P. FRANCISCO DE MENDOÇA chamado no Seculo D. Francisco da Costa naceo em Lisboa onde foraõ seus Progenitores D. Alvaro da Costa Armeiro mòr delRey D. Sebastiaõ, e D. Leonor de Souza filha de Fernaõ Alvares de Souza Senhor da Labruja, e D. Brites de Souza. Applicou-se ao estudo das letras humanas em o Collegio patrio de Santo Antaõ, e tal foy o afecto que concebeo ao Instituto dos Padres Jesuitas de quem recebia a doutrina, que para conseguir o intento de ser seu companheiro ao qual fortemente se oppunha seu irmaõ D. Duarte da Costa, se lançou de huma janella da caza em que estava recluzo, e fugio furtivamente para o Collegio de Santo Antaõ donde foy receber a Roupeta em o de Coimbra a 28. de Julho de 1587. quando contava quatorze annos de idade. Como era dotado de agudo engenho, penetrante comprehensaõ, e feliz memoria sahio elegante Poeta, eloquente Orador, profundo Theologo, insigne Escriturario, e hum dos mais celebres Declamadores Evangelicos do seu tempo. Ensinou com applauso pelo espaço de sete annos letras humanas nos Collegios de Lisboa, e Coimbra onde tambem dictou Filosofia. Em a Universidade de Evora recebeo as insignias doutoraes da Theologia a 10. de Mayo de 1607. sendo seu padrinho D. Antonio de Menezes Senhor de Alconchel marido de D. Cecilia de Mendoça, sua parente, em cujo obsequio mudou o apellido de Costa, em Mendoça. Nesta famosa Academia foy Lente da Sagrada Escritura em cujo magisterio descubrio as vastas noticias, que com indefesso estudo tinha alcançado das letras Sagradas. Governou os Collegios de Coimbra, e Evora com summa prudencia pela qual foy eleyto no anno de 1625. Procurador Geral desta Provincia à Corte de Roma, onde deixou immortal memoria do seu nome assim pela eloquente energia com que prègava, como pela observancia religiosa com que se fazia exemplar dos seus companheiros afirmando o Geral Mucio Viteleschi que era igualmente insigne na especulaçaõ das sciencias, como na practica das Virtudes. Acompanhado do P. Francisco Freyre partio de Roma, e depois de visitar com ternissima piedade o Sanctuario da Caza do Loreto, atravessados os Alpes entrou em Leaõ de França, onde recolhido ao Collegio da Santissima Trindade dos Padres Jesuitas enfermou taõ gravemete, que sendo inuteis todos os remedios applicados pela medicina pedio o Sagrado Viatico que recebeo com excessiva ternura fóra da cama em que jazia sustentado em os braços de seus Irmaõs. Pouco antes de espirar pedio que lhe lessem a Paixaõ escrita por S. Joaõ mandando suspender a liçaõ em alguns passos que attento contemplava, e compungido reflectia atè que o seu innocente espirito se dezatou da prizaõ do corpo para gozar da patria celeste a 3. De Junho de 1626. Foy universalmente sentida a sua morte a cujo funeral concorreo obsequiosa a Cidade, e Universidade de Leaõ beijando-lhe a maõ, e levando parte das suas alfayas em sinal do respeito devido à sua memoria. O Cadaver estava cuberto de flores como symbolos das religiosas virtudes, que vigilantemente cultivara. Para se gravar sobre a sua sepultura escreveo a elevada Musa do P. Francisco de Macedo o seguinte Epitafio.
Siste hospes. Jacet hic Mendoça. Quis ille? requiris
Accipe. Erit merces haec satis ampla morae.
Hic patria Lusus. Genus alta è stirpe. Latino
Tullius eloquio. Carmine Virgilius.
Visus Aristoteles Sophia. Documenta salutis
Dum dedit Os aureum dictus, & Ambrosius.
Scriptura Hieronymus. Pastor bonus atte regendi
Doctrina quantus Laurea parta docet.
Et pius in superos, & moribus integer. Idemque
His titulis tantus, spe quoque maior erat.
Ex illo Regum monumenta, & Fama supersunt.
Praeterea Cinis est, & dolor heu! Patriae.
