Fr. FRANCISCO FOREIRO naceo em Lisboa de Pays igualmente nobres, e pios para ser hum dos brilhantes Astros, que illustraraõ a nobilissima Religiaõ dos Prègadores, cujo sagrado Instituto professou no Convento Patrio a 2. de Fevereiro de 1539. A primeira applicaçaõ, que teve o seu penetrante engenho foy instruir-se com a noticia das tres mais famosas lingoas quaes eraõ a Latina, Grega, e Hebraica, e sahio nellas taõ peritamente versado, que resolveo ElRey D. Joaõ o III. partisse para a Universidade de Pariz a estudar Theologia prevendo que igual, ou mayor progresso havia de fazer nas sciencias severas, como era insigne nas amenas. Naquella sapientissima palestra penetrou com tal agudeza os mysterios Theologicos, que mereceo as acclamaçoens de todos os Cathedraticos assim na comprehensaõ das mais dificultosas questoens como na argucia com que argumentava, e promptidaõ com que respondia dilatando-se a sua litteratura naõ sómente pela Theologia Escolastica, mas pela Moral, e Positiva. Cumulado de tantos dotes scientificos voltou para o Reyno onde foy igualmente admirada a sua vasta erudiçaõ nas Cadeiras, como nos Pulpitos conciliando as estimaçoens delRey D. Joaõ o III. e seus Irmãos os Infantes D. Henrique, e D. Luiz, que tal conceito formou da sua sciencia, e integridade de costumes, que o elegeo para Mestre de seu filho D. Antonio, que depois foy Prior do Crato. A universal fama, que justamente mereceo pela sua facundia concionatoria moveo àquelle Monarcha a nomeallo seu Prègador com cincoenta mil reis de ordenado por Alvarà expedido a 23. de Dezembro de 1555. Entre os famosos Theologos, que no anno de 1561. mandou a Magestade de D. Sebastiaõ ao Concilio Tridentino foy elle eleito, e em taõ veneravel, e authorizado congresso manifestou com eterna gloria do seu nome, e immortal credito deste Reyno o thesouro de que era deposito a sua profunda capacidade. Varias vezes esteve pendente da sua boca aquella doutissima Assemblea prègando todas as Quintas feiras de Quaresma, e como era versado na locuçaõ de varias lingoas, mandou em huma occasiaõ que subia ao Pulpito preguntar pelo Mestre das Cerimonias aos Cardeaes seus ouvintes em que idioma lhe ordenavaõ prègasse, do que naceo universal espanto em taõ nobilissimo Auditorio. Conhecendo os Legados do Concilio o seu grande talento determinaraõ na Sessaõ 18. celebrada a 26. de Fevereiro de 1562. que fosse Secretario da Junta deputada para condenar os livros mais dignos de fogo, que da luz publica, cujo lugar exercitou com tanta madureza que sendo elle o primeiro que o teve ficou perpetuado na Ordem dos Prègadores assim como o de Mestre do Sacro Palacio, a que deu principio o Patriarcha S. Domingos. Á sua indefessa applicaçaõ se deve a reformaçaõ do Breviario, e Missal Romano sendo nesta laboriosa empreza seus Companheiros D. Fr. Leonardo Marino Arcebispo Lancianense, e D. Fr. Francisco Fuscarario Bispo de Modena ambos da Religiaõ Dominicana. Com estes dous grandes Prèlados compoz o Cathecismo Romano por cuja causa naõ voltou para Portugal com os outros Theologos Portugueses que assistiraõ no Concilio como affirma S. Carlos Borromeo em huma carta escrita a ElRey D. Sebastiaõ em o primeiro de Novembro de 1564. Tanta era a opiniaõ que havia das suas letras, que naõ bastando para elogio dellas taõ honorificas occupaçoens o mandaraõ os Padres do Concilio a Roma para tratar vocalmente com Pio IV. negocios em que era interessada a Igreja Catholica. Foy recebido com paternal benevolencia pelo Summo Pastor, que conhecendo os religiosos costumes, e profundas letras de que era ornado, ordenou que fosse director da conciencia de seu Sobrinho o Cardeal Borromeo, que depois pelas suas heroicas virtudes foy adorado nos Altares. Restituido ao Reyno foy Prior do Convento de Lisboa, donde passou a ser Provincial no anno de 1568. Foy Confessor delRey D. Joaõ o III. e da Serenissima Infanta D. Maria filha delRey D. Manoel, a cuja morte assistio, Qualificador do Santo Officio, e Deputado da Mesa da Conciencia, e Ordens. Fundou o Convento de S. Paulo situado na Villa de Almada fronteira a Lisboa elegendo este sitio como mais acõmodado para a cultura do estudo, e tranquilidade do espirito consignando-lhe para seu rendimento hum juro de duzentos mil reis na Casa da India cõprado com os ordenados que vencera de Prègador d’ElRey e da impressaõ dos seus livros. ElRey D. Sebastiaõ lhe converteo o Ordenado de cincoenta mil reis, que percebia de seu Prègador em juro para sustentaçaõ do mesmo Convento, onde mais cheyo de merecimentos do que annos passou de caduco a eterno em 10. De Fevereiro de 1581. com 58. annos de idade, e 42. de Religiaõ. Naõ faltou quem escrevesse, que morrera este grande Varaõ de repente penetrado de ver do Convento de Almada as prayas de Lisboa occupadas pelo exercito do Duque de Alva contra o Senhor D. Antonio, que fora seu discipulo, cujo sucesso facilmente se convence de fabulozo por succeder a sua morte seis mezes depois, que as Tropas Castelhanas se alojaraõ em Lisboa. O