P. FRANCISCO DA CRUZ naceo no lugar do Louriçal titulo de Marquezado em a Provincia da Beyra, e foy filho de Antonio do Rego, e Maria Soares. Na tenra idade de quatorze annos se alistou na Companhia de JESUS em o Collegio de Coimbra a 9. de Dezembro de 1643. onde applicado aos estudos das sciencias amenas, e severas alcançou a primasia entre todos os seus Condiscipulos. Depois de explicar Rethorica, e letras humanas por quatro annos em o Collegio de Braga navegou para as ilhas a exercitar o mesmo ministerio donde restituido a Coimbra dictou Filosofia, e no Collegio de Santo Antaõ de Lisboa, Theologia sendo as suas Postillas muito estimadas pelo excellente methodo, que nellas observou em que se via unida a subtileza com a profundidade. A opiniaõ da sua litteratura moveo ao Geral da Companhia para ser chamado a Roma com a incumbencia de Revedor dos livros da mesma Companhia onde assistio pelo espaço de sete annos. Voltando a Portugal como fosse ornado de prudencia, e afabilidade conciliou a estimaçaõ das primeiras Pessoas desta Corte distinguindo-se entre todas o Emminentissimo Cardeal de Souza, que para se aproveitar dos seus documentos alcançou do Provincial que lhe assignasse para habitaçaõ o Collegio de S. Patricio por estar mais proximo ao seu Palacio. Do Seminario passou para a Casa Professa de S. Roque onde era continuo no Confessionario, sendo o seu mayor disvello dirigir para o caminho da eternidade as pessoas de mais infimo nacimento. Querendo a Magestade delRey D. Pedro II. nomear Mestre a seu filho o Principe D. Joaõ que agora felismente reyna o elegeo para taõ honorifico ministerio do qual passou para o de seu Confessor. Foy Reytor do Collegio de Santo Antaõ cujo lugar aceitou com repugnancia a qual mostrou declaradamente quãdo regeitou a Propositura da Casa Professa de S. Roque. A memoria mais illustre, que deixou foy o Convento do Louriçal da primeira Regra de Santa Clara a que deu principio o heroico espirito da Ven. Madre Maria do Lado sua irmãa, cujas virtudes refere o Licenciado Jorge Cardozo Agiolog. Lusit. Tom. 2. pag. 744 e Fr. Fernando da Soled. Hist. Seraf. da Provinc. de Portug. Part. 5. liv. 3. cap. 36. e seguintes, sendo instrumento de que fosse seu Fundador o Serenissimo Rey D. Joaõ o V. e se começou a habitar em Mayo de 1709. e a 24 de Abril de 1711. professaraõ as primeiras Noviças. Acõmetido de hum accidente de Asma a 15. de Dezembro de 1705. se naõ rendeo à sua Violencia, antes sem medicamento algum foy passando atè que repetindo segunda vez o assalto havendo celebrado Missa dous dias antes em que comungou por Viatico, como revelou a hum seu companheiro, o privou da vida a 29. De Janeiro de 1706. quando cõtava 77. annos de idade, e 63. de Companhia. Sua Magestade o mandou retratar quando estava no feretro a cujo funeral assistio grande parte da Nobreza da Corte. Com indefesso trabalho juntou as Memorias que tinhaõ escrito Jorge Cardoso, Joaõ Franco Barreto, e Joaõ Soares de Brito para a Bibliotheca Lusitana acrecentando a taõ laboriosas vigilias muitas noticias alcançadas em Roma quando assistio por Revedor dos Livros da Companhia, de que deixou varios volumes escritos por sua maõ onde estaõ os Authores sem ordem, e como apontamentos para a obra que meditava, e sómente em hum delles estaõ quinhentos Authores, que naõ comprehendem totalmente a letra A. cujos elogios saõ compostos elegantemente na lingua Latina. Parte destes livros se conserva na magnifica Livraria do Excellentissimo Conde da Ericeira D. Francisco Xavier de Menezes (como escrevem os Padres Antonio Franco, e Francisco da Fonseca, o primeiro na Imag. da Virtud. do Nov. de Coimb. Tom. 2. pag. 681. E o segundo na Evor. Glorios. pag. 408. §. 719.) e me foraõ comunicados por este insigne Mecenas dos Estudiosos, e outros do mesmo Padre que estaõ na Livraria do Excellentissimo Conde de Redondo, e assim de huns, como de outros colhi muitas noticias que formaõ esta Bibliotheca cuja confissaõ faço taõ clara para naõ ser acusado de ingrato a taõ grande beneficio. Compoz mais
Constituiçoens das Religiosas da primeira Regra de Santa Clara do Convento do Louriçal. Desta obra faz mençaõ o P. Franco Imag. da Virt. do Nov. de Coimb. Tom. 2. pag. 681.
Tinha composto diversas obras, que a morte impedio se naõ publicassem.
Dissertaçaõ em que se prova ser a antiga Numancia Freixo de Nemaõ. M. S.
Diario Portuguez, e Monologio Lusitano. M. S.
Fazem delle memoria Franco no lugar assima allegado, e no Ann. Glorios. S. J. in Lusit. pag.47. e Annal. S. J. in Lusit. pag.425. §. 7. Á multis annis impenderat curas componendae Bibliothecae de Scriptoribus Lusitanis quod opus laboris immensi mors 29. Januarij interrupit. Fonsec. Evor. Glor. p. 408. P. Souza Hist. Gen. da Casa Real Portug. Tom. 8. cap. 6. Varaõ Douto de muita modestia, e prudencia.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]