Fr. FRANCISCO BRANDAM naceo na Villa de Alcobaça a 11. De Novembro de 1601. onde depois de estudar os preceitos da Grãmatica passou á Villa de Santarem por nella assistir hum seu Tio Conego, que o educou com exemplares documentos. Completos dez annos em que pella viveza do engenho superior à verdura da idade sabia perfeitamente a lingua Latina, e as Humanidades, partio em companhia de outro seu Tio Fr. Antonio Brandaõ Monge Cisterciense (de quem em seu lugar se fez digna memoria) para o Real Convento de Alcobaça onde havia de dictar Filosofia, e entre os seus Claustros como se fora Religioso assistio alguns annos admirando os moradores daquelle Veneravel Mosteiro a modestia do semblante, a profundidade do talento, e subtileza do juizo que mostrava em annos taõ tenros. O familiar comercio dos Monges lhe foy suavemente inclinando o animo para que sem revelar ao Tio a sua resoluçaõ pedisse a Cogulla Cisterciense que benevolamente lhe concedeo o Geral como prevendo o grande credito que havia de resultar à Religiaõ com hum taõ insigne filho. Recebido o habito monachal em o Real Convento de Alcobaça a 25. de Agosto de 1618. e feita a profissaõ solemne a 29. do dito mez do anno seguinte ouvio a Filosofia do Doutor Fr. Estevaõ de Siqueira, e em Coimbra estudou Theologia sahindo taõ profundamente versado nestas Faculdades que naõ sómente as dictou pello espaço de 6. annos aos seus domesticos, mas foy laureado Doutor Theologo pella Universidade de Coimbra. Para naõ degenerar do genio de seu Tio Fr. Antonio Brandaõ o imitou igualmente nas sciencias severas, como amenas applicando-se desde os primeiros annos ao estudo da Historia principalmente do nosso Reyno em que foy taõ Versado que mereceo substituir a seu Tio no lugar de Chronista mór em que foy provido a 19. de Janeiro de 1649. cuja dificultoza incumbencia dezempenhou com igual fama do seu nome, que immortal brazaõ desta Monarchia assim na indefessa investigaçaõ como no prudente juizo com que discernio o falso do verdadeiro servindo-lhe de bases fudametaes para o edificio, que levantava, os monumentos irrefragaveis que extrahia dos Archivos, e Cartorios das Cathedraes, e Conventos deste Reyno. Foy Qualificador do Santo Officio, Examinador das Tres Ordens Militares, Esmoler mòr, e Geral duas vezes da sua authorizada Congregaçaõ; a primeira no anno de 1667. e a segunda em o anno de 1674. Falleceo no Convento de N. Senhora do Desterro desta Corte a 28. de Abril de 1680. quando contava 79. annos de idade, e 62. de Religiaõ. Joaõ Soar. de Brito Theatr. Lusit. Litter. Lit. F. n. 34. O intitula vir modestus, diligens, & eruditus Fr. Manoel da Esperanc. Hist. Seraf. da Prov. de Portug. Part. 1. liv. 4. cap. 36. n. 5. gravissimo Author. Maced. Lusit. Liberat. in Append. cap. 2. n. 21. Eruditus Doctor, & Proaem. 1. §. 1. n. 13. D. Franc. Man. Epanaf. pag. 265. que tantos eruditos testemunhos como livros tem dado do seu talento. Rodrig. Mend. Sylv. Cathal. real de Espan. p. 84. v. Uno de los eminentes sugetos de nuestro Reyno en sus historias. Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 1. pag. 214. col. 1. non minus indusrie, ac diligenter continuavit Monarchiam Lusitanam. Souza Apparat. à Hist. Genealog. da Cas. Real Portug. pag. 128. §. 148. Trata de muitas Familias na sua origem, e progressos com grande exacçaõ, e verdade por ser excellente indagador, e com muita erudiçaõ da Historia. Leytaõ Mem. Chron. da Univ. de Coimb. p. 132. §. 310. insigne, e perspicacissimo Chronista. Franckenau Bib. Hisp. Gen. Herald. pag. 61. cujus studio, ac labore lucem videre quintum sextumque Monarchiae Lusitanae volumina. Faria Fuent. de Aganip. Part. I. Cent. 3. Sonet. 52. alludindo a
ter composto a Chronica delRey D. Diniz.
Aun tiempo ama la pluma peregrina
Con que oy buela el gran Luso que escurece
La liberalidad Alexandrina.
Compoz
Discurso gratulatorio sobre o dia da felice restituiçaõ, e aclamaçaõ da Magestade delRey D. Joaõ o IV. N. S. dedicado á mesma Magestade. Lisboa por Lourenço de Anvers. Sem anno da impressaõ. 4.
Conselho, e voto da Senhora D. Filippa filha do Infante D. Pedro sobre as Terçarias, e guerras de Castella com huma breve noticia desta Princeza. Lisboa por Lourenço de Anvers. 1643. 4.
Quinta parte da Monarchia Lusitana, que contem a historia dos primeiros 23. annos del-Rey, D. Diniz. Lisboa por Paulo Craesb. 1650. fol.
Sexta parte da Monarchia Lusitana, que contem a historia dos ultimos 23. annos delRey D. Diniz. Lisboa por Joaõ da Costa 1672. fol.
Relaçaõ do Assassino intentado por Castella contra a Magestade delRey D. Joaõ o IV. impedido miraculosamente. Lisboa por Paulo Craesbeeck 1641. 4. Sahio sem o nome do Author por querer relatar com estilo claro ao povo tudo quanto succedera.
Sermaõ nas exequias que o Mosteiro de Alcobaça fez ao Infante D. Duarte no Real Convento de Santa Maria de Alcobaça em 19. de Dezembro de 1649. Lisboa na Officina Craesbeeckiana 1650. 4.
Fundaçaõ do Real Convento de Alcobaça. Desta obra se lembra na 6. parte da Monarch. Lusit. liv. 18. cap. 18. e Cardoso Agiol. Lusit. Tom. 1. pag. 124. No Cõment. de 22. de Janeiro. Letr. D. e Tom. 3 pag. 115. no Cõment. de 7. de Mayo letr. D. dizendo. ser obra de grande estudo, e credito da Ordem, e Nicol. Ant. Bib. Hisp. Tom. 2. pag. 291. col. 1.
Discurso em comprovaçaõ do juramento de D. Afonso Henriques. Desta obra faz mençaõ na 6. parte. da Mon. Lus. liv. 19. cap. 13.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]