação traduzida em latim por Aleixo Collotes de Jantillet com o titulo Helvia Obsidione liberata etc. Ullyssip. 1662. 8.º.
Das numerosas obras poeticas de Bacellar, de que uma boa parte se conservam ainda ineditas (e eu possuo bastantes em dous volumes manuscriptos, que as comprehendem juntamente com as de outros contemporaneos) só me consta que se imprimisse avulso a seguinte:
454) Oitava de Camões (Deu signal a trombeta castelhana etc.) glosada á gloriosa victoria do Canal em 8 de Junho de 1663, sendo Governador do Alemtejo D. Sancho Manuel, Conde de Villa Flor. Lisboa, por Henrique Valente d’Oliveira 1663. 4.º de 7 pag. Ha tambem uma contrafação d’esta edição feita com identicas indicações, mas que pelo typo e papel se conhece claramente ser ja do seculo passado: tenho d’ella um exemplar.
É muito para notar que se publicasse com o nome de Bacellar já depois de 8 de Junho de 1663 uma composição allusiva aos successos d’este dia, quando elle tinha falecido a 15 de Fevereiro d’esse anno, como acima fica indicado: portanto, ou Barbosa se enganou assignando-lhe o falecimento na referida data, ou a composição de que tracto sahiu posthuma, aproveitando-se n’ella para o intento os versos que Bacellar teria feito para celebrar alguma das outras victories ganhadas aos castelhanos nas campanhas antecedentes.
Outras poesias do auctor sahiram comtudo passados muitos annos na Phenix Renascida, e se podem ler no tomo I de pag. 77 a 90 e de pag. 140 a 214, no tomo II de pag. 33 a 204, no tomo IV de pag. 279 a 312, e no tomo V de pag. 137 a 217. D’ellas trazem algumas expresso o seu nome, outras vem anonymas.
Cumpre aqui notar que Costa e Silva no Ensaio-Biographico attribue-lhe a composição de um Manifesto impresso em defeza da acclamação e direitos de D. João IV; o qual diz ser muito raro. Poderá ser que exista, mas não ousarei affirmal‑o emquanto não descobrir de sua existencia outro abonador mais seguro, e que não seja sujeito a tantas equivocações e descuidos como o era Costa e Silva.
O merecimento de Bacellar, quer se considere como prosador, quer como poeta é incontestavel. O erudito critico Francisco José Freire não duvida afirmar«que elle é um dos primeiros poetas do nosso Parnaso, tanto pelas qualidades poeticas, como por sua purissima locução. Os poucos versos que possuimos d’este sublime engenho são os que bastam para os rigoristas assentarem entre si que quem se defende com o exemplo d’este poeta em materias pertencentes á lingua, produz em sua defeza um texto da primeira classe. Lêa as suas obras com reflexão judiciosa quem duvidar da justiça d’esta sentença.»
Na opinião de outro critico, «alem de possuir em subido grau os dotes de pureza e elegancia na linguagem, possuia egualmente imaginação viva, e estylo pittoresco, e nenhum dos seus contemporaneos lhe levou vantagem na valentia e sonoridade do metro, nem na abundancia e naturalidade da rima. Posto que discipulo da eschola de Gongora, soube sustentar-se sem cahir nas exagerações e defeitos usuaes nos vulgares imitadores d’aquelle alias grande poeta hespanhol: e se vivesse em seculo de mais sã doutrina e melhores exemplos teria por certo deixado á posteridade um nome ainda mais honroso, e seria universalmente reputado por um dos mais insignes cultores da lingua e poesia portuguezas.»
O compilador do Catalogo da Academia não o julgou porem digno de figurar ao lado de tantos a quem deu a preeminencia de classicos, muitos d’elles não podendo allegar em seu favor titulos eguaes aos de Bacellar para merecerem tão honrosa collocação.
[Diccionario bibliographico portuguez, tomo 1]