FRANCISCO DE SÁ, E MENESES Cõmendador de S. Pedro de Fins, e S. Cosme de Garfe na Ordem de Christo natural da Cidade do Porto, filho de Joaõ Rodrigues de Sà, e D. Maria da Sylva semelhante ao precedente assim no esplendor do nacimento, identidade do nome, como na cultura da Poesia em que foy insigne, cuja arte praticou com tanta suavidade, e afluencia, que mereceo os Elogios dos mayores alumnos do Parnasso como foraõ Manoel de Galhegos Templo da Memor. livr. 4. Estanc. 192.
Naõ vistes vòs (ò celebre Menezes)
Mais maravilhas na Cidade de ouro
Que as que Hymeneo vio dos Portuguezes
Neste da fama celestial thezouro.
Tornay pois a invocar a vossa Clio
E dos Gusmaens eternizay o brio.
E Jacinto Cordeir. Elog. dos Poet. Lusit. Estanc. 29.
Yá Francisco de Sà gloria sucinta
De la immortalidad a que se mueve
Como Menezes Valentias pinta
La pluma, que al ingenio tanto deve.
Livre dos vinculos do matrimonio se deliberou a largar o mundo, cuja resoluçaõ heroicamente executou recebendo o Habito de S. Domingos no Real Convento de Bemfica em que fez a Profissaõ solemne a 14. de Dezembro de 1642. com o nome de Fr. Francisco de JESUS antepondo com judiciosa eleyçaõ este Santissimo nome aos nobres apellidos de Sà, e Menezes de que totalmente se queria esquecer por serem mudos despertadores da vaidade mundana. As principaes virtudes que constituem hum Religioso perfeito practicava com tanta exacçaõ, que servia aos moços de estimulo, e aos velhos de confusaõ. Era na obediencia prompto, na oraçaõ continuo, na mortificaçaõ severo, na charidade ardente. Cumulado de tantos actos heroicos falleceo piamente a 27. de Mayo de 1664. Foy cazado com D. Antonia de Andrade filha de Balthezar Leytaõ de Andrade Thezoureiro da Casa da India, Cõmendador da Ordem de Christo, e D. Joanna de Andrade sua Prima de quem teve Joanna de Sà, e Menezes, que cazou com Fernando da Sylveira segundo irmaõ do Conde de Sarzedas, e Capitaõ de Cavallos em Flandes, Conselheiro de Guerra dos Reys D. Joaõ o IV. e D. Affonso VI. acabando gloriosamente a vida na Batalha das Linhas de Elvas a 14. de Janeiro de 1659. da qual deixou larga posteridade. Celebrou o nome de Francisco de Sà, e Menezes o Licenciado Jorge Cardoso Agiol. Lusit. Tom. 2. pag. 295 . no comment. de 24. de Março. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1. pag. 359. col. 2. Altamura Centur. 4. fol. 315 . Faria Europ. Portug. Tom. 3. Part. 4. cap. 6. Joan. Soar. de Brit. Theatr. Lusit. Litter. lit. F. n. 68. Echard Script. Ord. Praed. Tom. 2. pag. 581. col. 2. Monteir. Claustr. Dom. Tom. 3. pag. 218. Compoz
Malaca cõquistada por o grande Affonso de Albuquerque Poema Heroico. Offerecido à Catholica Magestade delRey Filippe III. de Portugal. Lisboa por Mathias Rodrigues. 1634. 8. & ibi novamente reformado, por Pedro Crasbeeck. 1658. 4. Consta de 12. Cantos. Na censura, que por ordem delRey fez a esta obra Diogo de Payva de Andrade Sobrinho do grande Theologo do mesmo nome, que foy ao Concilio Tridentino, dos quaes se fez memoria em seus lugares, diz entre outros louvores as seguintes palavras. Faz o Author ser de mayores quilates a perfeiçaõ desta sua obra com os da pureza do seu sangue, e das virtudes naturaes de que he dotado; com que tambem naõ só imita, se naõ iguala, ou ainda excede a prudencia, valor, e merecimento de seus illustres antepassados; authorizando com a excellencia de seus versos a patria que elles honraraõ com o esforço de seus braços. Continua em applauso deste Poema com seguinte Epigramma digno parto da sua grande Musa.
Horrida concussus miratur praelia Ganges
Dum premit Eoas Lysia turba plagas:
Sistit inexhaustum Tagus ad nova praelia cursum
Pollice magnifico dum vaga plectra moves:
Ille racemiferos irrorans sanguine Cãpos
Suspicit Hesperios, Marte sonante, duces:
Hic steriles mulcens celebri dulcedine cautes,
Despicit Aonios te modulante choros:
Ille beat rutilis Indorum aeraria gemmis,
Cantibus hic celsis LysIa Sceptra beat:
Ille potens armis, hic vate potentior, auget
Carmine, quod jaculis obtinet ille decus:
Ille sonat bellis, hic plausibus, ille tuorum
Viribus, hic numeris fertur ad astra tuis:
Haec divisa procul tu vatum maxime jungis
Egregium absolvens Martis, &artis Opus,
Nam simul exiguis late celeberrima chartis
Extollunt Gangem praelia, plectra Tagum.
Ao mesmo argumento dedicou o Soneto 12. da Tuba de Calliope D. Francisco Manoel de Mello pag. 7. das obras Metricas.
Malaca de Albuquerque conquistada
Taõ culto escreves, cantas taõ valente,
Que parece que o Barbaro igualmente
Venera a Tuba, que temeo a espada.
Nunca fora a victoria duvidada
Se nella illustre Sà, foras prezente,
Pois o que naõ rendera o rayo ardente
Bem o rendera a Musa levantada.
Em quanto viva o circular governo
Nas esferas do O/ympo Luminoso
Vivirás a pesar do oposto inferno.
Porèm tu com excesso mais glorioso,
Que elle sem ti naõ pode ser eterno,
Mas tu sem elle podes ser famoso.
O Padre Antonio dos Reys Enthus. Poet. n. 13.
Non aberat, culti par carminis arte, Malacae
Sadius excidium, qui cantat viribus aequis
His quibus intrepidus prostravit maenia miles.
Compoz mais
Cançaõ em applauso da Gigantomachia de Manoel de Galhegos. Começa
Batid Cisnes del Tajo
Batid alegres las Canoras alas.
Sahio impressa ao principio. Lisboa por Pedro Craesbeeck. 1628. 4.
Soneto em louvor do Templo da Memoria do mesmo Poeta. Lisboa por
Lourenço Craesbeeck. 1635. 4.
Soneto á Fama posthuma de Lope da Vega a fol. 134. Madrid. 1636. 4.
Tragedia de D. Maria Telles mulher do Infante D. Joaõ filho delRey D.
Pedro I. e D. Ignez de Castro. M. S. Principia
Horas alegres do ditoso dia.
Conserva-se M. S. na Bib. Real. 4.
Satyras. 8. Estavaõ na Bibliotheca do Illustrissimo Bispo do Porto D. Rodrigo da Cunha como consta do seu Index impresso no Porto em 1627. 4.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]