D. FRANCISCO DE PORTUGAL Outavo Conde do Vimioso, e segundo Marquez de Valença Senhor da Casa de Basto, Donatario da Capitania de Machico na Ilha da Madeira, Cõmendador das Cõmendas de S. Miguel de Chorense, S. Tiago de Androes, S. Martinho de Sande, S. Miguel de Souto, S. Nicolào de Saleas da Ordem de Christo, e de Almodouvar, e Garvaõ no Campo de Ourique da Ordem de S. Tiago. Naceo em a Cidade de Lisboa a 25. de Janeiro de 1679. sendo filho de D. Miguel de Portugal setimo Conde do Vimioso, Senhor da Villa de Aguiar, Governador de Evora, e Estribeiro mòr da Rainha D. Maria Francisca Izabel de Saboya, e neto de D. Affonso de Portugal quinto Conde do Vimioso, primeiro Marquez de Aguiar, Capitaõ General do Reyno, e Conselheiro de Estado. Por morte de seu Excellentissimo Pay foy educado com virtuosas maximas atè a idade de onze annos por sua Tia a Condessa D. Maria Margarida de Castro, e Albuquerque huma das mais celebres Matronas, que respeitou a nossa Corte a quem deixou igualmente herdeiro dos dotes do seu espirito, como da opulencia da sua Casa. Logo que começou a receber as primeiras instruçoens da lingua Latina, e letras humanas foraõ tantos os progressos do seu agudo engenho, e penetrante comprehensaõ, que claramente mostrou nacera mais para ensinar, do que para aprender. Tendo alcançado a perfeita inteligencia das linguas mais polidas da Europa estudou com particular atençaõ a materna a qual escreve com pureza, falla com elegancia sendo taõ escrupuloso cultor das suas palavras, que nunca para se explicar admitio o menor termo dos idiomas estrangeiros. De todas as artes liberaes unicamente frequentou como mais propria de Cavalhero o manejo dos Cavallos em cujo exercicio foy taõ desembaraçado, como ayroso. Ao continuo estudo de seis horas cada dia observado pelo largo espaço de vinte e cinco annos deveo o vastissimo conhecimento da Filologia deleitando-se o seu genio em a liçaõ dos Poetas, e Historiadores do Seculo de Augusto, e de outros Escritores, que felizmente uniraõ a elegancia da fraze com a verdade da narraçaõ. As suas litterarias produçoens sempre foraõ respeitadas por incomparaveis, assim pela novidade da idea, como pela subtileza do discurso, e pureza do estilo. Nas Cartas Familiares naõ sómente imitou, mas excedeo na fineza dos pensamentos a Seneca escrevendo a Lucillo, e a Plinio a Trajano. Toda a facundia de Cicero, energia de Pericles, e eloquencia de Demosthenes se admiraõ mais vigorosamente animadas nos Discursos, e Oraçoens, que recitou fóra, e dentro da Academia Real da Historia Portugueza onde foy Academico, e Censor, naõ havendo assumpto Festivo, ou Funebre, Moral, ou Politico, Civil, ou Militar, que naõ fosse profundamente descrito pela sua penna sempre fecunda de conceitos finos, razoens concludentes, e agudas sentenças. Correspondeo à profundidade do juizo a magnificencia do coraçaõ igualmente pio, que generoso sendo eternos padroens desta heroica profuçaõ, desaseis mil cruzados, que dispendeo quando por ordem delRey D. Pedro II. alistou Soldados no Termo de Torres Vedras, e Alanquer, desasete mil cruzados sendo Provedor da Meza da Misericordia, tres mil cruzados para remedio dos prezos, e outras fomes de grande importancia no religioso culto de Deos, e de sua Mãy Santissima. Com animo imperturbavel vio arder o seu magnifico Palacio a 25. de Novembro de 1726. recebendo neste fatal succeso particulares honras de Sua Magestade, e do Senhor Infante D. Francisco offerecendo-lhe ElRey com incomparavel grandeza o Palacio da Casa de Bragança, e o Senhor Infante o da Bem-Posta para sua habitaçaõ. Teve sempre a