FRANCISCO FERNANDES GALVAM naceo em Lisboa no anno de 1554. de Pays illustres, e logo na primeira idade sahio ornado de taes dotes, que mereceo ser admitido aos domesticos da Casa da Serenissima Infanta D. Izabel mulher do Infante D. Duarte onde passados com louvavel procedimento os annos da puericia se lhe anticipou com tal excesso a comprehensaõ, que estudadas as letras humanas, Rethorica, e Filosofia no Collegio da Purificação de Évora se graduou Mestre em Artes na Universidade de Coimbra quando contava desesete annos de idade, e naõ tendo completos vinte e cinco recebeo as insignias Doutoraes na Sagrada Theologia de cuja Faculdade como da Escritura substituhio muitas Cadeiras com tanta atençaõ dos ouvintes, que naõ havia a menor inquietaçaõ na hora, que explicava. Instruido profundamente em as sciencias amenas, e severas se dedicou ao ministerio do pulpito para o qual o inclinava o genio concorrendo na sua pessoa todas as partes constitutivas de hum Orador Evangelico cujo ministerio depois de exercitar com grande applauso na Corte de Lisboa pelo espaço de doze annos apetecendo mayor theatro para as suas sagradas declamações passou a Roma no anno de 1585. patrocinado pelo Cardeal Alberto de Austria Governador deste Reyno, que lhe era muito afecto, e tanto que chegou à Curia prégou na Capella Paulina tendo por ouvintes a Santidade de Xisto V. e todo o Collegio Apostolico, que admirados da vehemencia dos afectos, viveza das acçoens, e elegancia da fraze com que animava aos seus discursos naõ duvidaraõ affirmar, que podia competir com Fr. Francisco Panigarola Bispo de Asti, que naquelle tempo era venerado como Oraculo da Eloquencia Concionatoria. Em premio do seu grande talento, que se fazia mais estimável pela innocencia dos custumes lhe deu o Papa em o anno de 1586. huma Conesia na Cathedral de Coimbra, que elle renunciou em seu Irmaõ Duarte Galvaõ. Correndo a noticia de estar vago o Priorado da Igreja Collegiada de Cedofeita em o Bispado do Porto se oppoz ao concurso de onze Oppositores entre os quaes eraõ quatro doutorados, e feito o exame na presença do Cardial Vigario do Papa, e quatro Prelados argumentando-lhe hum douto Jesuita sobre o Misterio da Trindade lhe respondeo com tal energia, e profundidade, que voltando para o Cardial disse non respondet, sed docet. Sahindo vitorioso de taõ celebres Oppositores lhe fez graça o Pontifice da Igreja, que naõ teve effeito por chegar noticia de ser ainda vivo o Prior. Para naõ estar ociosa a sua litteratura foy nomeado Revifor dos livros prohibidos assistindo na Congregaçaõ deputada para este ministerio. Vagando o Arcediagado de Villa Nova de Cerveira em o Arcebispado de Braga lho deu o Pontifice no anno de 1590. em o qual voltou para o Reyno. Quando visitava as setenta Igrejas do seu Arcediagado emendava as culpas mais com brandura, que com a severidade. A mayor parte da sua renda dispendia com os pobres conservando sempre a sua Caza com decente estado. Podendo aspirar a grandes dignidades como era inimigo da ambiçaõ nunca alterou a serenidade do seu animo a injusta exaltaçaõ de muitos, que lhe eraõ inferiores em tantos dotes de que o ornara a natureza. Ouvindo, que alguns maledicos com critica menos judiciosa arguiaõ os seus Sermoens respondia placidamente com as palavras de Saõ Paulo. Dummodo Christus annuntietur in hoc gaudeo, & gaudebo. Prègando continuamente na Capella Real de Madrid, e no Convento Real das Descalças onde estava recolhida a Emperatriz sempre conciliou a atençaõ das primeiras Pessoas sendo o seu mayor disvelo acender os coraçoens, e naõ lizongear os ouvidos. Ao tempo, que contava 56. annos de idade foy tentada a sua tolerancia com huma grave infermidade pelo espaço de quatro mezes na qual combatido de acerbas dores se resiggnou em a Divina vontade atè que abra designou em a Divina vontade atè que abraçado com hum Crucifixo pronunciando as palavras do Apostolo cupio dissolui, et esse cum Christo espirou placidamente em o anno de 1610. Joaõ Soar. de Brit. Theatr. Lusit. Litterat. lit. F. num. 42. Lhe chama celeberrimus suo tempore concionator, e Marracio Bib. Marian. Part. 1. pag. 413 vir pietate, & doctrina insignis. Os seus Sermoens, que elle dezejava pulir, e preparar para a impressaõ recolhido em o silencio de algum Claustro Religioso os reduzio a ordem, e emendou o Licenciado Amador Vieyra Prior de Saõ-Thiago de Travanca publicando-os com estes titulos.
Sermoens Primeira Parte, que começa da quarta feira de Cinza atè a primeira Outava de Paschoa. Lisboa por Pedro Craesbeeck 1611. 4. Sahio traduzida em Castelhano por Antonio de Azevedo, e Sà. Sevilha por Alonso Rodrigues Gamarra. 1615. 4. e Madrid por Luiz Sanches. 1615. 4.
Sermoens das Festas de Christo Nosso Senhor. Lisboa por Pedro Craesbeeck. 1616. 4.
Sermoens das Festas dos Santos. Lisboa pelo dito Impressor 1613. 4. Madrid por la Viuda de Alonso Martines. 1615. 4.
Sermaõ das Exequias, que se fizeraõ na Igreja de Santa Cruz de Lisboa na morte do Catholico Rey D. Filippe Nosso Senhor em presença do Senhor Conde de Portalegre Capitaõ General, e hum dos Governadores do Reyno. Lisboa por Pedro Craesbeeck 1600. 4. Sahio com a Relaçaõ das Exequias daquelle Princepe.
Traduzio da Lingua Latina em a Portugueza.
Celebris Concio in publico Sanctae Inquisitionis Actu Conimbricae, habita ab Illustrissimo Domino D. Alphonso de Castelobranco ejusdem Civitatis Episcopo Reverendissimo Arganili Comite. Romae apud Titum, et Paulum de Dianis 1589. 4. He dedicado ao Summo Pontifice Xisto V. onde promete publicar brevemente.
Explanationes in vaticinium Malachiae
Expositio in Jeremiam Prophetam.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]