FRANCISCO BOTELHO DE MORAES, E VASCONCELLOS. Naceo na Villa da Torre de Moncorvo e na Igreja Matriz dedicada a N. Senhora da Assumpçaõ recebeo a graça bautismal a 6. de Agosto de 1670. Ainda contava poucos annos quando passou a Madrid para assistir com seu Tio, que residia naquella Corte onde instruido em diversas artes, e sciencias em que sahio eminente pela grande viveza de engenho, e admiravel comprehençaõ de juizo, conciliou a estimaçaõ das primeiras pessoas sendo seus declarados Patronos, e beneficos Fautores o Almirante D. Joaõ Thomàs Henriquez de Cabrera, o Duque de Alva D. Antonio de Toledo, e o Duque de Arcos D. Joaquim Ponce de Leaõ, e Lancastre. O tumulto da guerra que se rompeo pela sucessaõ de Espanha, o obrigou a restituirse a Portugal, onde atendendo a Magestade de D. Joaõ o V. ao seu mereamento lhe fez mercè do Habito de Christo com huma larga pensaõ na Commenda de S. Pedro de Folgozinhos da mesma Ordem cujo despacho se fez mais estimavel com estas authorizadas palavras. Que Ssua Magestade faz a dita mercè atendendo a ter Francisco Botelho composto o Poema del Alffonso, e ser das primeiras Familias da Provincia de Tras os Montes. Nomeado em o anno de 1711. Embaxador à Curia Romana o Excellentissimo Marquez de Abrantes D. Rodrigo Annes de Sá, e Almeyda, o elegeo por seu companheiro, e em taõ grande Corte, alcançou applauzos, e estimaçoens dos mayores eruditos. Querendo a Academia dos Arcades que fosse seu Socio lhe mandaraõ pelo Secretario a nomeaçaõ de Academico, que naõ aceitou por estar neste tempo dividida taõ douta Sociedade em parcialidades dizendo ao Secretario os versos de Lucano com que os Gregos de Marretha responderaõ a Cezar. Accipe devotas externa in praelia dextras etc. A morte de seu Pay o impellio a voltar à patria para cobrar a herãça dos bens livres, que lhe tocaraõ, e depois passou a Lisboa onde se applicou a por a ultima lima ao seu Poema Heroico do Alffonso, e separallo do outro intitulado Nuevo Mundo pela confusaõ que de ambos fizeraõ alguns Impressores pois atè a fraze lhe adulteraraõ. Estas duas obras lhe deveraõ o disvelo de muitos annos principalmente o Alffonso em que se admiraõ exactamente practicados os preceitos da Epopeya, naõ somente pela elevaçaõ do metro, como pela delicadeza de conceitos, e afluencia de vozes merecendo entre o geral applauzo que tem alcãçado em toda a Europa o metrico elogio que lhe fez o Excellentissimo Conde da Ericeira na Henriqueida Canto 12. Outava 185. que modernamente sahio luz para illustar todo o Parnaso.
Lisboa lhe mostrou que coroada
Lhe abre as portas do Templo de Minerva,
Que à verdadeira Pallas consagrada
Com vestigios do Itaco conserva;
Mas a coroa, que cingio dourada
Para seu filho Antonio, entaõ reserva.
Que assim o hade cantar com plectro de ouro
Epico Cisne a que he Caistro o Douro
Naõ lhe deveo menor estudo a Poesia Latina, que a vulgar, pois naõ somente depositou na sua feliz memoria as obras de Claudiano, Lucano, Persio, Juvenal, outros Poetas desta classe, que promptamente repete quando se lhe offerece occasiaõ, mas ser fielmente imitador dos seus estylos, parecendo que nacera no seculo em que elles floreceraõ. Ao tempo prezente assiste em Salamanca augmentando o brado do seu nome com novas produçoens sem que a provecta idade de 74. annos completos lhe retarde os progressos do seu fecundo engenho. Publicou
El nuevo mundo Poema heroico Barcelona por Juan Pablo Alarti. 1701. 4. He dedicado à Magestade Catholica de Filippe V. Consta de 10. Cantos, cujo argumento he o Descubrimento das Indias Occidentaes por Christovaõ Colon. Quãdo o compoz tinha 26. annos de idade, e o publicou imperfeito prometendo sahir completo. O moderno addicionador da Bib. Occid. de Antonio de Leaõ Tom. 2. Tit. 1. col. 576. affirma que sahira impresso em Madrid. no anno de 1716. 4. Sem o ultimo complemento, e desta ediçaõ conservava hum exemplar na sua Livraria.
