P. FRANCISCO DE SANTA MARIA naceo em Lisboa a 11. de Dezembro de 1653. onde foy vigilantemente educado por seus Pays o Capitaõ Manoel Correa Cavalleiro Fidalgo da Caza delRey, e professo em a Militar Ordem de Christo, e de D. Maria da Sylva de Azevedo. No Collegio patrio de Santo Antaõ se applicou ao estudo da lingua Latina, e Humanidades, e como era dotado de comprehençaõ grande, e rara habilidade se adiantou taõ brevemente a todos os seus condiscipulos, que intentaraõ os Mestres, que passasse da Aula para o Noviciado, e de discipulo para companheiro cujo designio se executou recebendo a Roupeta de Jesuita em Lisboa. Esta acçaõ posto que Virtuosa como foy executada sem a faculdade de seus Pays, que o amavaõ ternissimamente, applicaraõ todas as diligencias para que se restituisse a sua Caza, e tantas foraõ as lagrimas, que continuamente derramava sua Mãy na Igreja do Noviciado, que compadecidos os Religiosos lhe permitiraõ, que sahisse da sua companhia em que assistio poucos mezes. Considerando, que naõ era decoroso ao seu nome apparecer publicamente sem habito regular supplicou a seus Pays, que lhe permitissem voltar para onde sahira, ou abraçar o Instituto de outra Sagrada Religiaõ. A taõ justificada proposta condescenderaõ os Pays deixando livre ao filho a eleiçaõ do Instituto, que havia observar. Perplexo na resoluçaõ lhe succedeo, que metendo a maõ debaixo do travisseiro da cama em que dormia achou huma estampa em que estava retratado o Veneravel P. Antonio da Conceiçaõ immortal credito da Congregaçaõ de S. Joaõ Evangelista assim por suas heroicas virtudes, como estupendos milagres, e entendeo, que aquelle acaso era mysterioso, e como tal destinado por mais alta Providencia para receber a murça de taõ florentissima Congregaçaõ o que executou no famoso Convento de S. Bento de Xabregas. Depois de cumprir as obrigaçoens de perfeito Noviço passou a estudar as sciencias severas no Collegio de Coimbra, nas quaes foy admirado o seu talento aprendendo-as, ou ensinando-as, podendo virtuosamente gloriarse, que sendo doze os discipulos do seu magisterio, outo foraõ Mestres, e quatro se laurearaõ com as insignias doutoraes na Universidade de Coimbra, dos quaes hum que foy o P. Manoel de Saõ-Tiago subio na mesma Universidade a ser Cathedratico da Cadeira de Escoto, de que tomou posse a 4. de Julho de 1718. Eleito Chronista Geral da sua Congregaçaõ dezempenhou abundantemente as leys de Historiador assim na elegancia do estilo, como na verdade da narraçaõ. Foy hum dos celebres Prègadores do seu tempo merecendo por vezes repetidas os applauzos das Magestades de D. Pedro II. e da Senhora D. Catherina Rainha de Graà Bretanha quãdo o ouviaõ nas suas Reaes Capellas. Neste Evangelico ministerio mostrou a sua grande promptidaõ prégando em muitas occazioens repentinamente com tanto acerto como se fora por muito tempo meditado o que dizia. Naõ foy menos feliz na Poesia que practicou nos seus primeiros annos com genio taõ jovial, que podia competir com os Vahias de Portugal, e os Canceres de Castella porém julgando prudentemente, que este genero de composiçaõ era alheyo da modestia religiosa nunca consentio, que se divulgasse com o seu nome o menor parto da sua fecunda Musa. Da sua sciencia Theologica saõ illustres Panegyristas o Tribunal do Santo Officio, de que foy pelo espaço de trinta annos Qualificador, e a Meza da Conciencia sendo Examinador das Tres Ordens Militares. Da sua charidade para os pobres foy theatro o Hospital Real das Caldas quando foy seu Provedor, e ultimamente da sua prudencia, e benignidade será eterna aclamadora a sua Congregaçaõ, quando foy Reytor do Convento de Santo Eloy de Lisboa, e Geral de toda a Congregaçaõ. Humildemente agradeceo, e heroicamente regeitou o Bispado de Macào em o qual no anno de 1692. foy nomeado por ElRey D. Pedro II. Avizado pela gravidade de huma doença de que era chegada a ultima hora se preparou com actos de fervorosa contriçaõ, e recebidos os Sacramentos entre os Suavissimos nomes de JESUS, e Maria, que pronunciou atè o ultimo alento, passou de mortal a eterno em sabbado 3. de Novembro de 1713. no Convento de S. Eloy de Lisboa, quando contava 59. annos dez mezes e 8. dias de idade, e 42. annos 6. mezes e 7. dias de Conego Secular do Evangelista. Á sua memoria dedicou hum Elogio escrito com elegante penna Manoel da Cunha de Andrade Cavalleiro Professo da Ordem de Christo, e Bacharel na Faculdade de Leys que sahio impresso no anno de 1739. Compoz