Foy taõ illustre em a nobreza do sangue como insigne no abatimento da pessoa aborrecendo com excesso toda a practica em que se fallava do explendor da sua origem, e unicamente estimando o exercicio dos Officios mais humildes da Comunidade. Observava taõ exactamente as regras do seu Instituto, que nunca violou a menor circunstancia dos seus preceitos. Tinha por delicia o obedecer, e por tormento o mandar. Igualmente era parco em o comer, como em o dormir servindo-lhe de descanso a continua applicaçaõ ao estudo que somente interrompia com os actos de Religioso. Todas as suas acçoens eraõ reguladas pela modestia com a qual mudamente emendava defeitos, reprehendia excessos. Orava com tanto fervor, que as lagrimas que derramavaõ os olhos eraõ claras testemunhas do activo incendio, que lhe abrazava o coraçaõ. Quotidianamente se açoutava com grande rigor, e nunca prègava, que naõ estivesse cingido com hum espero cilicio. Com estas armas conservou illesa a flor da castidade, que entre todas as virtudes cultivou com mayor disvelo. Foy devotissimo da Virgem Maria a cujo obsequio dedicava todos os dias varios generos de afectuosas devoçoens. Teve animo heroico para intentar emprezas arduas, genio afavel, e urbano para atrahir os animos mais discordes. Ardia em taõ fervoroso zelo da salvaçaõ das almas, que repetidas vezes supplicou aos Prelados o mandassem à India para instruir a gentilidade que estava taõ remota da sua vista. Finalmente foy huma perfeita imagem do estado religioso, e hum animado compendio das sciencias sagradas, e profanas como publicàraõ diversas penas de gravissimos Escritores. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1. pag. 340. col. 2. religiosae vitae, multiplicisque eruditionis, atque facundiae exemplar. Macedo Propug. Lusit; Gallic. pag. 111. clarissimus scripturarum interpres. & pag. 179. Vivum Sacrarum Litterarum Oraculum, e na Philip. Portug. cap. 21. pag. 210, gran Maestro de Escrituras. Zuleta ad Comment. Epist. D. Jacobo. ad cap. 2. vir maximus. Cardozo Agiol. Lusit. Tom. 1. pag. 273. no Comment. de 27. de Janeir. Letr. 1. insigne Padre. Illustrissimo Barzia Despertad. Christian. Tom. 1. Introd. Exhortat. cap. 6. §. 8. n. 182. Aquel admirable expozitor del libro 1. de los Reys. Gaspar dos Reys Franco Camp. Elys. Quaest. 58. n. 12. doctrina, & virtute praeclarus, & eruditione insignis, e quaest. 38. n. 48. dotissimus. Souza Hist. de S. Domingos da Prov. de Portug. Part. 1. liv. 6. cap. 19. doutissmo Fr. Joaõ Lahaye na impressaõ das obras de Santo Antonio imprimio huma Oraçaõ do P. Mendoça em louvor deste Thaumaturgo Portuguez, o intitula Doctorem Theologum insignem. Joaõ Pinto Ribeiro Lustr. ao Dezemb. do Paço cap. 3. n. 62. Illustre filho de Santo Ignacio. D. Fr. Thom. de Faria. Decad. 1. lib. 9. cap. 9. tum ob virtutum ornamenta, tum ob litterarum eximiam cognitionem, tum denique ob illustrem scribendi methodum. Macedo Eua, e Aue Part. 1. cap. 39. n. 4. doutissimo. D. Lourenço Gracian Arte de Ingen. Disc. 49. el Commentador de los Reys y el Rey de los Commentadores, e Disc. 45. el grave, el docto, y subtil en sus eruditos Commentarios de los Reyes. Pinto Ramires Comment. in Cant. Cantic. Tropolog. lib. 3. cap. 1. V. 14. Societatis nostrae columen, e no Specileg. Sacr. Tract. 1. cap. 7. in omni litteratura Summum
Virum. Francisco de Sant. Mar. Chron. dos Coneg. Secul. liv. liv. 1. cap. 37. chamado o Chrisostomo da Companhia, e ainda com mais rezaõ o Expozitor dos Reys, e o Rey dos Expozitores. Joan. Soar. de Brito Theat. Lusitan. Litter. lit. F. n. 56. Sacrarum Litterarum Conimbricae, & Eborae, muitos annos cum celebritate professor fuit, sed vitae Sanctimonia, animi sinceritate, morumque Candore multò celebrior Franc. de Francisc. Dissert. Philolog. de Franc. Litterat. Sect. 3. n. 20. Poetica & Rhetorica cultura florentissimum docta ejus manu conditum, consitumque viridarium sacrae, & prophanae eruditionis. Bib. Societ. pag. 237. col. 1. Nobilitate generis, omnigena litteratura, morum, vitaeque innocentia summis viris par. D. Franc. Manoel Carta dos Auth. Portug. illustres em sangue, letras, e virtudes. Marrac. Bib. Mariana. Part. 1. pag. 423. divinae, humanaeque sapientiae supra hominem peritus. Franco Imag. da Virtude em o Nov. de Coimbra. Tom. 1. liv. 2. cap. 83. sapientissmo Doutor, e no Tom. 2. pag. 617. Homem em tudo grande, e no Ann. Glor. S. J. in Lusit. pag. 305. in studendo vir fuit omnino indefessus. & in Annal. S. J. in Lusit. pag. 245. splendidissimum non solum hujus Provinciae, sed etiam totius Societatis lumen. Fonseca Evor. Glorios. pag. 430. Illustrissimo no sangue, e mais nas virtudes, e letras. Jacob. Lelong. Bib. Sacra pag. mihi 858. col. 1. P. Antonio dos Reys Enthus. Poet. n. 225.