nobre paxaõ de tratar os homens mais insignes em qualquer arte dos quaes publica o merecimento para o premio, defende o credito contra a censura. Venerador observantissimo dos costumes patrios aborrece os estranhos como opostos à veneravel antiguidade. Sendo dotado de genio brando, e suave he rigidamente severo nas materias pertencentes à Religiaõ, e ao pundonor. Ainda que naturalmente benevolo, nunca lizongeou aos que estaõ collocados na mayor esfera da fortuna practicando ser Cortes para o povo, Civil para a Nobreza, reverente, e izento para os Principes. Cazou com D. Francisca Rosa de Menezes filha do primeiro Marquez de Alegrete Manoel Telles da Sylva, e da Marqueza D. Luiza Amaro Coutinho de cujo consorcio teve a D. Jozè Miguel Joaõ de Portugal nono Conde do Vimioso perfeita copia de taõ grande original: D. Miguel Lucio de Portugal, Conego da Santa Basilica Patriarchal, que laureado Mestre em Artes pela Universidade de Evora promete na verdura da idade sazonados frutos em as sciencias mayores, e D. Thereza Maria Jozefa ornada de tantas virtudes, que excedem o numero dos seus annos. Das muitas, e diversas Obras, que tem composto o seu fecundo talento se fizeraõ publicas por beneficio da Impressaõ as seguintes
Practica com que congratulou a Academia quando foy admitido por Academico. Lisboa por Pascoal da Sylva 1723. fol. Sahio no 3. Tomo da Collec. dos Document. da Academia Real.
Oraçaõ com que congratulou a Academia Real da Historia Portugueza pelo feliz nacimento do Senhor Infante D. Alexandre recitada no Paço a 27. De Setembro de 1723. No Tom. 3. da Collec. dos Documentos da Academia. fol.
Oraçaõ Panegyrica no felicissimo Cazamento do Serenissimo Senhor D. Jozè Principe do Brasil, e da Serenissima Senhora D. Mariana Victoria Infanta de Castella recitada na prezença de Suas Magestades, e Altezas em 13. de Janeiro de 1728. Lisboa por Jozè Antonio da Sylva 1728. fol. No Tom. 3. da Collec. dos Documentos da Academia Real. & ibi pelo dito Impressor 1728. 4.
Oraçaõ recitada na Academia Real da Historia Portugueza na ocaziaõ da morte do Serenissimo Senhor Infante D. Alexandre. Lisboa por Jozè Antonio da Sylva. 1728. fol. No Tom. 8. da Collec. dos Docum. da Academia.
Elogio do P. Jeronymo de Castilho da Companhia de JESUS recitado na Academia a 25. de Mayo de 1730. Lisboa por Jozè Antonio da Sylva 1730. fol. No Tom. 10. da Collec. dos Documentos da Academia.
Discurso como deve ser hum Historiador recitado na Academia a 4. De Janeiro de 1731. Lisboa pelo dito Impressor 1731. fol. No Tom. 11. da Collec. dos Docum. da Academia.
Discurso em que se prova quem logra a sabedoria possue todas as virtudes recitado na Academia em 21. de Junho de 1731. Lisboa pelo dito Impressor. fol. No Tom. 11. da Collec.
Elogio do P. Pedro de Almeida da Companhia de JESUS recitado na Academia a 3. de Janeiro de 1732. Lisboa pelo dito Impressor. fol. No Tom. 11. Da Collec. dos Documentos da Academia Real.
Discurso recitado na Academia Real em 13. de Março de 1732. em que persuade a uniaõ entre os Sabios. Lisboa pelo dito Impressor. fol. No Tom. 11. Da Colleçaõ.
Discurso recitado no Paço em 7. de Setembro de 1732. em que prova que a virtude louvada naõ crece antes se diminue. Lisboa pelo dito Impressor fol. No Tom. 11. da Colleçaõ.
Discurso em que defende que este titulo de Heroe se pode dar a hum Varaõ insigne nas letras, e santidade como nas armas oppondo-se a quem afirmava, que só competia aos professores das armas recitado na Academia Real a 23. de Abril de 1733. Lisboa pelo dito Impressor. 1733. fol. No Tom. 12. da Collec. dos Documentos da Academia Real.
