D. IOAÕ TASSIS, E PERALTA II. Conde de Villamediana Cavalleiro da Ordem de S. Tiago, Correyo mòr de Castella ainda que por origem Castelhano admitido á Bibliotheca Lusitana por haver nacido em Lisboa no anno de 1580. (como afirma Alonso Lopes de Haro Nob. Geneal. de Espan. Part. 2. liv. 6. pag. 29) na ocasiaõ que seus Pays D. Ioaõ de Tassis primeiro Conde de Villamediana, e D. Maria de Peralta Munátones filha de D. Antonio de Peralta Munátones Cavalleiro da Ordem de S. Tiago, Commendador de Carricosa, e de D. Casilda de Munátones acompanharaõ a Magestade de Filipe II. a Portugal para se coroar Soberano desta Monarchia. Foy ornado o seu espirito de todos aquelles dotes, que servem de ornato ás pessoas da primeira Ierarchia sendo generoso, afavel, discreto, galhardo, e valente. Iogava as armas com destreza, mandava os cavallos com arte, perseguia as feras no corro, e na Cassa com valor, e agilidade. Bebeo com tanta afluencia das correntes da Caballina que foy reconhecido por Principe da Poezia Lyrica entre os mayores Corifeos do Parnasso Castelhano merecendo pela discreta elevaçaõ da sua Musa os aplauzos dos eruditos de Napoles quando assistio neste Reyno empenhados em celebrar a perspicacia do seu talento, que se fazia mais estimavel pela afabilidade do seu genio. Sendo digno de vida prolongada a perdeu infaustamente quando contava 44 annos de idade ferido por impulso soberano de huma bala em o peito a 10 de Setembro de 1622. Logo que recebeo o golpe sahio intrepidamente do coche, e tirando pela espada disse esto es hecho, e cahio morto. Iaz sepultado na Capela mòr do Convento de Santo Agostinho de Valhadolid do qual he padroeira a sua Caza. Para epitafio deste Cavalhero escreveo a seguinte Decima o Conde de Salinas.

Fatigado peregrino;

Nido breve, urna funesta

Es la que contemplas esta

Decretada del Destino.

Yaze aqui un Cisne divino;

Llega, y lastimoso advierte

En tan desastrada suerte,

Que con la violenta herida

Como cantò tanto en vida,

Nó pudo cantar en muerte.

Foy cazado com D. Anna de Mendoça, e Lacerda filha de D. Henrique de Mendoça, e Aragaõ irmaõ legitimo do quinto Duque do Infantado, e de D. Anna de Lacerda Marqueza que fora de Canhete, e depois de Atela filha de D. Fernando de Lacerda irmaõ legitimo do Duque de Medina Celi. Celebraõ a sua memoria eruditas pennas como saõ Lourenço Gracian Art. de Ingen. chamandolhe Ingenioso, e Disc. 16. Iuntò el sentencioso con lo critico de Villamediana què fuè el unico de nuestros tiempos en lo picante. D. Luiz de Gongora Sonet. 4. Começa.

En vez de las Heliades agora Acaba alludindo a ser o Conde Correyo mòr de Castella.

Ó Mercurio del Iupiter de España.

Em outro Soneto o louva acabando

Ó Esplendor generoso de Señores. Nicu1. Ant. Bib. Hisp. Tom. 2. p. 602. c. 2. ingenio, animi magnitudine, omnibusque aliis dotibus, quae aulicum, ac nobilem virum decent, clarissimus, Poeta non vulgaris venae. o Doutor Francisco de Caldas Pereira Respons. pro D. D. Ioanna de Tassis. Ulyssip. 1588. resolve que ainda que he filho de Pays Castelhanos por ser concebido, e nacido em Lisboa he natural deste Reyno, e capaz das merces que se fazem aos naturaes. Spener. Opus Heraldic. Part. 1. lib. 3. cap. 37. Faria Fuente de Aganip. Part. 1. no Prologo. §. 11. Sahiraõ posthumas.

Obras del Conde de Villamediana. Alcala 1629. 4. & ibi 1634. Madrid. 1635. 4. Barcelona 1648. 8.

Obras poeticas 2.Tomo. M. S. Conservase na Livraria de Excellentissimo Duque de Lafoens que foy do Ernminentissimo Cardial de Souza.

 

[Bibliotheca Lusitana, vol. II]