El Alffonso Poema Heroico. Pariz por Estevaõ Michalliet. 1712. 12. Esta impressaõ, posto que diga ser de Pariz, he de Italia. Cõsta de 12. Cantos sendo o seu argumento a Fundaçaõ da Monarchia Portugueza por seu primeiro Rey D. Affonfo Henriquez. Foy dedicado ao Excellentissimo Marquez de Fontes, depois de Abrantes Embaxador naquelle tempo em a Curia Romana à Santidade de Clemente XI. e o traduzio seu Autor em Outavas Portuguezas que naõ publicou. Sahio segunda vez. Luca por Marescondoli. 1716. 4. grande com duas columnas de Outavas em cada pagina. Desta impressaõ tenho hum exemplar que tem somente impressos 16. Cantos, e o principio do decimo setimo, o qual se naõ acabou. Terceira vez se publicou com este titulo.
El Alffonso, o la fundacion del Reyno de Portugal assegurada, y perfecta en la Conquista de Elysea. Salamanca por Antonio Joseph Villagordo 1731. 4. Nesta ediçaõ declara no frontispicio ser a primeira que sahio com beneplacito de seu Author. Ultimamente quarta vez sahio à luz publica Salamanca por Antonio Villagordo, y Alcaras 1737. 8. No fim desta impressaõ tem. Avizos Historicos del assumpto, e huma Satira Latina que reimprimio na obra seguinte.
Satyrae cum notis, et argumentis Doctoris Domini Joannis Gonzales de Dios in Salmanticensi Academia Primarij Humaniarum litterarum Magistri. Salmanticae apud Nicolaum Antonium Villagordo 1739. 4. Consta de quatro Satiras do estilo de Persio em que reprehende varios abusos.
Loa para la Comedia com que S. Magestad que Dios guarde festeja el dia del nombre de la Reina nuestra Señora. Lisboa por Antonio Pedrozo Galraõ 1709. 4.
Tres Hymni in laudem B. Joannis á Cruce nuncupati Sanctissimo Domino Clementi XI. Pontifici Optimo Maximo. Romae per Joannem Franciscum Chracas 1715. 4. grande. Saõ compostos em versos saphicos.
Gratas expressiones del Cavallero D. Francisco Botello de Moraes, y Vasconcellos al optimo Maximo Pontifice Clemente XI. en la occasion de los triumfos que por infuencia de su Santidad tuvo la Iglesia el presente año de 1716. 4. Luca por Marescandoli 1716. 4.
Historia de las Cuevas de Salamanca. Salamanca 1734. 8. sem nome do Impressor.
Panegyrico Historial Genealogico de la Familia de Sousa. Cordova por Diogo de Valverde Acisclo Cortes de Ribera. Naõ tem anno da ediçaõ, e consta de 88. Outavas sendo o principio da primeira.
Canto de Sousa la Familia augusta
Aquella en quien celebra las sagradas
Quinas el Betis hasta la adusta
Ethyopia Tetis veneranda &c.
Desta obra como de seu Author se lembra o P. D. Antonio Caetano de Sousa Apparat. à Hist. Gen. da Cas. Real. Portug. pag. 166. §. 205. dizendo ser bem conhecido pello seu admiravel engenho, e muita erudiçaõ.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]