FRANCISCO DE MORAES SARDINHA filho do Doutor Alvaro de Moraes, e neto de Manoel Sardinha naceo em Villa-viçosa onde floreceo em todo o genero de erudiçaõ sendo insigne Poeta, e muito versado na Mythologia, e liçaõ da Historia. Foy Cavalleiro Professo da Ordem de Christo, e Commendador de huma Comenda, que lhe deo o Serenissimo Duque de Bragança D. Theodosio 2. Para eternizar as glorias da sua patria escreveo no anno de 1618.

Famoso, e antiquissimo Parnasso novamente achado, e descoberto em Villa-Viçosa de que he Apollo o Excellentissimo Princepe D. Theodozio 2. deste nome Condestabre destes Reynos de Portugal, Duque de Bragança, e de Barcellos; e dos Varoens illustres, que nella naceraõ, e floreceraõ em armas, em letras, e Poesias com outras muitas couzas a proposito no discurso deste livro.

Nesta obra cujo Original conserva meu Irmaõ D. Jozè Barboza Clerigo Regular, e Chronista da Serenissima Caza de Bragança, estaõ no liv. 3. fol. 5. Seis Sonetos, hum Mote glossado, hum Romance, e duas Cançoens do Author que acaba com o seguinte Soneto

Depois de tantos annos de cançado

De sustentar de Amor a dura guerra

Estou colhendo as flores desta Serra,

Que o falso amor, e o tempo tem criado.

Afligemme as memorias do passado,

E num profundo silencio me encerra

Ter á vista o mal, que me desterra

Do bem do poder ser recuperado.

Vayse a vida por tempos, e por annos

Consumindo segundo lhe acontece

Hora bem assi, hora mal passando:

Passase a triste vida com enganos,

E quanto mais de espaço se adormece

He para se acordar seja chorando.

Nesta obra confessa ter composto outra intitulada

Do espantoso Cavalleiro da Luz.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]