ANTONIO DE ARAUJO DE AZEVEDO, Grão‑Cruz das Ordens de Christo, e Torre e Espada, de Isabel a Catholica em Hespanha, e da Legião de Honra em França, primeiro Conde da Barca; Enviado extraordinario ás Cortes de Haya e S. Petersburgo, e Ministro plenipotenciario junto á Republica Franceza nos annos de 1795, 1797, e 1801; Ministro e Secretario d’Estado dos Negocios Estrangeiros e da Guerra, Conselheiro d’Estado; Presidente do Tribunal da Junta do Commercio; e ultimamente Ministro e Secretario d’Estado dos Negocios da Marinha no Brasil em 1814, e primeiro Ministro em 1817: Socio honorario da Acad. R. das Sc. de Lisboa, e de outras Associações Scientificas e Litterarias etc. – N. na villa de Ponte de Lima a 14 de Maio de 1754, e m. no Rio de Janeiro a 21 de Junho de 1817. – Veja‑se para a sua biographia o Elogio historico por Sebastião Francisco de Mendo Trigoso, impresso no tomo VIII parte II das Mem. da Acad. das Sc.; a Resenha das Familias Titulares de Portugal; o juizo critico‑politico que ácerca dos actos do seu ministerio escreveu J. B. da Rocha no Portuguez, tomo VII, 1818, pag. 957; etc. etc. – E.

418) Ode de Dryden para o dia de Sancta Cecilia, traduzida em portuguez. Sem anno nem logar da impressão 4.º gr. de 60 pag. não numeradas. Este folheto, que é hoje muito raro, e do qual possuo um exemplar, contém além da referida ode de Dryden mais tres odes de Gray (1.ª Sobre o progresso da Poesia – 2.ª Hymno á Adversidade – 3.ª Vendo ao longe o Collegio d’Eton) as quaes todas, bem como aquella, são traduzidas em egual numero de versos, e com a mesma disposição das rimas dos originaes. Estas versões são acompanhadas dos textos respectivos. Á frente vem uma Advertencia preliminar do editor (anonymo, mas que consta ser o Morgado de Mattheus D. José Maria de Sousa) datada de Hamburgo, a 30 de Maio de 1799. – N’esta mesma cidade foi estampado o folheto, como indica o caracter da letra, e se affirma expressamente no Elogio historico por Sebastião Trigoso, acima citado. Creio que não se pozeram á venda alguns exemplares, sendo todos destinados pelo editor para brindar com elles as pessoas de sua amisade, e outras a quem quiz obsequiar.

A traducção da Ode de Dryden (não as outras) appareceu passados annos reproduzida na Mnemósine Lusitana, tomo II, 1817, pag. 312, com a propria Advertencia preliminar do editor.

419) Traducção da Elegia de Gray, composta no Cemiterio de uma igreja d’aldêa. Em um folheto de 4.º gr. similhante ao antecedente; foi publicada pelo mesmo editor, quasi pelo mesmo tempo. É egualmente mui rara. Eu a fiz inserir em 1841 no Ramalhete, Jornal de Instrucção e Recreio, e sahiu no tomo IV a pag. 359 com varias incorrecções typographicas, que escaparam ao revisor.

420) Resposta, ou refutação da Carta de um Vassallo nobre ao seu Rei, attribuida ao Marquez de Penalva Fernando Telles da Silva. Esta resposta, que parece ter sido originalmente escripta em francez, appareceu traduzida e publicada sem o nome de seu auctor no Investigador Portuguez numero XXXVI (Junho de 1814) pag. 690 a 695. Depois foi impressa junta com a propria carta do Marquez, e com uma segunda resposta ou refutação d’esta feita por José Agostinho de Macedo, formando tudo um folheto de 65 pag. em 8.º, com o titulo de Carta de um Vassallo nobre ao seu Rei, e duas respostas á mesma, nas quaes se prova quaes são as classes mais uteis do Estado. Lisboa, na Typ. Rollandiana 1820. Todas as tres peças vem ahi anonymas. A de Antonio de Araujo começa a pag. 16 e finda a pag. 28.

421) Memoria em defeza de Camões contra Mr. de la Harpe. Inserta no tomo VII pag. 5 a 16 das Mem. de Litterat. da Acad. R. das Sc. de Lisboa.

422) Representação a elrei D. João VI, feita no Rio de Janeiro, em que defende os actos do seu ministerio, queixando‑se do Conde de Linhares, então ministro, e de seu irmão o Conde do Funchal, embaixador em Londres. – Esta representação só viu a luz no fim de alguns annos e já depois da morte de Araujo, publicada no Campeão Portuguez em Londres vol. I pag. 266, em um artigo de correspondencia assignado «Vindex»; dando motivo a que em breve apparecesse uma extensa confutação com o titulo seguinte: Resposta publica á denuncia secreta, que tem por titulo «Representação que a S. M. fez Antonio de Araujo de Azevedo em 1810». Offerecida ao juizo do publico e da posteridade por seu auctor R. da C. Gouvêa. Londres, por R. E. A. Taylor 1820. 8.º gr. de XV‑216‑LXIV pag. Creio que o Conde do Funchal, aggredido na Representação de Araujo, não foi extranho á Resposta, e que além de fornecer as bases e documentos para ella teve, se não toda, ao menos boa parte na sua redacção. Possuo um exemplar d’este livro, que é mui pouco conhecido, e assás interessante para a historia politica da monarchia portugueza nos primeiros annos d’este seculo.

423) Osmia, tragedia coroada pela Acad. R. das Sc. Lisboa, na Typ. da mesma Acad. 1788. 4.º – Sem nome do auctor. – Em artigo especial do presente Diccionario produzirei as rasões que me levam a adjudicar a Antonio d’Araujo a paternidade d’este drama, sem embargo da opinião vulgarmente recebida, que o attribue á Condessa do Vimieiro D. Theresa de Mello Breyner. (V. Osmia, tragedia etc.)

Diz‑se que deixara manuscripta outra tragedia Nova Castro, que parece se extraviou por sua morte, bem como varias poesias, e a traducção das Odes de Horacio, que emprehendera, e concluiu ainda no tempo em que era ministro na Hollanda, a qual não publicou em vida, pungido pelos motejos e chascos com que o seu amigo e protegido Francisco Manuel se desencadeou contra ella, dirigindo‑lhe além de outros os seguintes epigrammas:

 

Esse Horacio em latim,

E ess’outro traduzido

Cada um seja a seu nume (quanto a mim)

Por divida offerecido:

A Venus o latino, e o lusitano

Off’reçam‑no a Vulcano.

Horacio, transmudado em traje luso,

Estranhára seus versos engoiados

Sua atrevida phrase, hoje tão chocha

Em lingua d’etiqueta.

 

[Diccionario bibliographico portuguez, tomo 1]