IOAÕ PINTO RIBEYRO oriundo da Villa de Amarante porem natural de Lisboa como elle confessa na primeira Relaçaõ, que imprimio sendo Juiz de fora da Villa de Pinhel pag. 94. §. 84. se dá nota de mal fallado, e pouco curial a hum filho de Lisboa nacido, e criado no regaço da lingua. &c. Teve por progenitores a Manoel Pinto Ribeiro, e Helena Gomes da Sylva descendentes ambos de familias nobres. A perspicacia do engenho, que logo descubrio nos primeiros annos deu certas promessas do progresso, que havia de fazer nos estudos pois cultivando as letras humanas com disvelo, e a Iurisprudencia Civil em a Universidade de Coimbra sahio consumado na especulaçaõ das Leys Imperiaes, como na practica das maximas politicas. Pela sua infatigavel industria animada da mais zelosa fidelidade se efeituou a gloriosa Aclamaçaõ delRey D. Ioaõ o IV. persuadindo a este Principe com eficazes rezoens naõ duvidasse subir ao trono de seus Avòs violentamente ocupado pela ambiçaõ Castelhana defendendo taõ justificada acçaõ com a voz, e com a penna contra os mayores Antigonistas da nossa Coroa quando era Agente do mesmo Principe D. Ioaõ em Roma no Pontificado de Innocencio X. Depois de ter sido Iuiz de fora da Villa de Pinhel, Ponte de Lima, e outros lugares em que manifestou a sua literatura, e desinteresse foy Dezembargador do Paço Fidalgo da Caza Real, Contador mòr da Fazenda, e Guarda mòr da Torre do Tombo. Foy cazado com D. Maria da Fonceca de quem naõ teve filhos suprindo a descendencia que lhe negou a natureza com outra mais gloriosa immortalizada nos partos do seu fecundo engenho em que se admiraõ a vasta erudiçaõ das letras humanas, a profunda noticia da Historia profana, a subtil interpretaçaõ dos textos mais dificeis, e os documentos solidos da politica. Falleceo em Lisboa a 11 de Agosto de 1649. Iaz sepultado no Claustro de S. Francisco da Cidade junto à porta do Refeitorio em sepultura propria. Celebraõ o seu nome com os seguintes elogios Ioan. Soar. de Brito Theatr. Lusit. Liter. lit. 1. n. 63. Vir satis eruditus, & qui non modicam partem Lusitanae libertatis assertae sibi meritó potuit arrogare. Velasco Perfid. de Alem. liv. 2. Tit. 5. art. 8. de su eminente erudicion en las antiguidades y historias de los Reys y Reynos junta con la Jurisprudencia. Brandaõ Prolog. a 3. parte da Mon. Lusit. consumado Jurista, mui perito nas linguas. Maced. Lusit. Iiber. Proaem. 2. §. 2. n. 13. doctissimus e no Panegyr. Sobre o milagros. suces. delRey D. Ioaõ o IV. pag. 15. doctissimo. Birago Hist. di Portug. liv. 2. fol. 1 28. huomo de spirito, e sapere. D. Franc. Manoel Cart. dos AA. Portug. com tanto zelo, como erudiçaõ. Telles Chron. da Comp. de Iesus da Prov. de Portug. Part. 2. liv. 6. cap. 48. n. 4. com sua custumada erudiçaõ, e engenho. Fr. Franc. à D. Aug. Maced. Domus Sadica pag. 39. Vir eruditus, et verax. Fr. Gio: Giusep. di S. Teres. Istor. del Brasile. Part. 2. liv. 1. pag. 6. huomo di finissima intelligenza. la Clede Hist. de Portug. liv. 26. pag. mihi 405. ètoit homme d’un esprit superieur, sçavant, actif, intelligent, sage, & prudent. Menezes Portug. Restaur. Tom. 1. liv. 2. pag. 88. homem de grande talento. Souza Aparat. à Hist. Gen. da Caz. Real Portug. pag. 100. §. 101. insigne Iurisconsulto, Varaõ grande em talento, letras, e fidelidade Franckenau Bib. Hisp. Gen. Herald. pag. 236. Manoel Thomaz Fenix da Lusitania. liv. 2. Estanc. 80.

