Fr. FRANCISCO DO SANTISSIMO SACRAMENTO chamado no Seculo Francisco Teixeira naceo em Lisboa a 4. de Outubro de 1610. Foy filho de Francisco Teixeira, e Francisca Serrãa abundantes dos bens da fortuna. Applicado ao estudo da Gramatica se distinguio em breve tempo de todos os Condiscipulos por ser ornado de entendimento claro, engenho agudo, e feliz memoria. O Pay atendendo mais ao augmento do seu cabedal, que ao progresso, que o filho fazia no estudo para que se industriasse nos interesses da mercancia o mandou a Sevilha ajustar huma larga conta, que tinha com hum seu Correspondente, e concluida esta incumbencia como da sua actividade se esperava restituindo-se à patria resolveo  desprezar as riquezas patrimoniaes, e abraçar o sagrado, e austero Instituto dos Carmelitas Descalsos, que professou no Convento de N. Senhora dos Remedios desta Corte a 15. de Outubro de 1629. consagrado ao culto da sua Serafica Matriarcha Santa Thereza. Aprendeo Filosofia no Collegio de Figueirò sendo seu Mestre Fr. Belchior de Santa Anna primeiro Chronista desta Provincia em cujo lugar foy depois nomeado a 30. de Janeiro de 1665. e em Coimbra estudou Theologia sahindo em ambas as Faculdades capaz de as dittar, se a grave prudencia de que era ornado o naõ habilitara para administrar os lugares de Procurador Geral em Lisboa por nove annos, Prior dos Conventos de Adolhalvo, Santarem, e Lisboa dous trienios, e duas vezes Provincial recusando o Generalato offerecido pelos Gremiaes por haver assistido com authoridade gravissima a seis Capitulos Geraes como Provincial, e Socio desta  Provincia. Mereceo particulares estimaçoens do Conde de Castello-Melhor Luiz de Vasconcellos, e Souza Escrivaõ da Puridade, e primeiro Ministro delRey D. Affonso VI. confiando da sua prudente direçaõ, e maduro conselho os mayores negocios desta Monarchia. Pela sua industria conseguio grandes creditos à Provincia de que era benemerito filho sendo os principaes, que a Universidade de Coimbra fizesse Prestito em dia de Santa Thereza, impedir que se derrubasse o Convento do Porto para no seu sitio se levantar hum Forte, e ser Author das Fundaçoens dos Conventos de Santarem, e das Religiosas da Conceiçaõ dos Cardaes nesta Corte. Foy exemplarissimo na observancia regular com tal excesso, que ouvindo tocar o sino para a Oraçaõ se despedia promptamente das pessoas com quem estava fallando ainda que fossem da primeira Jerarchia. Dissimulava os aggravos proprios, e encobria os defeitos alheos. Todo o tempo, que lhe restava das obrigaçoens de Religioso o empregava na liçaõ dos livros. Sobre alguns achaques, que padeceo pelo espaço da sua vida lhe sobreveyo huma febre catarral, que o obrigou a receber os Sacramentos atè que com os olhos fixos em Christo Crucificado lhe entregou o espirito a 12. de Julho de 1689. quando contava 80. annos de idade, e 62. de Habito. Compoz

Epitome unico da dignidade do grande; e mayor Ministro da Puridade, e da sua muita antiguidade, e excellencia. Lisboa por Joaõ da Costa. 1666. 4. Dedicado ao Excellentissimo Senhor Luiz de Vasconcellos, e Souza Conde de Castello-Melhor Escrivaõ, e mayor Ministro da Puridade delRey D. Affonso VI. &c. A este livro intitula doutissimo o Beneficiado Francisco Leitaõ Ferreira. Mem. Chronolog. da Univ. de Coimbra. pag. 406.

Nobiliario das Familias deste Reyno, e fóra delle. fol. 5. vol. grandes, os quaes por sua morte com beneplacito do Geral Fr. Affonso da Madre de Deos, do Provincial desta Provincia Fr. Joaõ Bautista, e de Fr. Manoel da Cruz Prior do Convento dos Remedios desta Corte se entregaraõ ao Eminentissimo Cardeal de Lencastro com protesto de naõ sahirem do seu poder, e somente para o archivo do Tribunal do Santo Officio.

Arvore Genealogica da Casa dos Marquezes de Niza. Arvore da Familia dos Menezes da linha dos Condes da Ericeira. Destas duas obras faz memoria o P. D. Antonio Caetano de Sousa Apparat. à Hist. Geneal. da Cas. Real de Portug. pag. 128. §. 147. dizendo. Foy no seu tempo havido por hum dos grandes Genealogicos, e com grande estimação na Corte.

Carta politica escrita ao Conde de Castello-Melhor Privado delRey D. Affonso VI. de Portugal. Começa. Naõ se pòde, Senhor, negar a natural sympathia aos astros. Acaba. Tudo para gloria de Portugal, e admiraçaõ do mundo, idea dos vindouros, credito do seu Rey, honra da sua patria, mayor lustre do seu sangue. 4. M. S. Consta de 222. paginas. Sem o nome do Author.

Defensorio Apologetico da existencia do Monochato Eliano continuado jure haereditario desde Elias seu Fundador atè o prezente Seculo, e reposta às objeçoens frivolas por impugnarem a verdade estabelecida com a doutrina dos Santos Padres, fundada na Escritura Santa, authoridade Pontificia, universal sentimento, e approvaçaõ dos Doutores assim Classicos, como historicos, e geral tradiçaõ constante de seculos immemoraveis. fol. M. S.

Miscellanea de Tratados Moraes, e Historicos, Genealogicos, e Epistologicos. fol. M. S.

Mysticos dos Senhores Reys de Portugal recopilados. fol. M. S.

Fragmentos Historicos. fol. M. S.

Varios pareceres sobre materias Genealogicas. fol. M. S.

Jardim de Portugal, vida de Santas Portuguezas, mulheres illustres, e virtuosas. fol. M. S.

Dos Ricos homens, e mais pessoas notaveis, que floreceraõ em Hespanha depois de sua Restauraçaõ, referindo só as pessoas, qualidades, e dignidades, que tiveraõ, e os Seculos em que viveraõ, e mais notabilidades, que os celebraraõ. Ordenado pelas letras do A. B. C. 4. M. S.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]