IORGE DA CAMARA natural da Cidade do Porto filho de Martim Gonzalves da Camara Commendador de S. Christovaõ da Nogueira da Ordem de Christo, e de sua segunda mulher D. Brites Manoel. Professando a vida Ecclesiastica nunca ocupou lugar devido ao seu nacimento. Foy muito perito na arte da Pintura dibuxando com singular primor, e muito versado na intelligencia das linguas Italiana, e Espanhola, que fallava com pureza, e expediçaõ. Desde os primeiros annos se criou no gremio das Musas alcançando pelos termos joviaes, e satyricos com que metrificava, a antonomasia de Marcial Portuguez. Teve agradavel aspecto, natural graça na conversaçaõ, e summa promptidaõ nas repostas que foraõ respeitadas como apothemas. Ao tempo que preparava as suas obras poeticas para a impressaõ o arrebatou improvisamente a morte a 31 de Iulho de 1649. Na Carta que Francisco Luiz de Vasconcellos bisneto de D. Antonio de Atayde I. Conde da Castanheira escreveo a D. Antonio Alvares da Cunha lhe dedica este metrico elogio.
Nosso Amigo fiel Camara illustre
Ribeiras ja do Tejo caminhando
O Douro vay buscando
O Douro que bramando crespo, e ronco
Por ver do seu alumno mais querido
O Tejo enrequicido
Pàra seu curso quando mais furioso;
Entra o mar temerario.
Emulo mais do mar, que tributario
E sem poder dissimularse amante
O seu Camara chama
Naõ da corrente a voz, do peito a chama.
Ioan. Soares de Brito Theatr. Lusit. Liter. lit. G. n. 36. Ingenio acuso, musa facili, sed poetica. D. Franc. Man. Cart. dos AA. Portug. Marcial Portuguez.
Compoz
Poesias Varias. 1640. 4. M. S.
Fabulas de Ovidio traduzidas em Outavas, e Sylvas Castelhanas em estilo jocoso. 4. M. S. Ambos estes tomos se conservaõ na Livraria do Excellentissimo Marquez de Abrantes.
Sylva em aplauso do Doutor Domingos Pereira Bracamonte Sahio no Banquete de Apollo deste author a pag. 42. Começa
Huy Senhor Bracamonte
Vos quereis pòr comigo a barca em monte?
E na pag. 122. Romance que principia.
Nò dexeis los libros nó
Señor Licenciado Ortiz.
[Bibliotheca Lusitana, vol. II]