Este que vay passando com prudencia

Cauto, sabio, discreto vigilante

Leva de Apollo em si toda a sciencia

De Marte a furia com valor triunfante,

He Ioaõ Pinto Ribeiro na advertencia

Da nova Aclamaçaõ fino diamante:

E por ser de Christal mais fino espelho

Iasaõ, Bartolo, Baldo no Conselho.

Compoz.

Discurso sobre os Fidalgos, e soldados Portuguezes naõ militarem em Conquistas alheas Lisboa por Pedro Craesbeeck. 1632. 4.

Injustas successoens dos Reys de Castella, e de Leaõ, e izençaõ de Portugal. Lisboa pelo dito Impressor 1642. 4. Sahio traduzida esta obra na lingua Italiana com o seguinte Titulo.

Anatomia delli Regni di Spana nella quale si dimostra l’Origine del dominio, la dilatatione delli stati, la successione delle linee de suoi Re con la distintione della Corona di Portogallo daquelle di Leone, e di Castiglia. Lisboa por Sancio Beltrando. 1646. 4.

Elogio do muy Valeroso, e de raras virtudes D. Ioaõ de Castro illustrissimo Vicerey da India. Lisboa por Domingos Lopes Rosa. 1642. 4. Sahio mais correcto com a Vida do mesmo Heroe escrita por Jacinto Freyre de Andrade Lisboa por Antonio Isidoro da Fonceca. 1736. 4.

Usurpaçaõ, Retençaõ, e Restauraçaõ de Portugal. Lisboa por Lourenço de Anueres. 1642. 4. Sahio Vertida em Italiano. Lisbona por Sancio Beltrandi. 1646. 4.

Tres Relaçoens de alguns pontos de Direito, que se lhe ofereceraõ sendo Juiz de Fora de Pinhel. Lisboa por Lourenço de Anueres. 1643. 4.

A acçaõ de aclamar ElRey D. Ioaõ o IV. foy mais gloriosa, e digna de honra, fama, e remuneraçaõ, que a dos que a seguiraõ aclamado. Lisboa por Paulo Craesbeeck. 1644. 4.

Desengano ao parecer enganoso, que deu a ElRey de Castella Filippe IV. certo Ministro contra Portugal. Lisboa pelo dito Impressor. 1645. 4.

Preferencia das Letras às Armas. Lisboa por Paulo Crasbeeck. 1645. 4.

Á Santidade de Innocencio X expoem Portugal as cauzas de seu sentimento. Lisboa por Pedro Crasbeeck. 1646. 4.

Lustre ao Dezembargo do Paço, e as eleyçoens, e perdoens pertenças da sua Jurisdiçaõ. Lisboa por Paulo Craesbeeck. 1649. 4.

Discurso sobre os Titulos da Nobreza de Portugal, e seus Privilegios. 4. Sem lugar, anno, e nome de Impressor.

Todas estas obras (excepto o Discurso sobre os Fidalgos, e Soldados Portuguezes naõ militarem em Conquistas alheas.) sahiraõ impressas Coimbra por Iozé Antunes da Sylva. 1730. fol.

Papel em que trata do valor das Moedas chamadas Coroas. Sahio no 4. Tomo da Hist. Gen. da Caz. Real Portug. pelo Padre D. Antonio Caetano de Souza. Lisboa por Iozé Antonio da Sylva Impressor da Academia Real. 1738. 4. desde pag. 256. até 258.

Commento às Rimas de Luiz de Camoens. M. S. Estava prompto com as licenças para se imprimir. Desta obra faz memoria Fr. Antonio Brandaõ Prolog. Da 3. Part. da Mon. Lusit. Guerreiro Coroa de esforçad. Cavall. da Companh. de Iesus. Part. 2. cap. 3. Manoel de Faria, e Souza Vid. de Cam. impressa ao principio do Com. das Rim. de Cam. gran estudiante y averiguador de los quilates de ingenio, letras y espirito de nuestro Poeta. e com mais elegantes Vozes na Fuent. de Aganip. Cent. 3. Sonet. 92.

De la del gran Camoens Lirica Urania

Derrama el erudito Contrapunto.

Commentario, e Illustraçaõ as Ordenaçoens do Reyno. M. S. Conservavase em poder do insigne Iurisconsulto Manoel Alvares Pegas, e desta obra se aproveitou muito para as suas doutas composiçoens Iuridicas.

Scutum armorum Regis. M. S. Esta obra allega o referido Pegas Tom. 7. Ad Ord. Reg. pag. 257. n. 8.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]