FRANCISCO GUERREIRO natural da Cidade de Beja em a Provincia Transtagana donde com seus Pays passou a viver na Villa de Zafra situada em a Extremadura de Castella onde se applicou à Arte da Musica sendo discipulo de seu irmaõ Pedro Guerreiro insigne nesta Faculdade, e taes foraõ os progressos, que nella fez o seu penetrante engenho naõ sómente practica, mas especulativamente em o contraponto de que teve por Mestre a Christovaõ de Morales, que contando a florente idade de dezoito annos foy Mestre da Cathedral de Jaen pelo espaço de treze, donde passou a Sevilha para ver a seus Pays moradores nesta Cidade, e lhe deu o Cabido de taõ insigne Cathedral hum partido de Cantor que preferio ao magisterio de Sevilha por naõ deixar a amavel companhia de seus Pays. Vagando o lugar de Mestre da Cathedral de Malaga foy provido nelle, triunfando de seis peritos oppositores, e mandandolhe o provimento D. Bernardo Manrique Bispo desta Igreja, naõ consentio o Cabbido de Sevilha, que outra Cathedral se servisse do seu talento ordenando a Pedro Fernandes nosso Portuguez, Mestre da Cathedral de Sevilha jubilasse com meyo ordenado, e que a outra se desse a Francisco Guerreiro conservando o partido de Cantor atè que por morte de Pedro Fernandes exercitou o Magisterio desta Cathedral. Sendo chamado a Roma pela Santidade de Xisto V. o Cardeal D. Rodrigo de Castro Arcebispo de Sevilha o acompanhou, onde alcançada faculdade deste Prèlado para hir a Veneza imprimir as suas Obras Musicas, depois de recomendar a correçaõ dellas a Jozè Zertino Mestre da Capella de S. Marcos da Senhoria de Veneza passou juntamente com Francisco Sanches seu discipulo a 14. de Agosto de 1588. quando contava 60. de idade a Jerusalem para visitar os Santos Lugares, que venerou com summa piedade no espaço de cinco mezes, e cinco dias, chegando a Veneza a 19. de Janeiro de 1589. donde sahira, de cuja jornada escreveo huma distinta relaçaõ, que modernamente se publicou com este titulo
Itinerario da viagem, que fez a Jerusalem. Lisboa por Domingos Gonçalves 1734. 4.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]