Elogio do P. D. Manoel Caetano de Souza. Lisboa por Jozè Antonio da Sylva 1734. fol. No Tom. 13. dos Documentos da Academia Real.
Oraçaõ recitada no Paço em 7. de Setembro de 1735. dia em que se celebravaõ os annos da Rainha N. Senhora. Lisboa pelo dito Impressor. 1735. 4.
Oraçaõ recitada no Paço a 25 . de Outubro de 1735. celebrando-se os annos delRey N. Senhor. Lisboa pelo mesmo Impressor. 1735. 4.
Elogio Funebre do Excellentissimo Senhor Manoel Telles da Sylva Marquez de Alegrete Secretario da Academia Real. Lisboa pelo mesmo Impressor 1736. 4.
Elogio Funebre do Serenissimo Senhor Infante D. Carlos recitado no Paço em 30. de Abril de 1736. Lisboa pelo dito Impressor 1736. 4.
Elogio Funebre de Diogo de Mendoça Corte-Real Secretario de Estado recitado no Paço em 17. de Mayo de 1736. Lisboa pelo dito Impressor 1736. 4.
Oraçaõ recitada no Paço na ocaziaõ da morte da Serenissima Senhora Infanta D. Francisca. Lisboa por Antonio Isidoro da Fonseca 1736. 4.
Oraçaõ recitada no Paço a 7. de Setembro de 1736. em os annos da Rainha N. Senhora. Lisboa pelo mesmo Impressor. 1736. 4.
Oraçaõ recitada no Paço a 29. de Outubro de 1736. celebrando-se os annos delRey N. Senhor. Lisboa pelo dito Impressor. 1736. 4.
Oraçaõ Panegyrica recitada no Paço a 6. de Junho de 1737. nos felicissimos annos do Serenissimo Senhor D. Jozè Principe do Brasil. Lisboa por Miguel Rodrigues Impressor do Senhor Patriarcha. 1737. 4.
Voto recitado na Academia pelo qual se mostra se devem admitir a ella os Estrangeiros. Lisboa pelo dito Impressor 1738. 4.
Oraçaõ recitada no Paço pela qual se mostra, que nem os Reys devem filosofar, nem as Filosofos reynar. Lisboa pelo dito Impressor 1738. 4.
Elogio Funebre de Belchior do Rego de Andrade. ibi pelo mesmo Impressor 1738. 4.
Elogio Funebre do Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor Conde de Tarouca Joaõ Gomes da Sylva. ibi pelo mesmo Impressor 1739. 4.
Segundo Elogio Funebre do Illustrissimo, e Excellentissimo Senhor Conde de Tarouca Joaõ Gomes da Sylva. ibi pelo mesmo Impressor, e anno. 4.
Discurso Apologetico em defensa do Theatro Hespanhol. ibi pelo mesmo Impressor 1739. 4.
Reflexoens à Sacratissima Paixaõ de JESUS Christo Nosso Senhor. Lisboa pelo dito Impressor 1730. 12.
Emmanueli Tellesio Sylvio Marchioni Alegretensi S. P. D. Sahio esta Carta Latina ao principio dos Epigrammas do mesmo Marquez de Alegrete. Ulyssipone apud Paschalem da Sylva Typ. Reg. 1722. 8. & Hagae Comitum apud Hadrianum Moetiens. 1723. 4.
Carta escrita ao Duque Estribeiro mòr em que o applaude pelas Acçoens ultimas, que escreveo de seu Pay o Duque do Cadaval D. Nuno Alvres Pereira de Mello. Sahio ao principio desta Obra. Lisboa na Officina da Musica. 1730. fol.
Panegyrico de Plinio ao Emperador Trajano traduzido na lingua Portugueza. fol. M. S.
Instrucçaõ que deu a seu filho o Excellentissimo Conde do Vimioso quando foy à Campanha do Alentejo no anno de 1735. 4. M. S.
Cartas a diversos assumptos de que se pòdem formar hum volume de justa grandeza. M. S. 4.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]