Sermaõ de Nossa Senhora do Valle em o Real Convento de Santo Eloy a 8. de Setembro de 1679. Lisboa por Francisco Villela 1680. 4.

Sermaõ da quinta quarta feira de Quaresma na Capella Real da Universidade de Coimbra. Coimbra por Jozè Ferreira Impressor da Universidade. 1685. 4.

Sermaõ da Primeira Outava de Paschoa. Coimbra por Manoel Rodrigues de Almeyda 1685. 4.

Sermaõ da Visitaçaõ de Nossa Senhora na Dominga 6. post Pentecosten em a Santa Caza da Misericordia de Lisboa a 2. de Julho de 1684. Coimbra por Manoel Rodrigues de Almeyda 1685.

Sermoens Varios 1. Tomo Lisboa por Manoel Lopes Ferreira 1689. 4.

………. 2. Tomo ibi pelo dito Impressor 1694. 4.

………. 3. Tomo ibi pelo dito Impressor 1698. 4.

………. 4. Tomo ibi na Officina da Congregaçaõ do Oratorio 1738. 4.

………. 5. Tomo ibi na dita Officina 1738. 4. Estes dous ultimos sahiraõ postumos.

Sermaõ Gratulatorio, e Panegyrico prègado na Capella Real em que na mesma Capella se celebra a Festa dos Reys. Lisboa por Manoel, e Jozè Lopes Ferreira 1709. 4.

Sermaõ do Auto da Fè, que se celebrou na Praça do Rocio desta Cidade de Lisboa junto dos Paços da Inquisiçaõ anno de 1706. Lisboa pelos ditos Impressores. 1706. 4.

Saphira Veneziana Vida de S. Lourenço Justiniano. Lisboa por Filippe Villela. 1677. 4.

Jacinto Portuguez Vida do Ven. P. Antonio da Conceiçaõ ibi pelo dito Impressor. 1677. 4.

Aguia do Impireo. Excellencias do Discipulo amado em compendioso panegyrico. Lisboa por Miguel Manescal 1687. 4. Sahio tradusida em Castelhano por Fr. Joaõ Talamanco da Ordem Militar da Mercè. Madrid. 1735. 8.

O Ceo aberto na terra. Historia das Sagradas Congregaçoens dos Conegos Seculares de S. Jorge em Alga de Veneza, e de S. Joaõ Evangelista em Portugal. Lisboa por Manoel Lopes Ferreira 1697. fol.

Justa defensa em tres satisfaçoens Apologeticas a outras tantas invectivas com que o muito Reverendo P. Mestre Fr. Manoel dos Santos Monge Professo no Real Mosteiro de Alcobaça, Mestre em Theologia, e Chronista Geral da Ordem de S. Bernardo sahio à 1uz no seu livro intitulado Alcobaça Illustrada contra a Chronica da Congregaçaõ do Evangelista. Lisboa por Jozè Lopes Ferreira 1711. 4.

Anno Historico Diario Portuguez, noticia abreviada das Pessoas grandes, e couzas notaveis de Portugal. &c. Tom. 1. Lisboa pelo mesmo Impressor 1714. fol.  Comprehende os mezes de Janeiro Fevereiro, e Março.

Instrucçaõ, e Directorio para os Examinadores, e Examinados de todos os graos de Ordens, Officios, e Ministerios da Igreja com o preciso, e essencial, que deviaõ saber, e ser preguntados em seus exames. fol. M. S. Naõ ficou completo.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]