FRANCISCO PIMENTEL naceo em Lisboa, e na Parochial Igreja de Santa Justa recebeo a primeira graça a 23. de Setembro de 1652. Foy filho terceiro de Luiz Serram Pimentel Cosmographo mór, Tenente General da Artilharia, e Engenheiro mòr do Reyno, de quem se farà distinta memoria em seu lugar, e de sua segunda mulher D. Izabel Godins. Depois de frequentar o estudo das letras humanas no Collegio de Santo Antaõ dos Padres Jesuitas, passou à Universidade de Coimbra onde applicado à Faculdade de Direito Cesareo recebeo o grào de Bacharel em o anno de 1677. Como fosse muito perito nas disciplinas Mathematicas principalmente em a Geometria, e fortificaçaõ o nomeou ElRey D. Pedro II. a 7. De Agosto de 1677. por Capitaõ Ajudante do Engenheiro mòr seu Pay ao qual substituhio em o anno de 1679. no exercicio de Lente de Fortificaçaõ, que continuou todo o tempo que lhe permitiaõ assistir em Lisboa as frequentes jornadas que fazia para observar a segurança das Praças do Reyno, e dispor as defensas de que necessitavaõ. Entendendo ElRey D. Pedro que no tempo da paz era conveniente prevenirse para a guerra, e instruir na disciplina militar aos seus Vassalos valendo-se da occasiaõ dos aprestos, que em Polonia, e Alemanha se faziaõ contra o inimigo commum da Christandade mandou a Francisco Pimentel, e D. Antonio Salgado com o posto de Capitaens acompanhados de quatro Ajudantes para que assistindo naquellas Campanhas aprendessem practicamente os dictames da Arte militar. Partio de Lisboa Francisco Pimentel a 17. de Mayo de 1684. E chegando à Corte de Polonia foy benevolamente recebido pelo seu Soberano Joaõ Sobieski chegando a tal excesso a distinçaõ que fez da sua pessoa que o fez sentar à sua mesa algumas vezes. Por ordem desta Corte passou de Polonia em o anno de 1685. a Hungria achando-se na expugnaçaõ da Praça de Newhausel que os Imperiaes por assalto recuperaraõ do poder do Turco donde marchou com o exercito Imperial a avistar a Praça de Buda havendo-se em todas as operaçoens desta Campanha com grande actividade, e naõ menor disciplina. Restituido ao Reyno passou no anno de 1690. a dispor a fórma da defensa da Praça de Mazagaõ por se recear a invasaõ dos Mouros, a cujos rebates sahio muitas vezes ao campo em que deu manifestos argumentos de seu valor natural. Declarada a guerra por esta Coroa contra a Castelhana no anno de 1704. entrou a servir na Beira com o posto de Quartel Mestre General ordenando tudo quanto pertencia a este lugar com summa providencia, e acreditando o seu esforço no choque que o nosso exercito teve com o inimigo em Monsanto devendo-se a recuperaçaõ do seu Castello, e grande parte da felicidade deste dia às suas disposiçoens donde sahio gravemente ferido de huma bala. Ainda mal convalecido sahio da Praça de Penamacor governando o Trem da Artilharia do nosso exercito que marchava para a Praça de Almeyda. Nomeado no anno de 1705. Mestre de Campo General dispoz com grande acordo todos os campamentos do nosso exercito, e se assinalou na recuperaçaõ da Praça de Salvaterra. O mesmo ardor manifestou na Provincia do Alentejo assistindo ao sitio de Badajos, atè que a 17. de Setembro de 1706. lhe ordenou o Marquez das Minas Governador das Armas que ficasse na Cidade de Cuenca com trezentos Infantes para presidio da Praça que governaria com patente de Mestre de Campo porèm sentindo-se gravemente enfermo fez o seu Testamento sendo a principal disposiçaõ que se annexassem os seus bens ao Morgado de seus Avòs, e recebidos os Sacramentos com catholica piedade falleceo a 6. de Outubro de 1706. quando contava 54. annos de idade a tempo que os Castelhanos tinhaõ assediado a Cuenca. Foy sepultado com todas as honras militares na Parochial Igreja de Santa Cruz da mesma Cidade. Faz do seu nome repetida memoria o P. Souza Hist. Gen. da Cas. Real Portug. Tom. 7. p. 556. e 619. e Tom. 8. p. 339. Compoz
Elementos de Geometria.
Geometria Practica que contem a doutrina dos Triangulos, a construçaõ das Taboas dos Senos Tangentes, e Secantes, e dos Logarithmos. A dimensaõ das linhas, superficies, e corpos. A perspectiva, e a divisaõ das superficies.
Tratado da offensa, e defensa das Praças.
Fortificaçaõ moderna que trata da Cõstrucçaõ, e Fabrica das Fortalezas.
Todas estas obras M. S. se conservaõ com estimaçaõ em poder dos Professores da Arte militar.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]