IOAÕ SOARES DE BRITO. Naceo em o lugar de Matozinhos situado em a Comarca da Maya do Bispado do Porto a 21 de Fevereiro de 1611. sendo filho de Ioaõ Monteiro Leaõ, e Beatriz de Brito Soares. Aprendeo os rudimentos gramaticaes em a Cidade do Porto de que teve por Mestre a Ioaõ Nunes Freyre insigne professor de letras humanas de quem se fez memoria em seu lugar, e Rhetorica em o Collegio de S. Paulo de Braga dos Padres Iesuitas em cujos escudos fez grandes progressos a viveza do seu engenho, naõ sendo menores quando ouvio revelados os mysterios da Theologia Escholastica por D. Andre de Almada em a Universidade de Coimbra, e na de Salamanca por Fr. Francisco de Araujo da Ordem dos Pregadores, Fr. Angelo Manrique Mercenario, Fr. Pedro Hurtado de Mendoça, Agostinho, e o Padre Ioaõ Martins Ripalda famosos oraculos daquella sublime Faculdade sahindo taõ profundamente instruido nas suas mayores dificuldades que depois de ter dictado Filosofia natural na Universidade de Salamanca recebeo o grao de Doutor Theologo em a de Evora, e Coimbra. Querendo mostrarse agradecido Ioaõ Rodrigues de Sá Camareiro mòr delRey D. Ioaõ o IV. á doutrina que delle recebera assim nas letras humanas, como nas especulaçoens Filosoficas o nomeou Abbade da Igreja de S. Miguel de Rebordosa em o Conselho de Aguiar de Souza do Bispado do Porto donde passou para a de S. Tiago Dantas, que está em o Iulgado de Vermoim termo de Guimaraens do Arcebispado de Braga ambas do seu Padroado, e dotadas de copiosa renda que dispendia compassivo com os pobres. Falleceo com eterna saudade das suas ovelhas em o anno de 1664. Foy muito perito na lingua Latina que escreveo com pureza, e fallou com promptidaõ. Da Iurisprudencia Canonica teve profunda intelligencia como mostrou quando era Dezembargador da Relaçaõ Ecclesiastica de Braga. Na Poesia vulgar se distinguio dos seus mayores alumnos, como na liçaõ da Historia Sagrada, e profana por cujos dotes mereceo os elogios de insignes pennas. Ieronimo Genuin. Neapolitano Academico Ocioso lib. 4. Metamorph. Sagro dotor tu sei, e senza pare, e huomo ben isigne Barthol. Portolletus Epist. ad Melchior. da Graça Suarezianum scriptum legi: papae quàm acre! vividum! quàm Cornelianum calamum sapit! Mihi in viscera penetravit, si sic omnia nihil suis Latium debet. D. Franc. Manoel Cart. dos AA. Portug. Vicente de Gusmaõ Soares Lusit. Restaurad. Cant. 5. Estanc. 3.

Em quanto aos annaes vossos chama o Fado

Da vossa immortal gloria cuidadoso

A erudiçaõ de Brito que na Historia

Divulgue em alto estilo vossa gloria.

Fr. Ieronimo Vahia Monge Benedictino na obra intitulada Armas de Theodozio.

Testemunha será o graõ talento

Do mundo admiraçaõ do Lessa gloria

Do Lessa rio já do esquecimento

Hoje por elle rio da memoria.

O excelso Brito singular portento

Que de calumnias mil lhe deu Vitoria

Ornando para assombro do Universo

Com a prosa milhor, o milhor Verso.

Compoz

Apologia em que defende a Poezia do Principe dos Poetas de Espanha Luiz de Camoens. No Canto 4. da Estanc. 67 e 75. e Cant. 2. Estanc. 21 e responde às Censuras de hum Critico destes tempos. Lisboa por Lourenço de Anvers. 1641. 4. Dedicada a Ioaõ Rodrigues de Sà, e Menezes Camareiro mòr delRey, e Conde de Penaguiaõ.

Ius, & justum de Regni Lusitani sucessione. Ulyssipone apud Paulum Craesbeeck. 1641. fol. & Lugduni Batavorum 1641. em a Republica Portugalliae a pag. 380. He hum Manifesto sobre o Direito da Aclamaçaõ delRey D. Ioaõ o IV. Sahio sem o seu nome.

Nemesis, sive recriminatio in Lacessentem. Cosmopoli. 1644. 4. sem o seu nome. He huma rigida invectiva contra o livro Lusitaniae Captivitas &c. composto por Gaspar Pinto Correa do qual se fez memoria em seu lugar.

Theatrum Lusitaniae, Litteratum, sive Bibliotheca Scriptorum omnium Lusitanorum fol. Esta obra composta em o anno de 1645. a mandou seu Author em o anno seguinte para se imprimir em Pariz, e naõ tendo efeito esta determinaçaõ se conserva o Original na Bibliotheca delRey Christianissimo donde mandou extrahir huma Copia o Excellentissimo Visconde de Villa Nova de Cerveira Thomaz Tellez da Sylva quando assistio naquella Corte, a qual benevolamente me comunicou, e della extrahi algumas noticias, que vaõ insertas nesta Bibliotheca. Consta de 876. Escritores seguindo seu Author, como afirma, o estilo do Cardial Bellarmino de Scriptoribus Ecclesasticis. He allegada muitas vezes por Fr. Iacobo Echard. Script. Ord. Praedicat. Parisiis 1719. e 1721. fol. 2. Tom. No prologo escreve, que meditava publicar huma obra intitulada Portugal dividido em sinco Theatros; Corografico, Politico, Litterario, Militar, e Religioso; e fallando particularmente do Litterario diz Omnes igitur Lusitaniae Scriptores, Operaque ipsorum, et quidquid de viris clarissimis cognoscere fas est, huc usque nec indeligenter, nec incuriose quaesivimus, at multa nos fugisse ingenue fatemur, nam tamet si plures, qui Lusitaniam scriptis eruditissimis illustrarunt omnino cognoscamus, multorum tamen aetas, Patria, vitae institutum, scriptorumque numerus, ac series ignoratur, & id genus alia ad exactam, perfectamque notitiam necessaria.

Dissertatio apologetica de visone Dei per potentiam materialem. 4. M. S. Estava revista, e aprovada por grandes Theologos, e prompta para a impressaõ.

Allegaçaõ historico-juridica em huma cauza de frutos da sua Igreja de S. Tiago Dantas escrita em 1664. fol. Conserva-se huma Copia na Livraria do Excellentissimo Duque de Lafoens, que foy do Emminentissimo Cardial de Souza, e outra em a Livraria do Conde de Redondo.

El Poliphemo enano. Examen politico del Poliphemo de D. Luiz de Gongora, M. S. com o affectado nome de Thomaz Tribissano de Urrea.

 

iBibliotheca Lusitana, vol. II]