Fr. FRANCISCO DA ANNUNCIAÇAM filho de Simaõ Pinto, e Agueda Rodrigues naceo em a Villa de Portel da Provincia do Alentejo, onde instruido com as primeiras letras passou a Lisboa, e no Convento de N. Senhora da Graça, quando tinha 16. annos de idade recebeo o habito de Santo Agostinho professando a 16. De Outubro de 1685. Com summa brevidade, e naõ menor subtileza penetrou os segredos da Filosofia, e os mysterios da Theologia, que pelo espaço de nove annos dictou aos seus domesticos em o Collegio de Coimbra, em cuja Universidade foy admittido ao numero dos Doutores Theologos, recebendo taõ honorifico gráo em 8. de Junho de 1698. Todo o seu disvelo era a reforma das vidas, e conversaõ das almas, entre as quaes foraõ muitas da primeira nobreza, e sublimes dignidades, que movidas da efficacia dos seus documentos preferiraõ o silencio do Claustro ao tumulto do seculo. Ainda que era Mestre consumado na Theologia Mystica, sempre sogeitou o seu entendimento ao dictame alheo, receando prudentemente de naõ cahir em algum erro patrocinado pelo amor proprio. Foy insigne Orador Academico, concorrendo para este fim a elegancia da lingua Latina, em que era muito perito, e a valentia das acçoens que animava, quanto dizia. Á sua especulaçaõ deve a doutrina do B. Egidio Columna ser explicada em o Collegio de Coimbra, sendo elle o primeiro que abrio o caminho para ser seguida pelos Mestres, que lhe succederaõ. Tendo chegado a Lisboa com a incumbencia de expedir huma Missaõ para a Congregaçaõ da India, que ordenava o Geral da Ordem Fr. Francisco Maria Querni, na qual queria ser hum destes Missionarios se naõ fosse impedido por ordem dos seus Superiores, revelou a hum discipulo do seu espirito, q estava proxima a sua morte, que succedeo no Convento da Graça a 13. de Agosto de 1720. quando contava 52. annos de idade, e 35. de Religiaõ. Foy Varaõ verdadeiramente Apostolico (como escreve Fr. Manoel de Figueiredo Flos Sanct. August. Tom. 4. pag. 143.) de oraçaõ fervorosa, e extensa; de zelo ardentissimo na reforma dos Religiosos, que procurava, criando-os no santo temor de Deos, e exercicio da Oraçaõ. Era consultado de tantas pessoas deste Reyno, que só sendo a sua penna movida por superior impulso poderia dar repostas como dava a taõ frequentes consultas com tanta luz, e com tanto acerto. Compoz

Consulta Mystico-Moral sobre o habito de certas Religiosas da Ordem de Santa Clara Urbanas. Coimbra no Real Collegio das Artes da Companhia de JESUS. 1717. 4.

Vindicias da virtude, e escarmento de viciosos nos publicos castigos de Hypocritas dados pelo Tribunal do Santo Officio. Primeira Parte. Lisboa na Officina Ferreiriana. 1725. 8.

Parte 2. Lisboa na mesma Officina. 1726. 8.

Part. 3. Lisboa na mesma Officina. 1727. 8.

Disputationes Theologicae de statu religioso, obligationibusque eidem annexis atento peculiari jure nostrae Sacrae Religionis. 4. M. S.

Philosophia ad mentem Doctoris Fundatissimi B. Aegidii Columnae. 4. 3. Tom. M. S.

Aproveitamento espiritual dirigido às Religiosas do Convento de Santa Monica de Lisboa. fol. M. S.

Cartas espirituaes. fol. M. S.

Questaõ curiosa. Que tempo deva, e possa gastar hum Sacerdote em dizer Missa para a dizer sem peccado, e com decencia? 4. M. S.

Todas estas obras M. S. se conservaõ na Livraria do Convento de N. Senhora da Graça desta Corte, como nella as vimos.

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]