Stat super elatus solio Mendocius ille
Quem Lysiae Matri raptum dedit improba Celtis
Mors: socii lacrymis irrorant grandibus ora
Lugdunumque vocant defuncti corpore felix
Ter quater, & Nymphas Rhodani de gurgite quisque
Admonet excitas, ut curvo in littore magnis
Pro meritis tumulum conspergant floribus.
Compoz
Cõmentariorum, ac discursuum moralium in Regum libros Tomi tres varia, ac jucunda eruditione, nec non discursibus moralibus ad omnem concionum materiam utilissimis luculenter instructi. Tom. 1. Conimbricae apud Didacum Gomez de Loureiro Acad. Typ. 1621. fol. Lugduni apud Jacobum Cardon 1622. fol. Coloniae apud Petrum Henningium 1634. fol. Lugduni Sumptibus Gabriel Boissat, & Sociorum 1636. fol.
Commentarior. &c. Tom. 2. Ulyssipone apud Petrum Craesbeeck. 1624. fol.
Lugduni apud Jacobum Cardon. 1625. fol. Coloniae apud Petrum Henningium 1634. fol. & Lugd. apud Gabrielem Boissat, et soc. 1637. fol.
Commentariorum, &c. Tom. 3. Lugduni apud Jacobum Cardon 1631. fol.
Colonia apud Petrum Henningium 1633. fol. & Lugduni Sumptibus Gabrielis Boissat & Socior. 1637. fol.
Viridarium Sacrae & prophanae eruditionis. Lugduni apud Jacobum Cardon 1632. fol. Coloniae apud Petrum Henningium 1633. fol. & ibi 1650. 8. Lugduni apud Laurentium Anisson 1645. & ibi per eumdem Typog. 1649. Coloniae Agrippinae apud viduam Joannis Schlebusch. 1733. 8.
Primeira Parte dos Sermoens. Nella se contem os Sermoens dos Santos, Tempos do Advento, Quaresma, e outras Domingas do anno, e da Santa Cruzada. Lisboa por Mathias Rodrigues 1632. fol.
Segunda Parte dos Sermoens. Contem os Sermoens da Eucharistia, da Virgem Mãy de Deos, dos Patriarchas das Religioens, e outros muitos Santos, e Santas, dos Defuntos e outros varios. Lisboa por Lourenço de Anvers. 1649. fol.
Estes dous volumes sahiraõ traduzidos em Castelhano por Fr. Francisco Palau da Ordem dos Pregadores. Barcelona por Pedro de la Cavalleria 1636. 4.
Sermaõ em huma grande Seca em Evora no Collegio da Companhia, e patente o Sanctuario das Sagradas Reliquias na Dominga da Paschoela em 29. de Abril de 1612. Evora por Francisco Simoens 1612. 4.
Sermaõ na Solemne Procissaõ, que ordenou a Universidade de Evora pelo sacrilego roubo do Santissimo Sacramento na Cidade do Porto em 9. de Mayo de 1614. Evora pelo dito Impressor 1614. 4.
Sermaõ no Auto publico da Fè que se celebrou na Praça da Cidade de Evora em 8. de Junho de 1616. Evora pelo dito Impressor. 1616. 4.
Sermaõ do Acto da Fè em Coimbra a 25. de Novembro de 1618. Coimbra por Diogo Gomez de Loureiro 1619. 4. e Lisboa por Pedro Crasbeeck. 1619.
Sermoens de S. Sebastiaõ, e do B. Luiz Gonzaga, que sahiraõ impressos na primeira Parte dos seus Sermoens os traduzio em Castelhano o Doutor Estevaõ de Aguilar, e Zuniga, e se publicaraõ no 2. Tomo da Laurea Portugueza. Madrid por Antonio Garcia de la Jglesia. 1679. 4.
Practicas domesticas. Este tomo M. S. se conserva na Caza Professa de S. Roque onde o vio o Padre Antonio Franco como escreve no 2. Tom. da Imag. da Virtud. em o Nov. de Coimb. pag. 617.
Commentaria in Genesim. 3. Tom. fol.
De Regulis Sacrae Scripturae. fol. Estas obras se guardaõ M. S. com grande estimaçaõ em o Collegio de Evora dos PP. Jesuitas.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]