Fr. IOAÕ DA POVOA natural do lugar, que tomou por apellido situado no Bispado de Coimbra. Em a innocente idade de nove annos recebeo o habito Serafico em o Convento de Santa Christina a 25 de Dezembro de 1448. onde como outro Samuel creceo mais no espirito, que no corpo. Tanto se lhe adiantou o juizo à idade, que naõ contando mais, que desaseis annos, e meyo foy mandado pelo Vigario da Provincia de Portugal Fr. Gil de Guimaraens tratar com o Vigario Geral em Castella negocios graves, que felismente concluio em beneficio da sua Provincia. Ainda naõ tinha completos 25 annos quando por todos os Vogaes foy eleito Custodio para o Capitulo Geral, e em o que se celebrou em Bazilea concorreraõ os mais authorizados votantes para que fosse pedir a confirmaça delle ao Ministro Geral. Naõ excedendo de trinta, e sinco annos como já tivesse exercitado varias Guardianias foy Vigario Provincial setc vezes com huma perpetua alternativa, e ainda exercitara por mais tempo este lugar, se constantemente resoluto o naõ renunciara. Certificado ElRey D. Ioaõ o II. da madureza do seu juizo, e integridade da sua vida o nomeou seu Confessor cujo lugar aceitou com declaraçaõ de assistir no Paço somente quando fosse: para exercitar o ministerio para que fora eleito. Nunca recebeo da real liberalidade alguma merce considerando-se indigno de todo o genero de premio, e unicamente alcançou delRey o foro de Villa para o lugar em que nacera, cuja suplica foy promptamente difirida. Assistio à morte delRey D. Ioaõ o II. em o anno de 1495. e lhe escreveo o Testamento composto de religiosas clausulas como dictadas pelo seu espirito. Querendo ElRey D. Manoel sucessor da Coroa Portugueza, que elle continuasse em o ministerio de Confessor se escuzou com o pretexto de viver os ultimos annos retirado em algum Convento da Ordem. Entre todos elegeo o de Nossa Senhora da Conceiçaõ de Matosinhos em o Bispado do Porto onde cumulado de obras virtuosas passou a lograr o premio prometido aos Justos a 29 de Iulho de 1506. com 67 annos de idade. Passados cento, e dez annos da sua morte foraõ tresladados os seus ossos da primeira sepultura, e se lhe gravou o seguinte Epitafio.

Ossa V. P. Fr. Joannis da Povoa Serenissimi Ioannis Secundi Portugalliae

Regis Confessarii subter hunc deposita sunt lapidem. Septies in hujus Provinciae Provincialem electus est, noviesque ad diversa Generalia Capitula pedes perrexit. Obiit anno 1506. cum maxima sanctitatis fama.

He intitulado por Garcia de Resend. Chron. delRey. D. Ioaõ o II. cap. 207. homem muito virtuoso, e de santa vida. D. Agostinho Manoel Vid. delRey D. Ioaõ o II. liv. 6. p. 330. Varon de rara virtud, santissimas custumbres, notable exemplo, y humildad. Fr. Manoel da Esperanc. Hist. Seraf. da Prov. de Portug. Part. 2. liv.10. cap. 46. A mais forte coluna, que sustentou neste Reyno o nosso Estado da Regular observancia. Souza Hist. Gen. da Caz. Real Portug. Tom. 3. pag. 137. e no Agiolog. Lusit. Tom. 4. Pag. 347. Varaõ Apostolico em quem o zelo da observancia da Religiaõ, e o amor da santa pobreza foy herdado do abrazado espirito de seu Serafico Patriarcha Compoz.

Cathalogo dos Vigarios Provinciaes que lhe precederaõ. M. S.

Desta obra faz memoria o Padre Fr. Manoel da Esperança no lugar assima allegado cap. 38. n. 3.

Memorias da Provincia da Observancia. Desta obra, a que seu author dava o titulo de Inventarios, que fazia de cada Convento, e depositava nos seus Archivos, extrahiraõ os Chronistas Esperança, e Soledade as noticias para formar as 4. Partes da Historia Serafica, que escreveraõ. Destas memorias faz repetida mençaõ Cardozo Agiol. Lusit. Tom. 1. pag. 113. no Comment. de 13. de Janeiro letr. B. diligente Escritor das memoraveis cousas da Observancia até seu tempo cujos escritos se conservaõ nos archivos da Ordem, e se lhe deve muito credito por ser chegado àquelle seculo, e dos mais celebres Varoens em virtude delle. e no Tom. 3. pag. 302. no Comment. de 17 de Mayo, e pag. 506. no Comment. de 2 de Iunho letr. D. e Fr. Ioan. a D. Ant. Bib. Francisc. Tom. 2. pag. 206. col. 2.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]