seu nome he celebrado por gravissimas pennas merecendo o primeiro lugar o elogio, que lhe fez Saõ Filippe Neri em huma Carta escrita de Roma a 5 . de Março de 1564. à Senhora D. Catherina Duqueza de Bragança cujo Original Vimos, e se conserva no Cartorio desta Serenissima Caza. Por via del Embaxador de Portugal recebi un pliego de V. A. y otro abia tenido embiado antes de la Session ultima que fue en 24. de Deziembre del Concilio por el Obispo D. Gaspar Obispo de Leiria a tiempo, que se hallaba yà en esta Curia de venida Fr. Francisco Foreiro persona que en extremo deseava ver, y llegò a tiempo bien oportuno al mio desidero. Sixtus Sen. in Bib. Sanct. lib. 4. pag. 366. Theologus, & Philosophus summa eruditione insignis, Latinae, Graecae & Hebraicae linguae peritissimus. Fr. Lud. a D. Franc. Praefat. Glob. Ling. Sanct. Doctissimus, & Religiosissimus. Fr. Ant. de Sena Bib. Script. Dom. pag. 85. vir in bonis litteris fundatus, Philosophus, & Theologus in divinarum litterarum lectione valde tritus, & inter praecipuos Dei praecones excellens similiter habitus Imbonati Bib. Rabina. p. 42. n. 167. Summae eloquentiae, et eruditionis vir. Joan. Soar. de Brito Theatr. Lust. Litter. lit. F. num. 44. vir sacrarum litterarum, & exoticarum linguarum peritia clarissimus. Fr. Joan. à Cruce in Praefat. Direct. Conscient. §. 6. num. 16. Touron Vie de S. Thom. d’Aquin. liv. 5. cap. 8. tres habile dans les langues Hebraique, Grecque, e Latine. Fr. Roque do Sover. Hist. de N. Senhora da Luz liv. 2. cap. 2. Varaõ de grandes letras, e Christandade. Padre Francisco de Franciscis. Dissert. Philolog. de Francisc. Litter. Sect. 9. num. 7. Alium authorem hic jam  nomino Universae Bibliothecae, Christianae Censorem, & in Bibliothecarum Sanctorum Patrum honorem omnibus hisc Patribus scilicet Concionatorum, atque Bibliothecarum titulis jure merito praedicandum: Franciscum Forerium; ille enim, & in concionando dicendique facultate potentissimus cumquo Ulysse ipso Graecorum facundissimo à quo conditore nempe sua patria ejus Ulyssipo nomen traxisse creditur, conferendus, regnare plane visus est in eloquentia sacra. Ecclesiastes ipse regius, atque celeberrimus, Regum Lusitanorum concionator, idemque in Concilio Tridentino, in hoc amplissimo, lectissimo que Orbis Catholici Senatu inter caeteros Sacrosanctae hujus Synodi Patres Sententiam dixit. Neque vero hic ad purgandas videlicet, atque ornandas Orbis Christiani Bibliothecas bono publico natus malos solummodo libros Oecumenicus ipse Censor proscripsit, sed et optimis idem, ac de sacris praecipue Bibliis benemeritus trium Sacrarum Linguarum Latinae, Graecae, Hebraicae que peritissimus Author conscripsit, qui ut vulgatae editionis authoritatem confirmaret, ejusque authorem ostenderet sensum de sensu aptissime expressisse eo nimirum ipse consilio per muitos Sacrae Scripturae libros iterum de verbo ad verbum vertit ex veritate Hebraica eosque postea libros licidissimis explicavit commentariis. &c. Pacheco Vid. da Inf. D. Maria liv. 2. cap. 4. Varon en letras, e virtudes evidentes, de que son testigos las obras que dio a 1uz, en que se vé igual erudicion, y piedad. Jacob. Le Long. Bib. Sacr. pag. mihi 556. col. 2. Trium. linguarum peritissimus et pag. 285. col. 2. pag. 302. col. 2. et. pag. 728. col. 2. Sousa Hist. de S. Domingos da Prov. de Portug. Part. 3. liv. 6. cap. 8. Pelas letras chegou a ser naõ só nobre, e conhecido, mas famoso no mundo Echard Script. Ord. Praed. Tom. 2. pag. 261. col. 2. natalibus, clarus, sed litteris, & eruditione longe clarior in orbe toto fulsit Nat. Alex. Hist. Eccles. Saecul. XV & XVI. cap. 5. art. 2. Vir pietate, & eruditione praestantissmus. Gravesson Hist. Eccles. Tom. 7. pag. mihi 113. col. 1. vir pietate, & eruditione praestantissimus. Francisc. de Santa Maria Diar. Portug. pag. 55. Varaõ doutissimo na Theologia Escholastica, e Moral, e na Sagrada Escritura. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1. pag. 326. col. 1. Philosophus, ac Theologus egregius quem praestantissimae eruditionis laus, triumque linguarum Latinae, Graecae, & Haebraicae peritia singularis domi forisque clarissimum, ac Venerabilem reddidere. Cardoso Agiol. Lusit. Tom. 1. Comment. de 13. de Fevereiro letr. E. pag. 429. aquelle famoso Foreiro que assistio no Concilio Tridentino, onde campeáraõ grandemente suas letras Hyer. Magio. Var. Lact. liv. 2. cap. 8. Theologo praeclarissimo. Cornel. Á Lapide in Isaiam pag. 10. Illustris Regum Lusitaniae Encomiastes. Paul. Colomes. Ital. & Hisp. Orient. p. 238. vir in Hebraica lingua versatissimus. Paul. Fraher. Theatr. vir. Illustr. pag. 245. litterarum peritia, ac linguarum inclaruit. Thuan. Histor. lib. 70. Magnae eruditionis Theologus, & non solum scriptis editis, sed Synodi Tridentinae cujus pars magna fuit, actione clarus Fr. Pedro Mont. Claustr. Domin. Tom. 1. pag. 87. Filosofo celeberrimo, Theologo insigne, peritissimo nas linguas Grega, Hebraica, e versadissimo nas letras divinas. e pag. 118. 122. e 171. e no Tom. 3. pag. 217. Compoz.

