P. FRANCISCO LOPES cuja patria se ignora, e naõ o Instituto Religioso qual foy o da Companhia de JESUS que recebeo em Goa. Sendo bom Theologo era melhor Prègador comovendo a copiosas lagrimas o auditorio todas as vezes, que exercitava este Ministerio evangelico. Quando contava trinta, e nove annos de idade e vinte de Companhia tendo sido Superior da Residencia de Coulaõ vindo embarcado a 28. de Outubro de 1568. de Cochim para Goa lhe sahiraõ ao encontro defronte da nossa Fortaleza de Chale quinze Paraos de Mouros, e dividindose em duas alas investiraõ a nossa Nào com disciplina de Soldados, e orgulho de piratas, porém como Vinha igualmente guarnecida de gente, que artilharia de tal sorte rebateo o impulso dos inimigos que lhe meteo a pique tres Paraos, e sem duvida padeceriaõ mayor estrago se no ardor do conflicto, ou por inadvertencia culpavel, ou por disgraça accidental naõ cahisse huma faisca no payol da polvora, que repentinamente arrebatou pelos ares a proa, e com as chamas espalhadas pelo restante da nào foy o incendio lavrando em mais partes. Para evitar o ultimo perigo se arrojou o Padre Francisco Lopes à Galeota dos Mouros, que lhe ficava mais proxima, e tanto que pela coroa foy conhecido ser Sacerdote o recolheraõ com hospitalidade propondolhe o resgate, e a Vida, se abjurasse a Fé do Crucificado. A taõ blasfema proposta respondeo com animo resoluto naõ haver premio nem castigo que fossem poderosos para negar a Religiaõ prometida no Bautismo. Naõ tinha bem pronunciadas estas palavras o Valoroso Confessor de Christo, quando foy atravessado com huma lança pelos peitos, e aberta a cabeça com hum disforme golpe, e ultimamente arrojado ao mar consumou gloriosamente o martyrio. Deste insigne Varaõ se lembraõ Guerreiro Glorios. Coroa de esforçad. Sold. Part. 2. cap. 13. pag. 260. Alegamb. Mort. Illust. pag. 47. Tanner Societas JESUS usque ad sang. et vit. profus. milit. pag. 229. e Souz. Orient. conquistad. Part. 2. Conquist. 1. Divis. 1 . §. 25. Escreveo
Carta aos PP. da Companhia de Portugal escrita de Cochim a 16. de Janeiro de 1561. M. S.
Carta escrita de Cochim aos Padres da Companhia de Portugal a 6. De Janeiro de 1563. Estas duas Cartas se conservaõ no Archivo da Caza Professa de S. Roque desta Corte.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]