Fr. IOAÕ PINHEYRO natural da Villa de Setuval, e filho de Iorge de Cabedo descendente da illustre familia que nesta Villa tem o seu solar, e de Thereza Pinheiro. Sendo de idade muito florente passou a França com seu Irmaõ Miguel de Cabedo de Vasconcellos no anno de 1538. por ordem de D. Gonçalo Pinheiro seu Tio materno, que depois foy Bispo de Viseu, o qual fora mandado por ElRey D. Ioaõ o III. para pacificar as controversias que se tinhaõ altercado entre a nossa Naçaõ, e a Franceza. Atrahido da exemplar observancia que pratticavaõ os religiosos Dominicos em o Convento de Tolosa recebeo nelle o habito de taõ preclara Ordem que juntamente illustrou com virtudes, e letras merecendo por estas laurearse Doutor na Universidade de Pariz, e ser convidado pela magestade de D. Ioaõ o III. para Mestre da Cadeira de Vespera em Coimbra onde edificava hum novo Atheneo de todas as Faculdades scientificas. Obedeceo prompto à insinuaçaõ do seu Principe tomando posse do magisterio a 23 de Março de 1558. onde foy hum dos mais famozos corifeos da Universidade de Coimbra, e seu Vicereytor. Naõ somente era profundo nas especulaçoens Theologicas mas muito perito em a lingua Latina que fallava com promptidaõ, escrevia com pureza. Observava, rigidamente o seu instituto acrecentando aos jejuns nelle ordenados, outros a paõ, e agua cuja abstinencia se fazia mais sensivel ao seu corpo que por ser agigantado necessitava de mais alimento. Na ultima abertura do Concilio Tridentino o mandou por seu Theologo elRey D. Sebastiaõ, e antes que chegasse a Trento reprezentou em Roma ao Summo Pastor as urgentes cauzas que impediraõ a seu Tio D. Gonçalo Pinheiro Bispo de Viseu para naõ assistir em taõ Veneravel Congresso. Desta jornada se lhe originou a infermidade que brevemente o privou da vida em Roma a 2 de Março de 1562. Foy sepultado fora da Igreja do Convento da Minerva junto da sepultura do Emminentissimo Cardial Tomaz de Vio Caetano insigne credito da Ordem dos Pregadores. Delle se lembraõ seu parente Diogo Mendes de Vasconcellos na Vida que de si escreveo na lingua Latina pag. 268, e sahio nas obras de Andre de Resende da Impressaõ de Roma. 1597. Souza Hist. de S. Domingos da Prov. de Portug. Part. 2. liv. 4. cap. 6. Lopes Cron. Gen. da Ord. de S. Domingos. Part. 3. liv. 2. cap. 3. Cardoso Agiol. Lusit. Tom. 2. p. 18. e no Comment. de 2 de Março letr. C. Carvalho Corog. Portug. Tom. 3. pag. 294. Monteiro Claustr. Dom. Tom. 1. p. 172. e Tom. 3. p. 38. e 237. Compoz

Commentaria in Sacram Scripturam. M. S. Esta obra que era doutissima, estava prompta para a impressaõ, a qual pela morte do Author se naõ publicou, e se conservava em poder de seu irmaõ Miguel de Cabedo, e depois de seus sobrinhos Iorge de Cabedo, e Gonçalo Mendes de Vasconcellos.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]