Isaiae, Prophetae vetus, & nova ex Hebraico, versio cum Commentario, in quo utriusque ratio redditur, vulgatus interpres à plurimorum calumniis vindicatur, & loci omnes, quibus sana Doctrina adversus haereticos, atque Judaeos confirmari potest summo studio, ac diligentia explicantur. Venetiis apud Jordanem Zileti 1563. fol. & Antuerpiae apud Philippum Nutium. 1565. 8. & in Criticis Sac. Vet. Test. Amstelodami 1660. fol. Na prefaçaõ faz esta confissaõ ingenua aos seus amigos, que serve de grande elogio a esta obra. Coram Christo loquor, à quo eadem accepi; me quicquid est, quod vel ipsi laudant, vel laudari intellexerunt, quicquid in meis concionibus populam tenet at que afficit, quicquid est eloquentia suavitatis, gravitatis, omnemque facultatem quam mihi in dicendo tribuunt hac ratione esse assecutum, quam in interpretando Jesaia sequor. Xisto Senens. Bib. Sanct. lib. 4. louva este Commento com as seguintes palavras nullum umquam opus in hoc scribendi genere prodiit in lucem, quod aequius possit cornucopia appellari. Naõ he inferior o elogio, que lhe faz Richardo Simon Histor. Critiq. del’ancien Testam. pag. 50. Forerius fait uoir dans tout son ouurage, qu’il etoit exerce dans le stile del’Ecriture Il s’etend ala veritè quelque fois sur le sens moral, mais comme il ne s’eloigne gueres de son suget, cela sert a eclaircir da vantage le sens literal.

