D. FRANCISCO MASCARENHAS primeiro Conde de Coculim, e Verodà no Estado da India, Cõmendador de S. Joaõ de Castelhaos, e de S. Martinho de Cambres no Bispado de Lamego, e de S. Martinho de Pina em o de Viseu da Ordem Militar de Christo illustrou com o seu nacimento a Cidade de Lisboa a 22. De Novembro de 1662. e a seus claros progenitores D. Joaõ Mascarenhas primeiro Marquez de Fronteira segundo Conde da Torre, Conselheiro de Estado, e a D. Magdalena de Mendoça filha de Francisco de Sà de Menezes segundo Conde de Penaguiaõ Camareiro mór, Conselheiro de Estado, e D. Joanna de Lima. Aquelles dotes, que a natureza concedeo na idade adulta os possuio com excesso em a juvenil metrificando com tanta suavidade, e afluencia logo que teve uzo de razaõ, que parece que as Musas o criaraõ no seu gremio, e que do berço voou ao cume do Parnasso para ser coroado Principe da Poesia Latina. Naõ teve menor genio para o estudo da Historia Sagrada, e Profana cujos successos mais memoraveis relatava com tanta distinçaõ como se os estivera lendo. Escreveo Cartas Latinas com a pureza da fraze de Cicero, e com a delicadeza dos conceitos de Plinto. Toda esta erudiçaõ se esmaltava com hum genio afavel, e benigno com que conciliava os affectos de todo o genero de pessoas. Na famosa Armada, que do porto de Lisboa partio em o anno de 1682. para conduzir o Duque de Saboya futuro Espozo da Serenissima Senhora D. Izabel, foy hum dos Cavalheros que fizeraõ mais plauzivel esta jornada a tempo que exercitava o posto de Capitaõ de Cavallos na Corte. Envejosa a morte de tantos dotes, que ornavaõ o seu espirito, e se faziaõ mais recomendaveis no caracter da sua Pessoa o arrebatou intempestivamente na florente idade de 22. annos seis mezes e dous dias a 20. De Mayo de 1685. com geral sentimento de toda a Nobreza a cuja saudoza memoria levantou hum Tumulo Apollineo composto de diversos metros Jozè Correa de Brito. Foy cazado com D. Maria Jozefa de Noronha sua Prima filha de D. Luiz Francisco Balthezar da Gama quarto Conde da Vidigueira, e segundo Marquez de Niza, e de sua primeira mulher D. Helena de Noronha filha de D. Fernando Mascarenhas primeiro Conde da Torre de quem teve D. Filippe Mascarenhas, que lhe succedeo na Casa, D. Joaõ Mascarenhas Porcionista do Collegio de S. Paulo de Coimbra Dezembargador do Porto, e de Lisboa, Deputado da Mesa da Conciencia, e Ordens, que no anno de 1717. cazou na Bahia com D. Joanna Guedes de Brito filha do Coronel Antonio da Sylva Pimentel, e D. Izabel de Souza Guedes de Brito de quem naõ teve successaõ, e duas filhas. Escreveo, e dedicou

Ludovico Magno Galliarum, & Navarrae Regi Christianissimo Panegyris. Parisiis apud Joannem de la Caille 1684. fol. Consta de 1200. Versos heroicos elegantissimos de cuja obra, como do seu Excellentissimo Author se lembra o P. Antonio dos Reys. Enthus. Poet. n. 62.

Frons tua, sed doctas pariter Coculine virentes

Induit in Laurus, quas pulchra paravit Opella

Illa liquente quidem calamo descripta Maronem

Sed sapiens gravitate metri.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]