D. FRANCISCO DE BRAGANÇA naceo na Cidade do Porto, como consta de huma sua casta escrita a 15. de Novembro de 1618. ao Senado da mesma Cidade, e foy filho de D. Fulgencio de Bragança D. Prior mòr da Real Collegiada de Guimaraens, e neto de D. Jayme IV. Duque de Bragança. Correspondeo à nobreza do nacimento a Vigilancia da educaçaõ, que lhe deu seu tio D. Theotonio de Bragança Arcebispo de Evora, e perfeito exemplar de Prèlados. Depois de instruido na lingua latina, e letras humanas passou à Universidade de Coimbra onde foy admitido a Porcionista do Real Collegio de S. Paulo a 21. de Fevereiro de 1585. e se graduou na Faculdade de Direito Pontificio. Foy Conego da Cathedral de Evora, Deputado da Inquisiçaõ de Lisboa, e da Meza da Conciencia, e Ordens, Sumilher da cortina, Dezembargador do Paço, Reformador da Universidade de Coimbra, Comissario da Bulla da Cruzada, Deputado do Conselho geral do Santo Officio, Conselheiro do Conselho de Portugal em Madrid, e do Conselho de Estado delRey Catholico, Procurador da Nobreza nas Cortes celebradas em Lisboa no anno de 1619. e ultimamente nomeado Patriarcha de Portugal, e India, que naõ chegou a efeituarse. Em todos estes lugares assim Ecclesiasticos, como politicos se admirou a sua recta intençaõ, summa prudencia, apostolica liberdade, e judiciosa resoluçaõ. A sua casa que se compunha de grande numero de criados era escola de virtudes, e Academia de sciencias mandando ensinar por Mestres peritos, a quem assistia com largos estipendios, aos seus domesticos as artes para que mais os inclinava o genio aprendendo huns letras humanas, e outros as regras da pintura, e atè aos escravos se ensinavaõ instrumentos de que era capaz a sua comprehensaõ. Para innocente occupaçaõ dos olhos mandou vir de diversas partes da Europa grande numero de aves, e animaes quadrupedes, que redusidos a hum theatro formavaõ taõ agradavel espectaculo que concorriaõ a deleitarse com a sua variedade innumeraveis naturaes, e estrangeiros. Foy dotado de ardente piedade para Deos, e seu culto mandando fazer huma Capella ornada de singulares peças de prata, e preciosos paramentos. Cultivou com taõ escrupulosa observancia a virtude da castidade, que reflectindo proceder grande parte da ruina espiritual de muitas almas das pinturas lascivas publicamente expostas mandou imprimir hum douto Tratado para se evitar taõ fatal damno, e condenar semelhante abuzo. Restituido ao Reyno buscou para os ultimos annos por domicilio a Cidade de Coimbra como centro dos melhores medicos assim da alma, como do corpo, onde acõmettido de huma grave enfermidade depois de receber os Sacramentos com grande ternura passou ao descanso eterno em o primeiro de Fevereiro de 1634. E foy sepultado junto dos degràos da Capella mòr do Collegio de Coimbra onde se lhe celebraraõ sumptuosas exequias em que recitou a Oraçaõ funebre o P. Sebastiaõ do Couto que com afectuoso disvelo lhe assistio nas ultimas horas da sua vida. Passados seis annos foy transferido o seu cadaver a 20. de Janeiro de 1641. pelo P. Fernaõ Carvalho da Companhia de JESUS do Collegio de Coimbra para a Casa Professa de S. Roque desta Corte onde jaz em a Capella do Nacimento junto da Sancristia, e sobre a campa tem o epitafio seguinte.

Aqui jaz D. Francisco de Bragança indigno Sacerdote do Conselho de Estado dos Reys deste Reyno que em sua vida escolheo, e fabricou este lugar, e Capella, e Altar, que está defronte pella muita devoçaõ que tinha à Companhia, particularmente a esta Casa. Faleceo aos 31. de Julho de 1634. Deve-se emendar em o primeiro de Fevereiro.

Fazem memoria deste grande varaõ Nicol. Agost. Relac. da vid. do Arc. D. Theoton. p. 9. vers. pessoa de cuja vida, e observancia della se pudera dizer muito Souza de Orig. Inquis. Lusit. §. 2. n. 32. Cunha Hist. Eccles. de Brag. Part. 2. cap. 106. ???. 7. D. Nicol. de Santa Mar. Chron. dos Coneg. Reg. liv. 10. cap. 15. §. 16. Franco Imag. da virtude em o Nov. de Evor. liv. 1. c. 4. § 8. & in Annal. S. J. In Lusit. pag. 264. §. 9. vir erat modestissimus ab omni alienus arrogantia, profusus in pauperes. Franc. de Santa Maria Diar. Portug. p. 142. procedeo com grande prudencia, disvelo, e generosidade. Souza Hist. Geneal. da Cas. Real Portug. Tom. 5. liv. 6. cap. 10. pag. 646. era de vida irreprehensivel, de animo pio, e heroico. Barbosa Mem. do Colleg. Real de S. Paul. p. 263. Foy dotado de huma pureza mais angelica que humana e no Archiath. Lusit. pag 75.

Aspice Franciscum augusto de sanguine Regum, Quem domus alta vago Brigantia proferet orbi Munera multa viro cupient decorarier, illum Romaná qui sceptra Dei moderatur in Arce Illustrem faciet Patriarchae nomine magno Ut Lysiis populis, pariterque ut praesit Eois,

Attamen effectum sortiri fata negabunt, &c.

Compoz

Tratado das Ceremonias da Missa. Madrid. 8.

Por sua industria sahio à luz pubica.

Copia de los pareceres, y censuras de los Reverendissimos Padres Maestros, y Señores Cathedraticos de las insignes Ciudades de Salamanca, y Alcalá y de otras personas doctas sobre el abuso de las figuras, y pinturas lascivas, deshonestas en que se muestra que es pecado mortal pintallas, y esculpillas, y tenellas patentes a donde sean vistas. Madrid. por la viuda de Alonso Martin 1632. 4.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]