Commentaria in omnes libros Prophetarum ac Job, Davidis, ac Salomonis. Estavaõ promptos para a Impressaõ como afirma na Epistola Dedicatoria aos Padres do Concilio impressa no principio da obra precedente. In quibus germanam, catholicamque sententiam summa diligentia, ac studio singulis dictionibus. examinatis, dicendique formulis Hebraeorum observatis elicui, ut promulgarem. Opus sane spissum est, atque operosum: quod etiam haud scio, an umquam unus homo praestare possit. In Cõmentario in reliquos prophetas tantummodo loci difficiles explicantur. Tanta era a estimaçaõ que fazia do Commentario sobre o livro de Job que abrazando-lhe todo o seu apozento hum repentino incendio preguntou se escapara da voracidade das chamas o seu Job, e certificado de que ficara illeso naõ fez caso de tudo quanto perdeo. Conservava-se esta obra no tempo que Fr. Luiz de Souza publicou a 3. part. da Hist. de S. Domingos da Prov. de Portug. como escreve no liv. 6. cap. 8.

Oratio habita ad PP. Tridenti Congregatos Dominica prima Adventus anni 1562. Brixiae. 1563. 4.

Lexicon Hebraicum. Desta obra faz elle particular mençaõ na Epistola ad amicos impressa no principio do Cõmento de Isaias dizendo maximis vigiliis non solùm ex aliis lexicis, sed examinatis locis, quos citant ad Verborum significationes comprobandas quod incredibile dictu est quantum negotii mibi facesserit.

Index librorum prohibitorum cum regulis confectis per Patres à Tridentina Synodo delectos auctoritate Pii IV. primum editus. Romae ex Typog. Camerae Apostolicae 1564. & Ulyssipone de mandato Serenissimi Cardinalis Henrici Infantis Archiepiscopi Ulyssiponensis Legati à Latere apud Franciscum Correa 1564. 4.

Cathecismus ex Decreto Concilij Tridentini ad Parochos Pij V. Pontif. Max. jussu editus. Romae ex Typog. Camerae Apostolicae. 1566. 4.

Missale, & Breviarium Romanum. Romae ex Typ. Cam. Apost. Estas tres ultimas obras do Index dos livros prohibidos, Cathecismo, Missal, e Breviario Romano compoz Fr. Francisco Foreiro por ordem dos PP. do Concilio juntamente com os dous Prélados Dominicanos D. Fr. Leonardo Marino, e D. F. Francisco Fuscarario de que assima fizemos memoria.

Tractatus pro Immaculata Conceptione. M. S. Desta obra fazem mençaõ Fr. Pedro de Alva y Astrorga Milit. Concept. e Andre de Peruzzinis in Analysi Immacul. Concept. fol. 63.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]